(Estado de S.Paulo – Economia – 04/08/2020)
Fernanda Guimarães e Circe Bonatelli
Depois que as ofertas iniciais de ações (IPOs, na sigla em inglês) da Riva 9, controlada da Direcional, e da You Inc. morreram na praia, por não conseguirem demanda suficiente de investidores, o questionamento do mercado se volta agora para as demais empresas do setor imobiliário que estão na lista para abrir o capital. Pelo menos dez já entraram com o pedido de oferta feito junto à Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
O excesso de ofertas do mesmo setor deverá provocar uma seleção entre as proponentes, segundo um gestor. O cancelamento dos IPOs de Riva 9 e You Inc. ocorreram em um espaço de uma semana. O insucesso das duas ofertas prova que, apesar da liquidez nos mercados e dos juros baixíssimos no Brasil, investidores estão seletivos. Como contraponto, outras ofertas nas últimas semanas tiveram demanda superando em múltiplas vezes o volume ofertado, casos do Grupo Soma e da Ambipar.
A questão é ainda mais complexa, segundo fontes. Isso porque até mesmo as empresas apontadas com fortes no setor, como a Cury, uma investida da Cyrella, vem sendo considerada "cara" pelos investidores. A companhia quer ser lançada em seu IPO com um múltiplo, considerando o preço sobre o valor patrimonial, de 20 vezes, disse a fonte.
Nos bastidores do mercado, o comentário é que isso representa um excesso de ofertas e que somente algumas delas terão sucesso. No início do ano, em fevereiro, Mitre Realty e Moura Dubeux, também do setor, abriram capital na B3. Além disso, as candidatas estão com avaliações consideradas altas, com o mesmo múltiplo ou maior daquelas já listadas, que possuem um histórico junto aos investidores. Assim, perdem o apelo.
Com tantas ofertas do setor na fila, a aposta era de ocorrer a maior migração de empresas de construção para a bolsa em mais de uma década. A expectativa estava ancorada no fato de que, apesar do baque que veio com a pandemia, o otimismo no setor vem sendo retomado. Os juros mais baixos dos financiamentos, a demanda reprimida por moradias desde a última crise, e o preço baixo dos imóveis (eles cresceram menos que a inflação nos últimos anos) são vistos como ingredientes para uma nova era de bonança.