(O Estado de S. Paulo – Economia e Negócios – 11/01/2019)
A tendência de queda do ritmo de crescimento da população brasileira é constante nas últimas cinco décadas, mas nem por isso o déficit de habitações está diminuindo no País. Ao contrário, segundo reportagem recente do Estado, esse déficit atingiu nível recorde na última década, num total de 7,78 milhões de unidades em 2017, mostrou estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) contratado pela Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc).
O que se destaca no trabalho é a existência de um grande mercado potencial de imóveis. A maior carência de moradias está nas faixas de baixa renda, formadas por famílias que percebem até três salários mínimos mensais, afirma Robson Gonçalves, da FGV.
O déficit recorde “ocorre, sobretudo, pela inadequação da moradia – famílias que dividem a mesma casa, moram em cortiços, favelas – e pelo peso excessivo que o aluguel passou a ter no orçamento das famílias nos últimos anos”, explica Gonçalves.
O principal fator para o aumento do déficit foi a recessão econômica de 2014/2016, seguida de lenta recuperação das atividades. Entre outros fatores, cabe notar a diminuição da oferta de crédito para as unidades de baixo valor, onde o déficit é mais alto. Nos últimos anos, o Programa Minha Casa, Minha Vida não atendeu a toda a demanda, em especial nas faixas de renda de até 1,5 salário mínimo.
À medida que a retomada econômica ganhe força, é previsível um aumento da demanda em todas as faixas. Construtoras com capital aberto que atuam principalmente nos segmentos de média e alta rendas já constatam uma valorização de suas ações superior à valorização média dos papéis negociados na bolsa B3. É sinal de que muitos investidores já acreditam na melhora do mercado.
As incertezas dos últimos dois anos afetaram as operações. “O brasileiro que não perdeu seu emprego ficou com medo de ficar desempregado e adiou a compra da casa”, notou Gonçalves. Entre os que ficaram sem emprego, alguns “tiveram de interromper um financiamento”, explicou.
Agora, será decisiva a força da recuperação da atividade e da redução do desemprego, ajudada pela oferta de crédito à baixa renda prometida pela nova direção da Caixa Econômica Federal. Caberá ao setor privado financiar as faixas de renda média e média alta.