(Valor Econômico – Economia – 28/12/2020)
Chiara Quintão
O setor de materiais de construção chega ao fim de 2020 com crescimento expressivo, conforme fabricantes ouvidas pelo Valor, principalmente quando se considera as oscilações de demanda, ao longo do ano, devido à pandemia de covid-19. Com a retração do mercado nos primeiros meses da pandemia, várias indústrias chegaram a paralisar, totalmente ou parcialmente, a produção. Mas, a partir de meados do ano, precisaram elevar o uso de suas capacidades diante do forte aumento dos pedidos por parte do varejo de materiais.
O fim do auxílio emergencial, que foi, em 2020, o principal impulso para o varejo e, consequentemente, para a indústria de materiais poderá significar expansão mais modesta do setor em 2021. Por outro lado, há expectativa de continuidade da valorização dos produtos para residências, além de mais demanda por construtoras para obras residenciais.
A Lorenzetti faturou o recorde de R$ 1,82 bilhão, em 2020, com crescimento de 22,5%. A expansão ficou muito acima dos 10% projetados antes da pandemia, e o faturamento aumentou em todas as unidades de negócios. “Foi um ano de superação”, afirma o vice-presidente, Eduardo Coli. As entregas da Lorenzetti em São Paulo costumavam ter prazo de quatro dias, mas chegaram a levar dez dias no período de maior demanda. Atualmente, a média está em torno de cinco dias e meio, segundo Coli.
A Vedacit vai fechar 2020 com receita bruta recorde de R$ 550 milhões, ou seja, crescimento de 10%. Antes da pandemia, a empresa projetava alta de 15%. Com a disseminação do coronavírus, a Vedacit considerou que, em um cenário pessimista, poderia registrar queda de 4%, mas houve expansão das vendas desde o meio do ano. “Tivemos um segundo semestre melhor do que imaginávamos”, diz o presidente, Marcos Bicudo.
Para 2021, a Vedacit projeta crescimento de 23%. Segundo Bicudo, a empresa tentará recuperar parte do que deixou de se expandir em 2020. O executivo espera que o fim do auxílio-emergencial seja mitigado por demanda de materiais para obras residenciais e, a partir do segundo semestre, para investimentos industriais. O marco regulatório do saneamento também contribuirá para aquecer a demanda. A empresa pretende elevar a fatia de suas vendas para construtoras de 25% para 30%.
A Wavin (ex-Mexichem Brasil) vai terminar o ano com faturamento 5% superior ao de 2019. No início de 2020, a empresa tinha a meta de crescer quatro vezes mais do que o mercado de materiais. Com a retração das vendas para o varejo nos primeiros meses da pandemia, estimou que iria manter o faturamento de 2019.
Segundo Daniel Neves, diretor-geral da Wavin no país, a partir de meados do ano, as vendas de produtos mais populares do grupo começou a crescer. Já entre agosto e outubro, houve aumento da comercialização de itens tradicionais. O grupo espera expansão de dos dígitos em 2021. A expectativa se baseia, de acordo com Neves, no aquecimento do mercado imobiliário, na mudança da relação das pessoas com a casa e no marco regulatório do saneamento.
O grupo Saint-Gobain projeta encerrar 2020 com crescimento de 12%. Para atender à demanda dos clientes, está operando com a capacidade máxima das 87 fábricas no país. Neste ano, a Saint-Gobain anunciou a antecipação de investimentos na construção de fábrica de telhas de fibrocimento e de duas unidades da Quartzolit. O grupo vai investir também em novas linhas da Mineração Jundu.
No segmento de cimento, a alta projetada para as vendas deste ano é de 9,5% a 10%, de acordo com o Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC). Em entrevista recente ao Valor, o presidente do SNIC, Paulo Camillo Penna, evitou fazer projeções para 2021, considerando-se fatores como as incertezas em relação à economia e os impactos do fim do auxílio-emergencial na autoconstrução.
Oficialmente, a Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat) e a Fundação Getulio Vargas (FGV) mantém a expectativa de queda real de 2,8% no faturamento do setor neste ano. Rodrigo Navarro, presidente da Abramat, considera que a queda deve ficar mais próxima de 1%, considerando-se que a maior parte dos segmentos conseguiu se recuperar. “Com falta de matérias-primas e aumentos de custos, talvez nem todos os setores da indústria tenham entregado tudo o que gostariam”, diz Navarro. A estimativa preliminar para 2021 é de crescimento de 3,5% a 4%.