(Folha de Londrina – Economia – 21/08/2019)
A Caixa Econômica Federal lançou, nesta terça-feira (20), uma linha de crédito imobiliário corrigida pelo IPCA, índice oficial de preços, com o argumento de que o novo financiamento vai reduzir os juros para compra da casa própria - embora o indicador seja considerado mais instável que a TR (Taxa Referencial), usada hoje.
As taxas valem para novos contratos e já estarão vigentes a partir da próxima segunda-feira (26). O anúncio foi feito em cerimônia no Palácio do Planalto que contou com a presença de ministros do presidente Jair Bolsonaro (PSL).
Segundo a Caixa, o saldo devedor será atualizado pelo IPCA, a exemplo do que ocorre com a TR, hoje zerada. As mudanças valem para o SFH (Sistema Financeiro de Habitação), para imóveis até R$ 1,5 milhão e que permitem o uso do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), e para o SFI (Sistema Financeiro Imobiliário), para aqueles acima desse valor e sem a possibilidade de uso do Fundo.
A taxa mínima da nova linha, oferecida a clientes do setor público e com melhor perfil de risco, será de IPCA + 2,95% ao ano. Para o setor privado, a taxa parte de 3,25% ao ano mais IPCA. Nos dois casos, a taxa máxima ficará em IPCA + 4,95% ao ano -oferecida a quem não tem relacionamento com o banco.
Hoje, o banco, que detém mais de 70% do crédito habitacional do País, cobra juros de 8,5% a 9,75% ao ano mais TR nas principais linhas de crédito imobiliário - no programa Minha Casa, Minha Vida, os juros são menores.
O presidente da Caixa, Pedro Guimarães, elogiou o modelo adotado pelo banco para financiamento. "Nós acreditamos que esse passo de oferecer uma linha de crédito imobiliário corrigido por um índice de preços é o futuro", disse.
Imposição - Durante o evento, Bolsonaro elogiou a iniciativa da Caixa e disse que outros bancos devem seguir o caminho de redução de juros. "Tem uma iniciativa aqui que não vai ser uma imposição. Ou eles [demais bancos] vêm atrás ou o número de clientes da Caixa, que está em 100 milhões, vai aumentar e muito. O anunciado agora aqui, traduzindo no meu linguajar de não entender de economia, acho que quem entendia afundou o Brasil, né?", brincou o presidente.
Bolsonaro, que costuma dizer que não entende de economia, se disse à vontade em discursar depois das falas de Guimarães e do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, por estar usando um crachá da Caixa, que ganhou do presidente do banco público.
Os contratos poderão ter prazo de até 360 meses, na tabela SAC - em que prestações diminuem com o tempo -, e valor máximo financiado de 80%. Para obter o financiamento, o cliente só poderá ter, no máximo, 20% de renda comprometida - hoje, o percentual é de 30%. Ou seja, a nova linha será oferecida a quem tem mais folga no orçamento e, portanto, risco menor de dar calote.
Na tabela Price, em que a amortização do principal é menor e a prestação tem valor fixo, o comprometimento de renda permitido é ainda menor: 15%.
Para especialistas, a oscilação do IPCA pode tornar o financiamento mais arriscado e caro ao cliente, principalmente pelo longo prazo do crédito - o contrato pode ter duração de 30 anos. O IPCA é mais agressivo, respondendo mais rapidamente a alguma turbulência econômica. A TR é menos instável e hoje está zerada. O saldo devedor, portanto, não sofre correção na prática.
A mudança foi aprovada em reunião do CMN (Conselho Monetário Nacional) realizada na última semana. Com a nova linha de crédito, a Caixa quer emprestar mais, ancorando-se na possibilidade de empacotar esse crédito e vendê-lo a investidores - que vão avaliar se vale correr o risco de inadimplência de clientes, em vez de optar pela segurança de um título público que, hoje, remunera IPCA mais 3% ao ano, em média.