Pouco afeito à inovação, o mercado imobiliário já está resolvendo impasses e criando oportunidades de negócio com ajuda de novos entrantes do mercado de tecnologia. Ao todo, pelo menos 217 startups atuam no nicho.
As informações são de levantamento divulgado ontem (23) pela aceleradora Liga Ventures. Seguindo tendência ditada pelas fintechs, parte das empresas mapeadas se identifica como proptechs – em termo que alia property (propriedade) à tecnologia. Os serviços ofertados passam tanto por inovações como internet das coisas, realidade virtual e chatbots quanto pela gestão de obras, condomínios ou carteiras.
“O setor de construção civil é um dos que menos investe em inovação – não só no Brasil, mas no mundo”, observou o consultor responsável pelo estudo da Liga Ventures, Raphael Augusto. “Enquanto eles investem 0,5% do faturamento em inovação, setores de ponta como o de eletrônicos aportam 9%”, completou.
Um dos fatores que colaboram para a mudança do quadro é justamente a crise enfrentada pela construção civil durante a recessão – quando o PIB do setor encolheu 4,9%. Oriundo do mercado imobiliário e CEO da plataforma de gestão de risco Risknow, Leandro Abreu conta que apostou na empresa nascente por estar “incomodado” com o alto de nível de distratos – ou a quebra de contratos de venda de imóveis.
“[Isso ocorre porque] o setor desconhecia o perfil de risco dos clientes”, afirma Abreu. Como resposta, a Risknow condensa informações do consumidor oriundas do processo de compras, além de 25 bases de dados e redes sociais, para calcular o score de potenciais compradores. “Conseguimos separar bons clientes de maus clientes”, pontua o empresário.
Segundo Abreu, o serviço já foi utilizado por clientes que incluem duas companhias listadas. Vale lembrar que a recém-sancionada Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) deve criar novas obrigações para modelos de negócio do gênero a partir de 2020.
No caso da uCondo, a dor de cabeça que pode ser resolvida é a gestão de condomínios. Fundador da startup, Marcus Nobre explica que mais de 30 funcionalidades são ofertadas pela plataforma, que interliga moradores, porteiros, síndicos e administradoras.
Além de facilitar a comunicação entre as partes, a uCondo consegue gerar economias. No caso de uma administradora com dez condomínios que utilizou o serviço, a emissão de boletos através da plataforma reduziu as tarifas bancárias em R$ 21 mil dentro de um ano.
A gestão de propriedades e condomínios é uma das áreas mais quentes entre as identificadas pela Liga Ventures: ao menos 30 startups atuam na vertical. Potencial semelhante foi visto entre buscadores e comparadores – que reúne outras 30. As startups de mapeamento de propriedades e realidade aumentada ou virtual somam 24 (veja mais no gráfico).
Chatbots - Outro segmento em alta na visão da Liga Ventures é o de home services – onde se insere a Upik. “No Brasil, 85% das reformas são autogeridas”, argumenta um dos fundadores da startup, Daniel Alves. Pensando nisso, a empresa oferece um serviço de consultorias rápidas com arquitetos e designers de interiores.
O serviço opera através de chatbot hospedado no Facebook Messenger. O consumidor final não arca com o custo; quem remunera o serviço são grandes redes de construção como Leroy Merlin e C&C. “[Após a consulta,] a loja pode fazer um follow para aumentar as vendas”, afirma Alves.
Chatbots também podem ser utilizados na venda de imóveis. Ao DCI, a construtora e incorporadora Plano&Plano relatou o lançamento de um chatbot nomeado como Priscila. A ideia é incrementar vendas através do autoatendimento disponível 24 horas por dia.
Futuro - Das 217 startups mapeadas pela Liga Ventures, 10 auxiliam a busca por espaços compartilhados como opções de coworking e de coliving (ou o compartilhamento de moradias). Outro nicho emergente é o das empresas que oferecem soluções de internet das coisas (IoT) para monitoramento, automação e controle de acessos e equipamentos: pelo menos sete startups já estão explorando este mercado.