(Valor Econômico – Economia – 15/10/2020)
Bancos devem entregar resultados fortes, menor provisão para devedores e inadimplência 'escondida' por renegociação de empréstimos
Weruska Goeking
Construtoras e incorporadoras divulgaram suas prévias operacionais na semana passada e os números são um prelúdio de resultados que devem ser bem recebidos pelo mercado financeiro.
“As prévias do terceiro trimestre das construtoras brasileiras estão revelando mais um trimestre de vendas recordes e um retorno mais rápido do que o esperado em lançamentos”, afirmam as analistas do Bank of America (BofA), Nicole Inui e Gabriella Tak, em relatório divulgado nesta semana.
Mais do que um bom trimestre, os resultados devem ser o começo de um ciclo virtuoso para o setor, segundo Marcelo Audi, gestor da Cardinal Partners, em live do Valor Investe que tratou das expectativas para a temporada de balanços.
Para Audi, as empresas do setor imobiliário colhem os frutos de um fator estrutural que vem se consolidando desde o ano passado, que é o "juro baixo e uma dinâmica de oferta de crédito muito benigna".
"A resiliência disso é tão forte que a pandemia quase não prejudicou [as empresas]. Foi um setor que passou muito bem pelo segundo trimestre e no terceiro trimestre já voltou com força total. Podemos viver o mais promissor ciclo de construção imobiliária que o país já viu desde a década de 70", afirma Audi.
Além dos juros baixos e o crescimento na concessão de crédito, o gestor destaca que a pandemia beneficiou o setor de construção civil com o efeito psicológico das famílias se planejando para melhorar sua moradia, com reformas, e até mesmo mudarem de apartamento/casa.
"A junção disso é um momento cíclico da cadeia de construção que é quase um 'boom'. Muito provavelmente veremos um momento bastante prolongado de uma atividade muito benigna da cadeia de construção", diz Audi.
Bancos
O lucro recorrente combinado dos três maiores bancos privados - Bradesco, Itaú e Santander - caiu 39,4% no segundo trimestre em consequência das provisões maiores contra perdas de crédito devido a crise causada pela covid-19.
O conservadorismo deve aos poucos ficar para trás e Marcelo Audi, gestor da Cardinal Partners, acredita que as provisões para devedores duvidosos (PDD) no terceiro trimestre devem ser menores que os R$ 23,194 bilhões resguardados pelos três bancos para esse fim entre abril e junho.
“A qualidade do crédito ainda vai continuar boa, mas pela má razão. A inadimplência vai continuar baixa porque parte do pacote de estímulos da pandemia passou pelo Banco Central permitir a rolagem das dívidas que estavam ficando em atraso”, avalia Audi.