A EZTec começou 2018 com o plano de cumprir sua meta de lançar de R$ 500 milhões a R$ 1 bilhão apenas com apresentação de projetos na capital paulista, depois de passar cinco anos dando prioridade às cidades do entorno. Mas a companhia pode ter de mudar a estratégia para atingir a projeção devido à suspensão por liminar do direito de que projetos protocolados antes de a nova Lei de Zoneamento da cidade ter entrado em vigor seguissem as regras anteriores.
Se a situação não for revertida, boa parte dos lançamentos que estavam previstos para a capital podem ser substituídos por R$ 700 milhões em projetos aprovados na Grande São Paulo, além da compra de fatias em empreendimentos já com licenças. "Íamos voltar, fortemente, para o mercado de São Paulo", diz o fundador da EZTec e presidente do conselho de administração, Ernesto Zarzur. Os lançamentos se concentrariam nos padrões médio-alto e alto e ficariam próximos a R$ 1 bilhão.
Do banco de terrenos da incorporadora, 76% está na cidade de São Paulo e, dessa fatia, 80% foi protocolado antes da nova Lei de Zoneamento. Neste ano, a companhia lançou um empreendimento, no bairro paulistano Moema, com Valor Geral de Vendas (VGV) de R$ 105,5 milhões. Havia previsão de apresentar, em março, lançamento para as rendas média-alta e alta no Tatuapé, com VGV de R$ 110 milhões, o que dificilmente será possível, devido à liminar.
Em 2017, a incorporadora concentrou a aquisição de terrenos na cidade de São Paulo - 12 áreas no total -, com desembolso de R$ 200 milhões. Nos últimos anos, a companhia havia optado, principalmente, por desenvolver projetos em terrenos de cidades do entorno localizados próximos aos limites da capital. Como a maior parte dos estoques da companhia acabou se concentrando nesses mercados, a EZTec decidiu voltar o foco para São Paulo.
Apesar da frustração diante dos impactos da liminar que suspende o direito de protocolo, Zarzur diz estar muito otimista em relação ao setor. No último fim de semana, a EZTec vendeu R$ 30 milhões, principalmente de estoques. Na mesma época, em 2015, 2016 e 2017, a comercialização era de metade desse valor. "O mercado está comprador. Os clientes vão comprar o que tiver disponível e ficar na expectativa do que virá", diz o fundador da EZTec. "Mas a suspensão não pode permanecer por muito tempo. É um impasse terrível em um momento em que o mercado começa a andar", acrescenta.
Segundo Zarzur, a companhia está disposta a liberar mais recursos para financiamento direto a clientes. O valor de financiamento direto somava R$ 405 milhões no fim de 2017. O financiamento direto tende a crescer de R$ 100 milhões a R$ 150 milhões por ano.
A companhia tem expectativa de gerar caixa em 2018 e destinar os recursos para investimentos em novos negócios - compra de terrenos, lançamentos e aquisição de participações em projetos. No ano passado, a EZTec gerou caixa de R$ 736 milhões. No quarto trimestre, houve consumo de caixa de R$ 67,1 milhões, em decorrência da concentração do pagamento de terrenos e de fatias em projetos.
De junho de 2007, quando abriu capital, até dezembro de 2017, a EZTec distribuiu R$ 1,36 bilhão de dividendos, o equivalente a 250% do que foi captado na oferta inicial de ações (IPO). A distribuição de mais R$ 85,22 milhões em dividendos será submetida a aprovação em assembleia no fim de abril. "Desde o IPO, vivemos um ciclo de alta e um de baixa e tivemos lucro líquido acumulado de R$ 3,31 bilhões", diz o diretor financeiro e de relações com investidores, Emílio Fugazza, ressaltando novo ciclo está começando.
O lucro líquido da EZTec caiu 63% no quarto trimestre, na comparação anual, para R$ 25,288 milhões. A receita líquida teve queda de 43%, para R$ 85,72 milhões. A margem bruta passou de 53,6%, no quarto trimestre de 2016, para 28,9%. O indicador piorou devido aos distratos e ao volume menor de obras em execução, que resultou em menos reconhecimento de receita.