Em fevereiro, Luan Lucas Schernikau se mudou, na companhia da noiva, para morar no apartamento que recém tinha ficado pronto. As obras do prédio localizado no Salto Weissbach, em Blumenau, foram concluídas em dezembro, mas o casal, que está com casamento marcado para o mês que vem, já havia começado a pagar as parcelas da entrada, com a construtura, há um ano e meio. Os outros 80% que restavam dos R$ 175 mil do imóvel de dois quartos foram financiados pela Caixa Econômica Federal em 30 anos. Na avaliação de economistas e representantes do setor da construção civil em Santa Catarina, o jovem de 24 anos, que trabalha no ramo de seguros, fez a escolha certa em comprar um imóvel agora.
Isso porque pelos próximos meses, até meados de 2019, as construtoras vão ofertar estoque remanescente do período de retração vivido pelo setor nos últimos cinco anos. Somado a isso, as melhores condições de financiamento habitacional com maior margem de parcelamento e juros mais baixos tornarão os imóveis usados competitivos em meio aos novos lançamentos. Assim, se a melhora do emprego seguir, movimentando todos os setores da economia, em breve o catarinense que hoje se vê em meio a muita oferta e pouca demanda, viverá o contrário.
— O período de maturação para um lançamento é demorado e, se for olhar, ainda estamos em crise. A contração do setor imobiliário começou há uns cinco anos, mas durante esse período os projetos que estavam em andamento foram sendo tocados e agora esses estoques estão sendo comercializados. Mas, em contrapartida, um prédio pode levar uma média de quatro a cinco anos para ser construído. Então, haverá um lapso — projeta o presidente do Sinduscon da Grande Florianópolis, Helio Bairros.
Aprovação de licenças caiu 23,2% até abril - Os números do primeiro quadrimestre deste ano em comparação com o mesmo período de 2017 também reforçam a projeção dos especialistas. Conforme dados levantados pela Associação dos Sindicatos da Construção Civil de SC (Asic-SC), a liberação de alvarás para edificação de moradias comuns denominadas unifamiliar e multifamiliar caiu 23,2% e 8,4%, respectivamente.
No mesmo período, houve aumento de 2,3% na liberação de construções comerciais. Conforme o sindicato, levando em consideração todos os tipos de construção, os quatro primeiros meses de 2018 fecharam com queda de 5% em comparação com 2017.
Em contrapartida, a receita de vendas em SC já soma R$ 144 milhões no primeiro trimestre. Na avaliação de Marco Aurélio Alberton, presidente da Asic-SC, deve acompanhar a projeção de crescimento nacional de 3,3%. Ele pondera que, independente do total, o valor é positivo, pois se compara com um cenário de queda.
— Devagar a confiança dos empresários está reaquecendo. Esse cenário leva a crer em uma mudança positiva, no início da retomada do setor. Não vai ser disparado, mas gradual, que também deve atrair o público interno, que agora passou a contar com valores reduzidos e favorecimento de novas taxas de juros — conclui Alberton.
Itajaí fechou 2017 com maior índice de valorização no Litoral do Estado - Entre as principais cidades do litoral de SC, Itajaí foi a que fechou 2017 com o maior índice de valorização dos imóveis (5,53%), conforme estudo anual feito pelo Sindicato da Habitação (Secovi). Em seguida, aparecem Itapema e Balneário Camboriú, com valorização de 4,91% e 4,28%, respectivamente. No período, a inflação ficou em 2,95% no país. Entre as cidades litorâneas analisadas, Camboriú foi a única que fechou abaixo da inflação: 2,25%.
Itajaí também lidera quando o assunto é ganho real para os vendedores e, no comparativo com a inflação, teve os imóveis valorizados acima da média, resultando em 2,58%. Já Itapema e Balneário Camboriú vêm em segundo e terceiro lugares com ganho real no ano de 1,96% e 1,33%, respectivamente. Por fim, Camboriú foi a única que teve pequena redução no ganho real e fechou o ano em 0,7%, mas ainda mantendo um equilíbrio com o mercado, conforme análise do Secovi.
— O mercado não está ruim, mas também não podemos falar que ele está bom. Ainda faltam investimentos na área de infraestrutura. Santa Catarina é um estado que cresceu muito em alguns setores, mas não avançou, por exemplo, nos investimentos em rodovias e logística. E hoje tudo é muito sazonal — pondera o presidente do sindicato, Sergio Luiz dos Santos.
Mercado do litoral é diferenciado - Para Nelson Nitz, presidente do Sinduscon em Balneário Camboriú, o mercado imobiliário do litoral é diferenciado do restante do Estado, principalmente por conta do público mais amplo e diferenciado. Nitz pontua que nessa região, por exemplo, alterações na política de financiamento habitacional não chegam a causar grande impacto.
— O que existe aqui é financiamento das próprias construturas, que trabalham com as instituições bancárias, bancos privados e vendem os recebíveis após a entrega do prédio. Aí, o que tem de recebíveis eles fazem negócio com o banco. É um pouco diferente do crédito imobiliário — explica.
Mudança nas condições de financiamento favorece a compra - A possibilidade de poder voltar a comprar imóveis usados com financiamento de até 70% do valor com taxa mínima de juros de 9% – novidade anunciada pela Caixa Econômica Federal na metade de abril, seguida por outros bancos – deve impulsionar o mercado imobiliário em Santa Catarina, analisa o economista e mestre em
Administração Gustavo Lima Soares. A projeção se dá por conta de uma série de fatores, entre eles a chance de o comprador poder negociar com as construtoras no caso da aquisição de um imóvel novo, que nesse cenário passa a competir com os usados.
— É o poder de barganha. Como eu, que comprei um imóvel há uns anos atrás com uma taxa de juros bem mais alta do que agora. Se eu imaginasse que hoje ela estaria mais baixa, não teria comprado, até porque a dívida ficaria muito menor. Em financiamentos de 35 ou 40 anos, nos primeiros 10 a pessoa só paga os juros — contextualiza Soares.
As mudanças anunciadas pela Caixa em abril criaram um efeito cascata nos bancos privados, conforme já havia projetado Soares. No começo desta semana Itaú, Banco do Brasil, Bradesco e Santander já estavam praticando novas taxas nos juros dos financiamentos habitacionais. Exceto o Itaú, que pratica juros de 9% ao ano para a modalidade do sistema financeiro de habitação – como a Caixa –, os demais bancos oferecem taxas abaixo dos 9%.
O economista explica que essa movimentação já era esperada, principalmente porque, com as condições mais vantajosas oferecidas pela Caixa, como a possibilidade de usar o FGTS como parte da entrada da compra do imóvel, a tendência era uma migração dos clientes dos bancos privados.
Por fim, Soares relembra velhas dicas, como não comprometer muito do orçamento familiar para a compra de imóvel, ainda mais se a família está quitando outras dívidas. Soares ressalta que, se o dinheiro estiver disponível, é sempre bom investir na compra da casa própria, que apesar de o retorno ser menor que em outras formas de investimento, a operação ainda é uma das mais seguras.
Taxa Referencial - A taxa referencial (TR) surgiu para tentar controlar a inflação no início da década de 1990 e é usada para corrigir diariamente valores de investimentos como caderneta de poupança, FGTS, títulos públicos e alguns financiamentos imobiliários. Nos três primeiros meses deste ano, a TR foi de 0%.