(Valor Econômico – Empresas – 28/12/2018)
Fernanda Pires
Adquirida há dois anos pelo grupo de infraestrutura China Communications Construction Company (CCCC), a Concremat Engenharia e Tecnologia se prepara para uma mudança no portfólio de negócios em 2019 e consequentemente para um salto na receita. Ambos movimentos virão do crescimento das atividades de EPC (sigla em inglês para engenharia, aquisição e construção) a partir de dois contratos assinados em 2018.
São eles a construção do porto privado de São Luís (MA), uma obra de longo prazo iniciada em março e avaliada em mais de R$ 1,5 bilhão. E o gasoduto Rota 3 da Petrobras, que ligará o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) a Maricá (RJ). O contrato foi firmado em novembro e é de aproximadamente R$ 200 milhões.
Com isso, a perspectiva é que em 2019 a Concremat amplie a receita líquida em 48%, para R$ 710 milhões, e mude o perfil do portfólio, com ganho de participação do braço de EPC sobre a área de engenharia consultiva, o carro-chefe da companhia e segmento em que é líder no país. O terceiro pilar de negócio da empresa é a área de meio ambiente, onde estão abrigados serviços como licenciamentos e "due diligence" ambiental.
A área de EPC foi criada no fim de 2017, estava planejada desde o início da transação que resultou na compra de 80% da Concremat pela CCCC um ano antes. Hoje existe um time dedicado que mistura a capacidade de engenharia da "antiga" Concremat com profissionais recrutados no mercado com histórico de obras de grande porte. "A área de EPC vai crescer muito, tanto devido aos dois novos projetos quanto aos que esse time está perseguindo", diz o presidente da companhia, Mauro Viegas Neto, sem abrir detalhes do que está no radar.
A Concremat é a "plataforma de localização" de oportunidades de negócios da CCCC no Brasil. Hoje a CCCC tem dois negócios no país - a própria Concremat e o controle do porto de São Luís. A intenção do conglomerado asiático é ter outros empreendimentos que exijam investimento intensivo e que tenham alguma previsibilidade de receita, notadamente portos, pontes, ferrovias e dutos.
"O governo está se esforçando para continuar investindo em uma carteira de projetos de infraestrutura. Estamos com uma visão positiva para 2019, mas observando a agenda de reformas", afirma.
O porto em São Luís e o gasoduto não são os primeiros projetos de EPC da Concremat, mas são os primeiros da "fase chinesa" da empresa. A novidade, diz Viegas, é um EPC com "E" (de Engenharia) forte e com baixo nível de terceirização; um "P" (de Aquisição, na tradução do inglês) que utiliza cadeias de fornecimento globais; e um "C" (de Construção) baseado em alianças com grupos nacionais de médio porte.
Para os chineses, é importante que a Concremat seja percebida como empresa brasileira. O conselho, formado por quatro membros, tem dois executivos da CCCC, um conselheiro independente indicado pelo controlador e um nomeado pela Concremat. A diretoria é brasileira. "Eventualmente trazemos especialistas da China, pessoas que podem colaborar com conhecimentos específicos. O que faz com que na prática a empresa tenha se alterado muito pouco", afirma o executivo. Ele é filho de Mauro Viegas Filho, que foi presidente da empresa durante muitos anos e é atualmente conselheiro. A Concremat foi fundada por Mauro Viegas (avô e pai, respectivamente).
Não existe perspectiva de a CCCC assumir os 20% restantes da Concremat, pulverizados entre 12 executivos da empresa. "Estamos muito contentes com a parceria. O nível das lideranças da CCCC e da própria governança está um pouco acima da média do mercado", afirma Viegas.
Além da expansão das atividades de EPC, a Concremat vem apostando na inovação, como o uso de drones com inteligência artificial embarcada para fiscalização de obras, leitura de volumetria e verificação de execução.
Neste ano a empresa deverá registrar receita líquida de R$ 480 milhões, alta de 4% na base anual. O resultado não reflete ainda os projetos de EPC, que só terão efeito a partir de 2019. Deve-se, essencialmente, à atividade de engenharia consultiva (como projeto e gerenciamento de obra). São 1.200 engenheiros envolvidos na gestão técnica-operacional e na tomada de decisão de projetos que somam quase R$ 30 bilhões.
A estimativa é que a empresa lucre neste ano R$ 12 milhões, revertendo prejuízo de R$ 20,3 milhões em 2017, provocado pelo volume grande de reconhecimento de provisão para devedores duvidosos.