(Exame – Economia – 15/10/2020)
Dados da Susep mostram que neste ano houve um aumento expressivo na modalidade, tanto no número de apólices emitidas quanto no volume de sinistros
Quem vai alugar um imóvel precisa dar ao proprietário a segurança de que vai honrar o pagamento do aluguel durante todo o período de vigência do contrato. E, embora no Brasil o fiador e o depósito de três meses de aluguel ainda sejam as formas de garantia mais frequentes entre os inquilinos, respondendo, respectivamente, por 47% e 36% dos contratos, o seguro-fiança já é exigido por 16% dos proprietários de imóveis. “A importância do seguro-fiança ficou ainda mais evidente durante a pandemia”, diz Priscila de Cunto Mckenzie, gerente executiva do canal de corretores da Too Seguros, considerada uma das cinco maiores seguradoras em seguro-fiança do país.
Ela explica que, com a crise, os fiadores ficaram mais receosos de assumir riscos, e os inquilinos passaram a ter mais dificuldade em depositar e manter retido o valor de três aluguéis. “Diante desse cenário, a busca pelo seguro-fiança cresceu substancialmente”, diz Priscila. A executiva tem razão. De acordo com dados da Superintendência de Seguros Privados (Susep), órgão que regula o setor de seguros no Brasil, entre janeiro e agosto deste ano foram emitidos 536 milhões de reais em apólices de seguro-fiança – 60% mais do que no mesmo período do ano passado.
Na Casa Central Seguros, empresa parceira da Too especializada no mercado imobiliário e que atua na Região do Grande ABC, em São Paulo, 70% dos contratos referem-se ao seguro-fiança. “Nos meses de julho e agosto dobramos a quantidade de apólices e de prêmios emitidos em relação a maio e junho”, afirma Marcelo Arnas Assunção, sócio da corretora. Segundo ele, a digitalização do setor, a evolução dos produtos oferecidos e a queda no preço do seguro têm feito com que a procura aumente. “As parcelas suaves acabam compensando”, diz o empresário.
Seguro-fiança: um alento para as imobiliárias
Por outro lado, fiadores – e quem depende deles – acabaram tendo de lidar com outro problema decorrente da crise: a inadimplência. De janeiro a setembro deste ano, o Secovi registrou 10.144 ações por falta de pagamento na cidade de São Paulo, um crescimento de 4% em relação ao mesmo período de 2019. E, junto com a inadimplência, aumentaram também os casos de sinistro. De acordo com a Susep, o número de sinistros saltou de 79 milhões de reais para 206 milhões de janeiro a agosto deste ano em comparação com o ano passado.
Para a Maximiza, outra corretora de seguros parceira, que atende mais de 500 imobiliárias nas regiões Nordeste e Centro-Oeste, a inadimplência dobrou durante a pandemia. “O lado bom foi que as pessoas passaram a enxergar mais valor no seguro-fiança, já que, quando precisaram acionar a seguradora, encontraram uma empresa sólida e disposta a honrar seus compromissos”, afirma Leandro Furtado Campos, sócio-diretor da corretora.
Na Jacyara Seguros, também parceira, houve ainda quem buscasse informações para mudar a modalidade de garantia locatícia, além de aumentar a demanda de clientes que se mudaram das capitais para o interior e que, por não conhecer fiadores locais, se renderam ao seguro-fiança. “Fechamos 180 novos contratos novos em agosto – um crescimento de 50% em relação ao mesmo período do ano passado”, diz Thiago Gonçalves, sócio-diretor da companhia. Ao todo, 117 imobiliárias oferecem seguro-fiança pela plataforma da seguradora. “De um lado, observamos imobiliárias presentes e corretores exercendo seus papéis de especialistas. De outro, proprietários dispostos colaborar para o sucesso das negociações. Isso foi fundamental para sobrevivermos à pandemia.”
De reparos na pintura a encanador
Quem opta por um seguro-fiança encontra algumas facilidades que vão além da cobertura, como a rapidez na hora da contratação. “Antigamente, o mercado demorava até 24 horas para aprovar o crédito. Agora, isso é feito em 40 minutos”, diz Priscila, da Too Seguros. Na seguradora, além de garantir ao proprietário o pagamento do aluguel em caso de inadimplência, é possível solicitar a cobertura de outras contas, como água, luz, IPTU, e também de danos ao imóvel e reparos na pintura. “Nossos clientes têm à disposição um leque de assistências residenciais 24 horas por dia, como encanadores, eletricistas e vidraceiros”, explica a executiva. “Estamos, sem dúvida, diante de um mercado que só tende a crescer.”