(O Globo – Economia – 10/07/2020)
Ao fornecer capital mais barato a incorporadoras, o modelo tem demanda crescente por parte das empresas, o que propicia às fintechs que atuam no segmento entender os rumos que a indústria segue e quais perfis de imóveis performarão melhor ou pior daqui para frente.
Sob esta ótica, o segmento comercial foi descartado. Se a pandemia derrubou as últimas barreiras para a ampla disseminação do e-commerce e do delivery, o mesmo vale para tendências como o coworking e home office, que estarão consolidadas em empresas de todos os portes quando o isolamento social e o lockdown forem descartados. A perda de receitas provenientes de locação imóveis comerciais afetará os proprietários, dentre os quais fundos imobiliários, que terão de repensar rapidamente a composição de suas carteiras.
Esta nova realidade impacta o trabalhador de várias formas. Se, por um lado, não será mais necessário despender horas indo e voltando diariamente do trabalho, por outro se sentirá a necessidade de mais aconchego e espaço em sua residência. No segmento de alto padrão, sempre menos impactado por crises, cresce a demanda por residências maiores, seja em empreendimentos em planta ou já existentes. Desta forma, tanto a concepção de novos projetos quanto a adequação de unidades espaçosas e até edifícios inteiros passam a ser do interesse da indústria da construção.
Se o cenário impulsiona a procura por determinados perfis de imóveis, há também uma grande demanda que, particularmente no país, sempre existiu. O déficit habitacional brasileiro é da ordem de 7,8 milhões de moradias, conforme a Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc). A resolução deste problema social coincide com a busca do governo pela manutenção de algum nível de atividade econômica. Estímulos oficiais ao setor, como as recorrentes reduções dos juros dos empréstimos habitacionais pela Caixa Econômica Federal ou o programa Minha Casa Minha Vida manterão o giro deste segmento.
No mesmo sentido também seguem os sucessivos cortes nas taxas de juros. Além da redução ser uma das prioridades da equipe econômica do atual governo, a queda na atividade e consequente redução do consumo eliminam, no curto prazo, a possibilidade de surgir alguma pressão inflacionária que force uma reversão desta tendência. Esse movimento, que favorece desde o segmento popular ao de alto padrão, impulsiona os planos de famílias que, ao adquirirem seus primeiros imóveis, pagarão parcelas de financiamento inferiores a seus atuais custos com aluguéis, o que aquece a procura por imóveis novos.
Passado o pânico inicial, empresas retomam planejamentos adequados à nova realidade. Até pelas suas características, a construção civil pode adequar seu ritmo de atividade a momentos de menor demanda, tendo como horizonte prazos mais longos. Enquanto isso, precisará de recursos, particularmente os daqueles que, assustados com a instabilidade da bolsa, veem, com a menor taxa de juros da história do país, a economia real como principal opção de investimento.