(O Globo – Economia – 07/08/2019)
Renata Vieira
O presidente do Banco Central , Roberto Campos Neto, durante evento sobre como baixar os juros no Brasil. em Brasília, deu destaque à necessidade de reformas no ambiente microeconômico.
Segundo o presidente da autoridade monetária, não há dúvida sobre a necessidade de reformas macro, como a da Previdência, “a mãe de todas reformas”, segundo ele, mas é preciso avançar na desburocratização do ambiente de negócios e melhorar as condições de acesso a crédito no país.
Entre as medidas micro, Campos Neto voltou a dar destaque à chamadahipoteca reversa , ou home equity , mecanismo que funciona como uma espécie de aluguel ao contrário, em que o proprietário recebe uma quantia mensal do banco e continua a morar no imóvel, sob a condição de a instituição financeira poder ficar com o imóvel, e negociá-lo no mercado.
- Um grande fator de crescimento é a parte imobiliária, onde o Brasil precisa realmente crescer. Nosso sistema imobiliário ainda é bastante pouco alavancado, mesmo comparado com mercados emergentes.
O instrumento já é empregado em países desenvolvidos, e pode interessar, por exemplo, a idosos que precisam complementar a renda. Segundo o presidente do BC, num cenário conservador, cerca de R$ 500 bilhões poderiam ser injetados no mercado com a medida, dobrando a atual carteira de crédito imobiliário do país.
Durante o evento, Campos Neto, afirmou também que o Banco Central está tranquilo mesmo diante de um cenário externo conturbado.
Cheque especial - Ainda de acordo com o presidente do BC, o atual retrato do cheque especial no país é emblemático nesse sentido, já que mesmo num cenário em que a taxa básica de juros tenha chegado a 6% ao ano, o produto custe mais de 320% ao ano em juros para quem precisa acessá-lo. Ainda segundo Campos Neto, trata-se de um sistema regressivo, no qual os mais pobres pagam pelos mais ricos.
Segundo dados do próprio BC, o uso dessa modalidade de crédito emergencial está concentrada na parcela da população que ganha até R$ 2 mil.
O cheque especial é muito regressivo. Quem tem um limite maior (no cheque especial) tem mais capital, mas é quem menos usa o produto. E quem mais usa é que ganha até dois salários mínimos. Basicamente, quem está embaixo da pirâmide está pagando por quem está em cima, tem um limite alto e não usa. O produto pune quem está embaixo da pirâmide com 320% de juros ao ano. É muito punitivo. Nossas conversas com bancos é sobre como podemos diminuir a regressividade do produto - afirmou Campos Neto.