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Gigante do varejo de material de construção diz que fabricantes exageram no preço

30/03/2021 / Categorias Mercado imobiliário , Economia

(Folha de S.P – Economia – 30/03/2021)

 

O fechamento das lojas de materiais de construção nessa nova rodada de restrições de funcionamento por causa da pandemia derrubou mais da metade do faturamento da Obramax, atacarejo para material de construção do grupo Adeo, dono da Leroy Merlin.

Michael Reins, presidente da empresa, diz que tem tentado dialogar com o governo argumentando que o atendimento presencial nas lojas físicas pode ajudar o consumidor na compra de produtos com sistemas complexos que requerem algum tipo de explicação do vendedor.

Sobre os altos preços no varejo de material de construção, Reins afirma que a falta de insumos e o câmbio afetam, mas diz que vê pressão de fabricantes.

"A gente tem observado falta de produto, aumento de preços e uma queda de braço com a indústria, que, às vezes, é dura. Nós tentamos frear isso, mas, às vezes, recebemos a orientação: 'Se você não aceita meu preço, eu não vou conseguir mais te atender'", afirma.

Os fechamentos por causa da pandemia atrasaram o plano de expansão da empresa no Brasil, mas Reins diz que a multinacional ainda vê potencial no país, apesar dos desafios administrativos e fiscais e, agora, a questão dos preços.

O setor surfou no impulso do mercado imobiliário e no auxílio de R$ 600 do ano passado, mas a próxima rodada não é vista como um grande motor para 2021. "Tem o auxílio emergencial que vai ajudar talvez um pouco, mas provavelmente bem menos do que no ano passado. Os valores estão menos relevantes. Tenho dificuldade de imaginar se isso realmente pode contribuir", diz Reins.

Como a pandemia afetou o comércio de materiais de construção?

De forma bem significativa, porque, atualmente, estamos fazendo mais ou menos 45% do que a gente fazia antes das restrições decretadas pelo governo. Nosso faturamento é menos da metade do que era antes da pandemia.

De um lado, entendemos a situação sanitária e temos que fazer um esforço para diminuir o contágio enquanto a vacina não atinge a maior parte da população. Por outro lado, estamos bem preocupados. A casa é o último refúgio que nós temos no contexto em que estamos. As pessoas têm cuidado muito mais do lar do que antes. Acho que isso foi perceptível nos últimos meses. E nem sempre é uma questão de cuidados. Às vezes bate uma chuva forte, um cano estoura, um disjuntor falha.

A gente fica dialogando com o governo: 'Olha, veja, entendemos o momento, mas não somos um grande foco de contaminação e desde o início da pandemia sempre usamos as máscaras'. A gente toma todos os cuidados necessários.

Meu ponto é que [estando de portas fechadas], de certa forma, também prejudicamos a população e prejudicamos a manutenção e a evolução dos lares nesse momento de pandemia. Isso é o que temos tentado explicar para o governo, através das nossas entidades de representação.

Vocês tentaram recorrer ou negociar para abrir nesse último fechamento em São Paulo?

No nosso caso, não. Tem concorrentes nossos que recorreram, mas a gente acredita que vale, antes de tudo, o diálogo com o governo. Estamos ainda nessa tentativa de explicar a realidade dos imóveis, dos prédios, das casas, dos hospitais. Nós vendemos soluções complexas, como sistemas construtivos, de encanamento e elétrico, que, muitas vezes, necessitam de interação de quem vem buscar esse produto nas lojas.

Além disso, tem todo o contexto das pequenas e médias empresas e indústrias. Quando reduz assim, drasticamente, todo o setor da construção civil acaba sofrendo. O que nós observamos depois da primeira onda forte de restrições de circulação, no início do ano passado, é que a indústria fechou muito rapidamente e fez o volume de negócio cair muito, e para reiniciar foi extremamente difícil.

Desequilibra completamente o setor, pode prejudicar determinadas indústrias e diminuir a disponibilidade do produto no mercado ou até encarecer o produto, porque se algumas fábricas acabam desaparecendo, vai diminuir a concorrência. E a concorrência é boa para o consumidor, porque permite ter uma competitividade no preço.

Tem matéria-prima da construção em falta. Como isso tem refletido nos preços? E as entregas da indústria?

Foi um ano extremamente difícil porque falta insumo e o real desvalorizou bastante, o que encarece as matérias-primas importadas. Mas a gente viu também alguns exageros de alguns fabricantes. Nem tudo era devido à questão da falta de insumo ou da desvalorização cambial. E ainda, de novo, a demonstração de que precisa ter um mercado com concorrência, porque quanto menos concorrência, mais os poucos players conseguem dominar a precificação do mercado. Isso é ruim. É ruim para nós, é ruim para o consumidor.

Olhamos com dedicação para as classes C, D e E, que representam hoje mais de 83% das transações no autosserviço físico.

A gente tem observado falta de produto, aumento de preços e uma queda de braço com a indústria, que às vezes é dura. Nós tentamos frear isso, mas às vezes recebemos a orientação: 'Se você não aceita meu preço, eu não vou conseguir mais te atender'. E a Obramax precisa da disponibilidade em grande volume para o atacado.

Esse repasse de preços da indústria é justificável?

Não vou citar indústrias para não expor, mas, em determinados setores, a gente vê situações estranhas. Ou, pelo menos, se elas não são abusivas, são difíceis de serem entendidas. A gente não consegue encontrar, mesmo com a variação cambial, o que justificaria tal aumento. Tem algumas indústrias, na nossa visão, que exageram, e isso não é bom para ninguém.

Estamos preparando a abertura da nossa terceira loja, no estado do Rio de Janeiro, e tivemos que sentar de novo com os fornecedores com quem já tínhamos fechado o preço porque eles não aguentavam mais o contrato. Para eles, era mais valioso sair do contrato do que assumir o preço que tinham combinado lá atrás com a gente. Tivemos que aceitar esse impacto do custo e nem sabemos se vamos conseguir recuperar esse investimento acrescido lá na hora de abrir.

Já é um desafio investir num momento desses. Estamos fazendo, inclusive, pela crença que temos no mercado e no potencial que a Obramax tem para o mercado brasileiro. Mas entre a complexidade administrativa, a complexidade fiscal e, agora, os aumentos de preços, é desafiador.

A pandemia afetou os planos de expansão da empresa?

Atrasou um pouquinho, porque no ano passado ficamos parados alguns meses sem saber bem como as coisas iam andar. O plano que a gente tinha de iniciar a expansão já no ano passado foi postergado.

Temos uma loja em construção, e vai seguir assim enquanto não tiver lockdown. Por exemplo, na Baixada Santista estão proibindo todas as obras, a não ser as emergenciais. No Rio, não tem essa determinação, então estamos tocando nossa obra.

A pandemia é uma coisa que passa. A gente vê nos países lá fora o efeito benéfico da vacina. Acreditamos que a vacina é o grande instrumento de retomada, não somente da situação da vida das pessoas, mas também da economia.

Temos que achar um bom equilíbrio nesse momento entre salvar vidas e manter um mínimo de atividade econômica funcionando para ter condição de retomar depois, quando a situação sanitária for sanada.

Onde serão as novas 18 lojas?

Principalmente no Sul e no Sudeste por motivos de logística. Vamos priorizar os estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo, onde estamos já presentes com duas lojas, e provavelmente Paraná e Distrito Federal.

Quanto o fechamento total das lojas impactou nas vendas da Obramax?

Semana passada o faturamento foi de 45% de uma semana normal antes das restrições. E agora com lockdown na Baixada Santista será ainda mais forte.

Quais são as perspectivas para o comércio de materiais de construção daqui para frente, considerando nova onda da pandemia, aumento de juros e retomada do auxílio emergencial?

Sou otimista. Uma vez passado [esse pico epidemiológico], eu acho que as pessoas vão continuar cuidando de casa. Tem o home office, que vai se manter para quem trabalhava em escritório.

Os juros para a compra de imóveis nunca foram tão baixos. E hoje, para quem tem capacidade de investimento, não adianta mais aplicar na renda fixa ou na poupança. Então, estão buscando alternativas para o patrimônio deles render. Onde tem essa possibilidade? Na renda variável, mas com uma certa complexidade de ser dominada pelo grande público, ou em imóveis, que muitas vezes se demonstraram resilientes à inflação. Tem muitas famílias que investiram em imóveis e tivemos uma demanda muito boa no final do ano passado.

Depois, tem o auxílio emergencial que vai ajudar talvez um pouco, mas provavelmente bem menos do que no ano passado, até porque os valores estão bem menos relevantes. Tenho bastante dificuldade de imaginar se isso realmente pode contribuir.

Me mantenho um otimista cauteloso, porque vai depender do quanto essa fase será danosa para a população do ponto de vista do poder aquisitivo, do emprego, e o quanto a economia retoma rapidamente.

Qual é a sua opinião sobre lockdown?

Tem benefícios e malefícios. Entendo a questão do lockdown do ponto de vista sanitário, mas o problema é que se o dano para a economia foi maior que o benefício para a vida das pessoas, a gente vai ter sérias dificuldades nos próximos meses. Acho que o importante é encontrar um ponto de equilíbrio.

Na Europa, por exemplo, não se fez mais lockdown generalizado. Se tenta fazer ações mais práticas onde tem a necessidade de frear rapidamente e fortemente o contágio da Covid, mas em paralelo a isso, tem que haver ajudas e assistências do governo para as empresas, para os funcionários. Uma coisa que é bem comum na Europa é o seguro-desemprego, que substitui em partes a remuneração das pessoas que não podem mais trabalhar.

Então, lockdown total, esperando que a gente vá manter um emprego e pagar 100% dos funcionários, eu acho que é uma ilusão. Um grande número das pequenas e médias empresas não tem condições de fazer isso. Obviamente, o lockdown pode ajudar a controlar a pandemia, mas só se tiver também algumas flexibilizações e ajuda do governo.

No ano passado, houve coisas interessantes, como postergação de imposto, flexibilização sobre as regras trabalhistas, auxílio emergencial para ajudar as famílias carentes que tinham dificuldade de manter a renda. Com lockdown sozinho, vamos para um drama ainda maior. Além de um drama sanitário, a gente vai para um drama econômico.

E o sr acha que nesse ano o governo está proporcionando os recursos necessários?

Atualmente é mais difícil. No ano passado eles tiveram uma forte mobilização a nível federal e estadual para adaptar a legislação em apoio à manutenção dos empregos. Os governos têm dificuldade de arrumar um financiamento para tudo isso. Eu vi algumas coisas de crédito facilitado para determinados setores, mas não conheço muito bem essas medidas porque não fomos impactados.

Mas, por exemplo, lockdown na Baixada Santista, e daquilo que eu estudei, não vi nenhuma medida que possa ajudar a financiar a perda de renda nas empresas. Estou curioso para ver qual vai ser o resultado disso tudo.

A Obramax vai fazer um esforço tremendo para manter o emprego. Estamos tentando colocar as pessoas de férias, mas a gente teve uma queda muito forte do faturamento, e eu preciso de faturamento para pagar os salários. Somos uma empresa grande, a gente vai aguentar alguns dias. Para mim, é importante manter o emprego, porque, se eu contribuo também para o desemprego, eu ainda jogo contra o próprio interesse de poder retomar meu faturamento quando as medidas de restrição forem diminuídas ou eliminadas. A gente vai aguentar o que puder.

Já anunciei para nossos colaboradores que o emprego e o salário ficam mantidos. Mas imagina o quanto isso deve ser complicado para as pequenas e médias empresas.

Qual é a avaliação que o sr faz sobre a condução da pandemia pelos governos estadual e federal?

Não vou me pronunciar sobre os governos, não costumo falar sobre aspectos políticos. O que é certo é que devemos nos mobilizar da melhor forma para orientar nossos funcionários, não somente a tomar todas as medidas de precaução, como uso de máscara, distanciamento, higiene das mãos. Quando eles vão embora do trabalho à noite eles recebem uma máscara PFF2 para ir no transporte. A gente tenta dar as melhores ferramentas de proteção e flexibilizar ao máximo os horários. Do nosso lado, do lado da sociedade, nós, como indivíduos, temos que fazer a nossa parte, até porque depende do indivíduo também sair dessa pandemia.

Acreditamos que esse movimento de vários empresários de incentivar a aceleração da vacinação seja a via correta. Precisamos seguir nessa prioridade absoluta de vacinar cada vez mais pessoas o mais rápido possível, com mais vacinas. 

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