(Valor Econômico – Empresas – 10/12/2018)
Marina Falcão
Dono da distribuidora Nacional Gás, Esmaltec (fogões e geladeiras), Minalba (águas) e de um dos maiores bancos de terrenos do país, o grupo cearense Edson Queiroz se prepara para, no próximo ano, participar pela primeira vez de leilões de energia eólica e se lançar no ramo de incorporação imobiliária.
Em paralelo, o grupo está deixando de atuar em negócios menores que estavam dando prejuízo, como a fabricação da tintas imobiliárias (Hipercor) e o beneficiamento de castanhas, disse o diretor-presidente do grupo, Abelardo Gadelha Rocha Neto, ao Valor.
Economista formado pela Universidade Federal do Ceará (UFC), Gadelha é um dos netos do empresário Edson Queiroz, que morreu aos 52 anos em 1982 um acidente com o voo da Vasp. Aos 41 anos, ele assumiu o comando da empresa em meados do ano passado, após o a morte do tio Aírton Queiroz que estava a frente dos negócios.
Juntamente com mais dois primos - Igor Queiroz Barroso e Edson Queiroz Neto -, o empresário vem promovendo uma série de mudanças no grupo, que partem da estruturação da governança corporativa.
Com 12 mil empregados e faturamento de R$ 7 bilhões previsto para este ano, o grupo montou pela primeira vez um conselho de administração - com dois membros independentes - e está terminando de formatar um acordo de acionistas.
O banco de terrenos do Edson Queiroz conta com pelo menos 300 imóveis e, segundo Gadelha, houve um grande esforço para regularizá-los nos últimos anos. Em um desses terrenos, localizado em Aracati (CE), na divisa com o Rio Grande do Norte, o grupo identificou elevado potencial para produção de energia eólica. Os estudos ainda estão sendo finalizados, mas Gadelha se diz "bastante otimista" de que o negócio é viável. Ele calcula que todo o terreno possa comportar investimento de mais de R$ 1 bilhão. "Energia limpa: hoje é bonito e amanhã pode ser necessário", afirma.
Para o empresário, o investimento em energia eólica é estratégico porque pode servir tanto para vender energia no mercado livre quanto para abastecer a demanda do próprio grupo.
Também no próximo ano, o grupo quer lançar seu primeiro empreendimento imobiliário, com a Quepar Participações. A maior probabilidade é que a estreia seja um residencial de altíssimo padrão na orla da Fortaleza. Em seguida, é possível que o grupo comece a atuar nos segmento do Minha Casa, Minha Vida, com lançamentos em São Paulo e no Recife. "Estamos aguardando apenas reações mais nítidas de recuperação do mercado imobiliário", diz Gadelha.
Segundo o empresário, no segmento agrícola, o grupo deve diversificar atuação que hoje se restringe à produção de leite. Há terrenos com potencial de produção de grãos no Maranhão e Piauí e estudos estão sendo desenvolvidos para identificar outras culturas promissoras em outras propriedades.
A nova gestão do grupo Edson Queiroz tem uma postura mais ativa em relação às aquisições. Após décadas sem comprar nada, a Minalba Brasil adquiriu este ano as marcas de água da Nestlé, em uma operação que consolidou a liderança do grupo nesse mercado. O valor da transação não foi divulgado.
Um pouco antes, o grupo já vinha ensaiando movimentos mais agressivos de aquisição. Com a Esmaltec, tentou comprar a Continental da falida Mabe e, com a National Gás, fez oferta pela Liquigás, da Petrobras, mas acabou não levando nenhum dos ativos. A Continental ficou com a Electrolux e a Ultragaz venceu o leilão pela Liquigás, mas o Cade impediu o fechamento do negócio. Como o setor é considerado oligopolizado, a expectativa é de negócios entre as grandes no setor aconteçam por restrições regulatórias, a não ser que os ativos sejam fatiados..
"Estamos mais abertos a olhar aquisições, mas a gente não paga mais do que vale não, viu?", afirma Igor Queiroz Barroso, que assumiu a diretoria institucional do grupo, acumulando as áreas jurídica e de auditoria.
Este ano, a greve dos caminhoneiros prejudicou bastante a logística da National Gás, que precisou recorrer à cabotagem a partir do Porto do Pecém. Quarta maior distribuidora de gás do país, a Nacional Gás representa cerca de 70% do faturamento do grupo. A Esmaltec é 14% e Minaba, 11%.
Sem mencionar números, Barroso diz que o grupo é bastante conservador na questão do endividamento. "Somos três vezes líquidos. O Brasil não é fácil, não é para amadores", afirma. Única empresa do grupo que divulga suas demonstrações financeiras, a Esmaltec tinha em caixa R$ 117 milhões no fim do ano passado, mais que o dobro do total dos seus compromissos financeiros.
De 2015 para a cá, a fabricante de fogões passou por uma forte reestruturação operacional e voltou a dar lucro, com a implementação do modelo de manufatura enxuta da Toyota. A companhia saiu de prejuízo de R$ 47 milhões em 2015 para ganho líquido de R$ 7,23 milhões em 2017, quando faturou R$ 822 milhões.
Por muitos anos, foi cogitada no mercado a venda da empresa para competidores maiores. A antiga gestão, comandada pelo tio Aírton e por sua mãe - a viúva de Edson Queiroz, Yolanda Queiroz - era contra. Yolanda morreu em 2016. "Morro pequenininha mas não vendo. Ela pensava assim. Não está mais aqui, o que não significa que vamos vender", afirmou Barroso.
Na área de comunicação, o grupo é dono de duas afiliadas da Rede Globo, rádios em Fortaleza, Ceará e Rio, além do jornal impresso Diário do Nordeste. Os veículos ficaram sob comando de Edson Queiroz Neto, que é também diretor executivo do grupo. Recentemente, o jornal impresso passou por uma mudança de formato que reduziu em 30% o gasto com papel.
Para promover as mudanças, o grupo recebeu consultoria McKinsey e Pinheiro Neto.