Líder na venda de materiais de construção no País, a Leroy Merlin escolheu uma estratégia peculiar para avançar no online. A rede se prepara para inaugurar, no dia 12 de novembro, seu marketplace – o primeiro shopping virtual de uma empresa do setor, mas que vai reunir lojas de eletrodomésticos, móveis, artigos de cama, mesa e banho.
A intenção é vender itens de mobília da casa que complementam os materiais construção comercializados pela companhia. A meta da varejista é que a área digital – site e marketplace – responda por 10% do faturamento em dez anos. Hoje o site sozinho representa 2% da receita total da companhia no País que, no ano passado, somou R$ 5,3 bilhões.
Nos últimos seis anos, a varejista investiu R$ 260 milhões em Tecnologia da Informação (TI) para bancar a sua expansão digital. “Zeramos nossa dívida tecnológica e o nosso negócio do futuro é digital”, diz o diretor-geral da companhia no Brasil, Alain Ryckeboer. O Brasil será o primeiro país onde a empresa francesa terá um shopping virtual. O próximo está programado para o ano que vem, na Rússia. A justificativa do executivo para a escolha de o Brasil ser o pioneiro na iniciativa está no fato de o brasileiro ser muito digital. “Ele fica, em média, cinco horas por dia na internet.”
Cerca de 40 fornecedores estão na etapa final de negociação para integrar o marketplace. “O interesse dos varejistas é grande porque já temos um site com 10 milhões de visitas por mês, bom poder aquisitivo e uma marca forte.”
Juntos, esses 40 fornecedores revendem cerca de 140 mil itens. Mas, inicialmente, serão ofertados 5 mil. “Se der tudo certo, se forem respeitados os prazos de entrega e os padrões da companhia, iremos incorporando mais produtos aos poucos”, explica o Ryckeboer.
Segundo o presidente da Associação Nacional dos Comerciantes de Material de construção (Anamaco), Claudio Conz, o marketplace, neste caso, funciona como um diferencial importante porque permite o varejista ter presença nacional, vendendo produtos em área afins.
Para o consultor Marcos Gouvêa de Souza, diretor-geral do Grupo GS& Gouvêa de Souza, o shopping virtual é um caminho com menos riscos para as empresas que querem expandir seus negócios online. Segundo ele, na maioria das vezes, o e-commerce é deficitário porque, como o consumidor no online pesquisa muito os preços antes de comprar, a tendência das empresas é reduzir os valores. “Isso achata a rentabilidade do varejo online”, explica. “No marketplace, o varejista não tem que comprar e estocar produto. Com isso, consegue ampliar a participação de mercado, sem prejudicar a rentabilidade.”
Eduardo Terra, presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), observa que a tendência de marketplace está se expandindo para outros segmentos. Ele alerta, no entanto, que materiais de construção e móveis são segmentos críticos em termos de reclamações de consumidores. “Esse é um risco que pode respingar na marca do shopping virtual.”
Online - O projeto da Leroy é integrar a loja física com a virtual. “Estamos investindo numa transformação interna para que os clientes comprem o que quiserem onde quiserem”, diz Ryckeboer.
Em vez de ter um centro de distribuição (CD) central, as lojas serão base de entrega de mercadorias para o e-commerce. Com isso, será possível reduzir o prazo de entrega das vendas online de oito dias para dois dias. A meta é implantar esse sistema em todas as 41 lojas da rede. Ryckeboer diz que a decisão de transformar as lojas em CDs já estava tomada antes da greve dos caminhoneiros. Com a greve, ela foi ratificada.
Empresa investirá R$ 300 milhões em 2019 - A Leroy Merlin vai investir R$ 300 milhões no País em 2019 na cadeia logística de abastecimento, num centro de distribuição com 120 mil metros quadrados em Cajamar (SP), em uma loja e na área digital. É praticamente a mesma cifra aplicada neste ano. “O Brasil sempre anda. Faz quatro anos que está devagar e, se continuar, estamos acostumados. Não deixamos de investir”, diz o diretor-geral da companhia no Brasil, Alain Ryckeboer. Há 20 anos no País, o executivo diz que viu quatro crises. “Tomara que estejamos no início de uma onda de crescimento”, afirma o executivo, que se diz otimista.
Esta semana a empresa concluiu a construção do maior home center da rede na América Latina, que fica na Marginal Tietê, em São Paulo, e consumiu aporte de R$ 110 milhões. Uma das inovações da loja, além de um drive thru, em que o cliente pode comprar o produto sem sair do carro, é um laboratório equipado com impressoras 3D, gravadoras a laser e máquinas de corte. “Qualquer pessoa que quiser inovar, inventar um produto ou substituir uma peça vai poder fabricá-la aqui, na impressora 3D, em acrílico”, diz Ryckeboer.