(Valor Econômico – Empresas – 18/10/2019)
Chiara Quintão
A demanda de imóveis para as rendas média e alta - estimulada por redução de juros e pela maior oferta de crédito habitacional - continuou a dar o tom do desempenho operacional do setor de incorporação no terceiro trimestre. Enquanto Cyrela, Even Construtora e Incorporadora, eztec e Trisul elevaram o Valor Geral de Vendas (VGV) lançado, as companhias focadas na baixa renda como Direcional Engenharia e MRV Engenharia apresentaram volumes menores.
Entre as empresas com foco na baixa renda, Tenda foi a única que lançou mais do que no terceiro trimestre de 2018. RNI Negócios Imobiliários não apresentou produtos ao mercado.
Considerando-se apenas a parte própria das incorporadoras nos empreendimentos, as oito companhias lançaram, em conjunto, R$ 4,852 bilhões, de julho a setembro, com alta de 28% na comparação anual. As vendas líquidas tiveram expansão 35,2%, para R$ 4,319 bilhões.
“O desempenho das incorporadoras de média e alta renda veio em linha com o que esperávamos. As vendas de lançamentos estão super fortes e as de estoque estão boas. Cyrela foi o destaque do trimestre”, diz o analista de mercado imobiliário do Itaú BBA, Enrico Trotta. Outro analista setorial afirma que as perspectivas para as empresas do segmento são bastante positivas para o quarto trimestre.
Em relatório, o Credit Suisse ressaltou que os lançamentos da Cyrela foram uma “surpresa bem-vinda”, enquanto as vendas de estoque também foram positivas. Na avaliação do banco de investimentos, se a demanda continuar a crescer, a Cyrela poderá operar a níveis superiores a R$ 4 bilhões por ano, o que tem potencial para adicionar valor às ações da companhia.
A Cyrela divulgou lançamentos totais (incluindo a parcela dos sócios nos projetos) de R$ 1,777 bilhão, no trimestre, com incremento de 93,6%. Em nove meses, o VGV chegou a R$ 4,411 bilhões. Se considerada somente a parte própria lançada pela incorporadora fundada por Elie Horn, houve alta de 76%, para R$ 1,244 bilhão de julho a setembro.
No trimestre, Even elevou lançamentos em 87%, para R$ 239 milhões. Na Trisul, a alta apresentada foi de 3,6 vezes, para R$ 338 milhões. O crescimento do VGV lançado pela eztec foi de 128%, para R$ 242 milhões.
Em nove meses, o VGV da eztec chega a R$ 949 milhões e, considerando-se a apresentação do EZ Parque da Cidade, feita no quarto trimestre, os lançamentos chegam a R$ 1,525 bilhão. As vendas líquidas da eztec tiveram incremento de 186%, no trimestre, para R$ 343,2 milhões. O Credit destaca que a velocidade de vendas de estoques da companhia atingiu a marca de 18,2%, a maior desde o segundo trimestre de 2013.
Apesar do crescimento expressivo de 28% dos lançamentos do trimestre, houve uma desaceleração da alta, ao longo do ano, ante o intervalo equivalente de 2018. No acumulado de janeiro a setembro, as oito incorporadoras aumentaram o VGV apresentado ao mercado em 44%.
De julho a setembro, houve desaceleração nos lançamentos enquadrados no programa habitacional Minha Casa, Minha Vida. No caso da mineira MRV, a paralisação na concessão de financiamento à produção dos projetos do programa pela Caixa Econômica Federal, de 26 de julho a 20 de setembro, resultou na queda de 3% dos lançamentos, para R$ 1,63 bilhão.
A suspensão desses financiamentos e do repasse dos recebíveis dos clientes para a Caixa resultou da falta de recursos da União para a fatia de subsídios anteriormente prevista para as faixas 2 e 3 do programa. Houve mudança da regra, e a obrigatoriedade de a União contribuir com esses subsídios foi retirada.
Já a Tenda aumentou seu VGV lançado em 32%, para R$ 761,4 milhões no trimestre. A incorporadora apresentou seu primeiro projeto na Região Metropolitana de Fortaleza. No entendimento do Credit Suisse, a Tenda poderá compensar as margens mais baixas com maiores lançamentos. Segundo analistas, enquanto houve alguma frustração com os resultados da MRV, os da Tenda surpreenderam positivamente.