(Estado de S.Paulo – Economia – 30/03/2021)
A elevação da Taxa Selic de 2% para 2,75%, e a projeção para uma nova alta a 3,5% em maio, pelo menos por enquanto, ainda não é considerado o principal vilão da construção civil. Enquanto esteve em seu menor patamar, a taxa básica de juros foi o motor que manteve a construção civil superaquecida, graças à oferta de créditos imobiliários com juros bastante atraentes.
Por ora, o que preocupa mesmo é o aumento do valor dos insumos, que vem numa curva crescente desde o início da pandemia, há um ano, e o risco de desabastecimento, impulsionado pela nova paralisação do mercado por conta da quarentena.
A Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) prevê um impacto maior aos empreendimentos direcionados ao programa Casa Verde e Amarela (o novo Minha Casa, Minha Vida), cujos imóveis são direcionados às famílias com renda mensal entre R$ 2.500 e R$ 4.500.
Esses imóveis podem sofrer uma retração que vai impactar até mesmo o consumidor. O problema é que a margem de lucro das construtoras é menor com os imóveis que atendem ao programa federal. Com a alta dos insumos, esse lucro, que já é baixo, cai ainda mais. E isso vai desestimular o surgimento de novos empreendimentos para esse público.
Em 2020 esse efeito já foi sentido pelo próprio Casa Verde e Amarela. No quarto trimestre do ano passado, 47,1% do total de lançamentos imobiliários foram feitos com vistas ao programa, uma queda expressiva frente aos 54,7% vistos no trimestre anterior.
Será necessário que o governo federal aperte o próprio cinto para manter o programa vivo. Ou o governo aumenta o incentivo ao mercado interno ou dá uma abertura maior para as importações. Outra medida vai ser abrir a possibilidade de renegociação de prazos com as construtoras. Sem flexibilidade, e com o cenário de hoje, não tem mais programa habitacional.