(Folha de S.Paulo – Economia – 28/01/2021)
Os financiamentos imobiliários com recursos da poupança bateram uma sequência de recordes em 2020, o ano da pandemia de Covid-19, e levam o setor a apostar em um crescimento na faixa de 20% neste ano.
Em dezembro, a concessão de R$ 17,5 bilhões representou o maior volume nominal mensal desde o lançamento do Plano Real em julho de 1994. As 55,9 mil unidades financiadas também foram um recorde mensal, e marcaram um crescimento 76,6% ante o mesmo período do ano anterior.
Na comparação com dezembro de 2019, o valor financiado dobrou, segundo balanço divulgado nesta quarta-feira (27) pela Abecip (Associação Brasileira de Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança).
O bom desempenho dos financiamentos com dinheiro do SBPE (Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo) fez com que o acumulado de janeiro a dezembro batesse o ano de 2014, considerado pelo setor como o do "boom" dos imóveis.
Cristiane Portella, presidente da Abecip, considerou o resultado excepcional. "Tivemos um crescimento importante do SBPE de 2018 para 2019 e um resultado excepcional de 58% [em 2020], enquanto a expectativa era de 32%, e ainda foi superado o recorde histórico de 2014", disse.
No ano do "boom" do crédito, foram concedidos R$ 112,9 bilhões para aquisição e construção com dinheiro da poupança. No ano passado, foram R$ 124 bilhões.
Esse dinheiro financiou 426,8 mil unidades, o quinto melhor resultado para um ano, segundo a Abecip. Na comparação com 2019, quando 298 mil unidades foram financiadas, a alta foi de 43,2%.
Quando consideradas apenas as concessões para aquisição, a Abecip registrou um aumento de 60% no volume de recursos liberados no ano passado. Foram R$ 93,9 bilhões –e 80% desse valor foi direcionado à compra de imóveis usados.
Os recordes em concessão ficaram concentrados nos financiamentos para aquisição. O resultado para construção, porém, também foi positivo, chegando a R$ 30 bilhões, com avanço de 50%.
Para Cristiane Portella, o resultado bom, mas distante de um recorde, tem relação com o número de operações que envolvem a construção.
"As incorporadoras avaliam suas próprias condições e mais as demandas de terceiros envolvidos no negócio. Mesmo assim, houve uma retomada importante nos últimos meses do ano", disse.
Com base no resultado de 2020, a expectativa do setor é de que o crédito imobiliário cresça 21% neste ano. Nas linhas com financiamento pelo SBPE, a projeção da Abecip é que a alta seja de 27%.
A expectativa de crescimento está baseada principalmente na perspectiva de que os juros ainda não subirão neste ano –ou subirão pouco– e de que a pandemia elevou a demanda por imóveis. "As pessoas investiram muito tempo e dinheiro em tornar o ambiente doméstico mais agradável", afirma.
A eventual alta na taxa Selic em 2021 ainda não preocupa o setor, segundo Cristiane Portella. Ou, pelo menos, não em 2021.
"Se ficar em 2% ou 3,5%, que poderia ter um efeito na taxa de juros final dos financiamentos, isso não deve acontecer em 2021. Aliado a uma [expectativa de] melhora na conjuntura, chegamos à estimativa de 27%. Temos que lembrar que em 2017 trabalhávamos com juros [no financiamento imobiliário] de 11% e hoje estamos abaixo de 7%", disse.
A reunião mais recente do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central foi no dia 20 de janeiro, quando a taxa básica de juros foi mantida em 2% ao ano, renovando a mínima histórica.
Na ata divulgada na terça (26), porém, o BC rompeu com o compromisso de não subir os juros. No mercado, há a expectativa que os juros passem de 3% ainda no primeiro semestre deste ano.