A combinação de taxas de juros menores, inflação mais baixa e maior confiança do consumidor tem resultado no aumento do volume de projetos imobiliários apresentados ao mercado paulistano, o maior do país. Incorporadoras que responderam por mais de 40% dos lançamentos realizados na cidade de São Paulo no ano passado projetam elevar de 20% a 25% o Valor Geral de Vendas (VGV) em 2018, segundo pesquisa da área de Inteligência de Mercado do Grupo Zap Viva Real.
"A projeção é um enorme alento para o mercado e indica que a demanda por habitação continua muito ativa", afirma o vice-presidente de inteligência de mercado do Zap Viva Real, Caio Graco Bianchi. O levantamento incluiu Cyrela, Even Construtora e Incorporadora, Tegra Incorporadora, Trisul, MRV Engenharia, Exto Incorporação e Construção, Tenda, Diálogo, Econ, Vitacon, Plano & Plano, You Inc, Cury Construtora e Kallas.
Em 2017, o VGV total de lançamentos realizados na capital paulista chegou a R$ 13,8 bilhões, segundo o Zap Viva Real, com alta de 16% na comparação com 2016. Apesar o ano ter sido marcado pelo primeiro crescimento desde 2013, o VGV corresponde apenas à metade dos R$ 27,1 bilhões de 2011, quando o setor viveu seu auge. Para efeito de comparação, os dados foram atualizados pelo Índice Nacional de Custo da Construção (INCC).
Se a faixa de crescimento de 20% a 25% estimada pelas 14 incorporadoras incluídas no levantamento do Zap Viva Real for estendida a todo o mercado paulistano, o setor lançará de R$ 16,6 bilhões a R$ 17,3 bilhões em São Paulo neste ano. A pesquisa apontou que há quem espere que o número consolidado possa chegar a R$ 20 bilhões.
"A recuperação do setor no fim do ano passado sinaliza expectativa positiva para 2018. Incorporadoras estão retomando projetos", diz o diretor Brasil do portal Properati, Renato Orfaly.
Na avaliação do Secovi-SP, o número de unidades lançadas ficará estável na cidade de São Paulo em 2018, ante as 28,7 mil unidades do ano passado. Com alta de 48%, em 2017, os lançamentos interromperam três quedas anuais consecutivas. "Não sabemos se será possível aprovar um volume maior de projetos em 2018", disse, em entrevista coletiva, o economista-chefe da entidade, Celso Petrucci. Segundo ele, conforme as tipologias de imóveis apresentados, o VGV lançado pode crescer ante os R$ 13,8 bilhões de 2017.
O Secovi-SP projeta, porém, que o volume vendido terá crescimento de 5% a 10%, ante as 23,6 mil unidades do ano passado. Em 2017, as vendas aumentaram 46% em volume, e o VGV comercializado cresceu 28%, para R$ 11,4 bilhões. Segundo o Secovi-SP, o ano foi dos imóveis econômicos. Dos lançamentos, metade tinha valor até R$ 240 mil e, das vendas, 41% das unidades se enquadraram nesta faixa.
Há previsão de lançamentos em todas as faixas de renda na capital paulista em 2018.
Para a Cyrela, São Paulo responderá por mais de 80% dos lançamentos do ano. A incorporadora pretende elevar o VGV lançado de forma expressiva, principalmente na capital paulista, segundo o diretor financeiro, Miguel Mickelberg. Um terço dos lançamentos da companhia vai se enquadrar no programa habitacional Minha Casa, Minha Vida, por meio das joint ventures Cury e Plano & Plano, um terço será para o médio padrão e o outro terço, para as faixas média-alta e alta.
O diretor da Cyrela ressalta a demanda reprimida por imóveis em função da queda de lançamentos do setor nos últimos anos, a redução dos juros e o aumento da captação da poupança. No segmento de alta renda, parte das aplicações financeiras já começa a ser direcionada para a compra de imóveis e, de acordo com o executivo, a maior parte dos bancos que atua em financiamento imobiliário baixou taxas. "Esperamos que caia mais", disse Mickelberg.
Ontem, o presidente do Secovi-SP, Flávio Amary, defendeu que as taxas de financiamento imobiliário sejam reduzidas para que mais famílias possam ter acesso ao crédito. "Os bancos elevaram as taxas nos períodos de alta da Selic. Com a queda, não vemos reduções de maneira generalizada", disse Amary.
A Tegra (ex- Brookfield Incorporações), que lançou R$ 700 milhões na cidade de São Paulo, em 2017, projeta R$ 1 bilhão para 2018. "O cenário eleitoral e a Copa do Mundo são pontos de atenção, mas não nos inibem de lançar R$ 1 bilhão na capital", diz o diretor de incorporação São Paulo, João Mendes. Os projetos têm perfil de médio-alto a altíssimo padrão, com unidades de 40 metros quadrados a 220 metros quadrados. Do que foi lançado em 2017 na cidade, pelo menos metade de cada empreendimento foi vendida no ano.
Dany Muszkat, presidente da Even, outra incorporadora que pretende elevar lançamentos neste ano, conta que tem sido necessário conceder menos descontos para vender imóveis neste início de ano. Os projetos estão em fase de aprovação, e a Even vai apresentá-los ao mercado principalmente a partir do segundo trimestre. Na capital paulista, a incorporadora terá produtos do segmento emergente ao alto padrão. Muszkat reitera que a apresentação dos novos projetos estão condicionados ao bom desempenho de venda de lançamentos e de remanescentes.
A MRV, maior incorporadora no país e principal operadora do programa habitacional Minha Casa, Minha Vida, projeta lançamentos superiores a R$ 1 bilhão na cidade de São Paulo em 2018. A companhia já lançou 35% do Gran Reserva Paulista, seu principal projeto na capital paulista. Se os 65% restantes forem apresentados neste ano, corresponderão ao VGV de R$ 1 bilhão, ou seja, a mais de 10% dos seus lançamentos de 2018, segundo o copresidente Eduardo Fischer. Há dois outros projetos previstos para esse mercado, com VGV que somará entre R$ 100 milhões e R$ 150 milhões.
"Com a economia melhor e o desemprego caindo, a demanda só aumenta", diz Fischer.
A Trisul tem como meta de lançamentos para este ano de R$ 600 milhões a R$ 700 milhões, ante os R$ 683 milhões de 2017. A Exto projeta, para 2018, R$ 610 milhões, seu maior VGV anual, depois de ter lançado R$ 500 milhões no ano passado. A empresa desenvolve projetos dos padrões médio-alto e alto em alguns bairros das zonas Oeste e Sul da capital paulista. Já a Vitacon - concentrada em produtos de média e alta renda e acesso a infraestrutura de mobilidade na cidade - pretende elevar seus lançamentos dos R$ 830 milhões de 2017 para R$ 2 bilhões.