(Valor Econômico - Economia - 20/01/2021)
Chiara Quintão
As prévias operacionais já divulgadas pelas incorporadoras de capital aberto apontam crescimento de 2,9% no Valor Geral de Vendas (VGV) lançado em 2020, para R$ 22,18 bilhões, e de 11,3% nas vendas líquidas, para R$ 21,42 bilhões. No quarto trimestre, os lançamentos tiveram expansão de 9,5%, para R$ 8,46 bilhões, enquanto as vendas aumentaram 16%, para R$ 6,56 bilhões.
O levantamento realizado pelo Valor inclui Cyrela, Direcional, Even, EZTec, Helbor, Melnick, Mitre, Moura Dubeux, MRV, RNI Negócios Imobiliários e Tenda, considerando-se a parte própria das companhias nos projetos.
Os dados consolidados apontam que a demanda por imóveis continua forte, sustentada por juros baixos, e que segue acompanhada de crescimento expressivo da oferta, principalmente de unidades para as rendas média e alta, a partir do terceiro trimestre.
A RNI, que divulgou prévia ontem, elevou seus lançamentos em 36%, no ano passado, para R$ 453,3 milhões. As vendas líquidas cresceram 117%, para R$ 454 milhões. Segundo o presidente, Carlos Bianconi, os dois indicadores foram recordes em cinco anos.
Para 2021, a RNI estima lançamentos totais (incluindo a participação dos sócios nos projetos) acima de R$ 700 milhões, embora não tenha meta oficial. “A vacinação - marco regulatório do controle da pandemia - teve início, e o agronegócio sinalizou que terá mais um recorde de produção”, diz Bianconi. A incorporadora atua em cidades do interior de São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, que tenham a economia baseada no agronegócio.
Na avaliação do analista de mercado imobiliário do Itaú BBA, Enrico Trotta, “2021 tem tudo para ser um ano excelente” para as incorporadoras com foco nas rendas média e alta, considerando-se os juros baixos e a concessão de crédito imobiliário.
Eduardo Guimarães, especialista em ações da Levante Ideias de Investimento, conta que está otimista em relação ao setor, mas preocupado com absorção dos novos lançamentos em um cenário de metas elevadas das incorporadoras. “Não sei se a velocidade de vendas será mantida com a demanda relativamente estável”, diz Guimarães.
Para Trotta, do Itaú BBA, eventualmente, a grande competição, no mercado paulistano, pode afetar a velocidade de vendas das incorporadoras. “Mas ainda não houve desaceleração”, diz Trotta.
Entre as prévias do quarto trimestre das incorporadoras com atuação principal nos padrões médio e alto, o analista do Itaú destaca a da Cyrela. A companhia apresentou VGV próprio de R$ 2,46 bilhões, com alta de 120%. As vendas líquidas cresceram 40,3%, para R$ 1,57 bilhão.
Guimarães, da Levante, cita a velocidade de vendas da Mitre, ressaltando que a incorporadora atua em regiões da cidade de São Paulo em que não há projetos parecidos por perto, caso das proximidades do metrô Tucuruvi. “Isso possibilita um desempenho acima da média”, diz o analista da Levante. A velocidade de comercialização da Mitre medida pelo indicador VSO (vendas sobre oferta) foi de 46,9%, no trimestre, e de 65,4% no ano.
No entendimento de um analista setorial que pediu para que seu nome não fosse citado, as incorporadoras poderiam ter lançado mais projetos no quarto trimestre. “Não ficou claro se foi uma decisão comercial. Algumas já vinham informando atrasos na liberação de licenças”, diz.
Em relação ao segmento de baixa renda, Trotta afirma que as incorporadoras continuam “lançando e vendendo muito bem”, mas que o sinal amarelo se acendeu para este semestre com o fim do “coronavoucher”, ou seja, do auxílio-emergencial. Guimarães destaca que MRV e Direcional têm buscado reduzir a dependência do programa habitacional.
Com atuação exclusiva na baixa renda, a Tenda informou ontem que seus lançamentos cresceram 5,9%, no quarto trimestre, na comparação anual, para R$ 885,2 milhões. As vendas líquidas aumentaram 29,1%, de outubro a dezembro, para o valor recorde de R$ 795,2 milhões.