(Jornal do Comércio – 22/10/2019)
De olho em um futuro próximo de destravamento da economia e de oxigenação nos negócios, as indústrias do setor da construção civil administram com paciência o momento de retração. E, em um voto de confiança na nova política do governo federal, minimizam os números do presente.
Convicto da capacidade da equipe de técnicos montada pelo presidente Jair Bolsonaro para destravar a economia, o vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs) e coordenador do Conselho Técnico da Construção, Ricardo Sessegolo, projeta: "O setor da construção civil, que responde por 11% do PIB nacional e percentual pouco acima em nosso Estado, diante deste novo cenário, em que a Selic apresenta os menores percentuais jamais vividos por nossa economia, tende a retomar suas atividades ainda neste ano, mas principalmente em 2020, contribuindo fortemente para a geração de empregos em nosso País".
Segundo o dirigente, diante dessa nova realidade de juros baixos, as pessoas estão inquietas, procurando uma outra forma de investir, já que ficar aplicando dinheiro no banco rende pouco. Isso faz crescer a procura de investidores pelo mercado imobiliário, para compra de imóveis residenciais para locação, especialmente através de aplicativos, como Airbnb, por exemplo, e outras aplicações ofertadas ou mesmo fundos imobiliários.
Por enquanto, projetos para construção de imóveis comerciais, residenciais ou de obras de infraestrutura ainda são poucos. "A taxa de empregos na indústria de moradias vem caindo muito devagar no Brasil. O desemprego diminui, mas de forma lenta, e a confiança dos consumidores vem se acomodando em patamares baixos. É um cenário de renda que cresce a passos curtos e de incertezas que, igualmente, se dissipam aos poucos. Então a demanda melhora lentamente", analisa o economista-chefe da Fiergs, André Nunes de Nunes.
No Rio Grande do Sul, a situação é ainda mais difícil. Levantamento entre setembro de 2018 e agosto de 2019 mostra que a construção civil gerou 42 mil postos diretos de trabalho no Brasil. Em solo gaúcho, 4,8 mil vagas foram fechadas, fazendo com que o Rio Grande do Sul fosse o penúltimo estado em desempenho nesse quesito, ficando à frente apenas do Ceará, onde 5,7 mil vagas desapareceram.
Já no setor de infraestrutura, o País passa por uma mudança de modelo de investimentos. Depois dos Programas de Aceleração do Crescimento (PAC) 1 e 2, Brasil Mais Produtivo, Olimpíadas, Copa do Mundo de 2014, os governos de Michel Temer e, agora, de Bolsonaro focam nas privatizações e nas concessões. A expectativa é de destravar os investimentos para os próximos anos, mas o impacto disso não é imediato. Basta ver que as obras em infraestrutura representam 56% desse fechamento de vagas, reflexo da falta de recursos da União, de estados e municípios. Sem dinheiro e endividado, o setor público para de investir ou reduz drasticamente os investimentos.
A retração também ocorre na construção de prédios comerciais. Mas há um fator favorável: a redução na taxa de juros. Segundo o Relatório Focus, o índice deve fechar 2019 entre 4,5% e 4,75%, sinalizando bom retorno em termos de valorização do patrimônio para quem faz um investimento em imóveis residenciais ou comerciais para locação. Esse modelo de negócio está mais vantajoso que investimentos de renda fixa de baixo risco. Com esse atrativo, o segmento pode se erguer nos próximos anos.
Ritmo do RS ainda é menor do que em outras regiões do País
No estado mais meridional do País, o ritmo dos investimentos na construção civil ainda é lento. Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), o nível de emprego aumentou, sinalizando a retomada dos negócios, de crescimento e de produção. Mas o cenário muda conforme a região.
O Sudeste e o Centro-Oeste já mostram melhores índices de desenvolvimento do mercado imobiliário, ao passo que, na Região Sul - especificamente em Porto Alegre -, a retomada dos negócios ainda é lenta, conforme Marcelo Bettio, diretor da Alphaplan, empresa de consultoria especializada no setor imobiliário. "Mas há boas notícias no ar. Existe uma perspectiva do lançamento de aproximadamente 3 mil unidades imobiliárias desde agosto até dezembro, com Valor Geral de Vendas (VGV) estimado em R$ 1,3 bilhão", projeta.
As iniciativas fazem parte de um modelo de empreendimento imobiliário que vem ganhando força na capital gaúcha: os apartamentos compactos e os chamados condo-hotéis. No primeiro caso, são imóveis menores, localizados próximo a grandes centros universitários e shopping centers, porém mais acessíveis para consumidores e investidores, que buscam rentabilidade pensando em locação. Já os condo-hotéis se resumem na venda de cotas de participação, com rentabilidade futura ao investidor, a partir da ocupação dos leitos. "É possível, com valores entre R$ 150 mil e R$ 170 mil, por exemplo, adquirir uma cota desses empreendimentos fracionados, de custo acessível e garantia de rentabilidade futura, que desperta a atenção do pequeno poupador, do investidor."
O analista observa, porém, que, apesar dos números nacionais do Caged, as contratações para esses projetos em Porto Alegre só deverão começa a ocorrer a partir de janeiro de 2020. Entre as três capitais da Região Sul, a gaúcha é a que vem mostrando menor desempenho no setor, por conta do receio das construtoras em lançar empreendimentos sem a certeza de que haverá compradores.