(InfoMoney – Economia – 23/12/2020)
Mariana Fonseca
Enquanto a pandemia causada pelo novo coronavírus deprimiu muitos setores, a intenção de compra de imóveis e o valor das propriedades cresceram. Algumas vizinhanças se destacaram na valorização ao longo de 2020, enquanto outras apresentaram desvalorizações.
Se você está procurando uma propriedade no bairro paulistano de Pinheiros, por exemplo, viu o maior aumento entre os metros quadrados da capital. A alta foi de 7,15% neste ano, para R$ 13.393,24 o metro quadrado.
Já no Rio de Janeiro, a vizinhança do Maracanã foi a que mais se valorizou. O metro quadrado dos imóveis no bairro valorizou 10,81%, chegando a custar R$ 7.373,31.
As informações foram coletadas e analisadas pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas e pelo portal imobiliário Zap. O FipeZap analisou anúncios de imóveis residenciais publicados entre janeiro de 2020 e 14 de dezembro de 2020.
Em termos absolutos, os bairros mais caros por metro quadrado são Itaim Bibi (R$ 14.249,81), Pinheiros (R$ 13.393,24) e Alto de Pinheiros (R$ 13.292,74) em São Paulo. No Rio de Janeiro, são Leblon (R$ 19.484,82), Ipanema (R$ 17.847,84) e Lagoa (R$ 16.429,45).
Mas um mercado imobiliário aquecido não significa que as vizinhanças apenas valorizaram em 2020. A Sé foi o único bairro paulistano listado pelo FipeZap que desvalorizou. A queda de 1,76% no valor do metro quadrado o levou para R$ 7.190,18 nessa região.
No Rio de Janeiro, mais bairros desvalorizaram: Leme (-3,52%), Rio Comprido (-2,20%), São Conrado (-2,09%), Andaraí (-1,37%), Lins de Vasconcelos (-0,92%), Méier (-0,69%), Copacabana (-0,24%) , Vila Isabel (-0,15%) e Cachambi (-0,12%)
O mercado imobiliário em 2020
A pandemia interrompeu uma retomada do mercado imobiliário que acontecia desde o segundo semestre de 2019 — e muito aguardada pelo setor, após cinco anos de resultados mornos ou negativos. O preço dos imóveis cresceu 1,32% em 2015, e 0,57% em 2016. 2017 e 2018 tiveram resultados negativos, respectivamente deflações de 0,53% e de 0,21%. Em 2019, o preço dos imóveis fechou em estabilidade. Mas não demorou para esta nova crise, desta vez iniciada pela área da saúde, ser contornada pelos players de imóveis.
Depois de uma queda na comercialização de casas e apartamentos entre o final de março e abril deste ano, as vendas começaram a se recuperar em maio. Para especialistas ouvidos anteriormente pelo InfoMoney, um cenário realmente favorável se viu de julho em diante. Agosto bombou e os meses seguintes tiveram resultados fortes.
Apesar da demanda aquecida do meio para o fim do ano, os preços médios de venda tiveram uma tendência entre estabilização e leve alta no acumulado de 2020, diz Edivaldo Constantino, economista do Zap+, unidade de negócios da OLX Brasil que inclui o Grupo Zap. Nos últimos 12 meses encerrados em novembro de 2020, o Índice FipeZap de Venda Residencial acumula avanço de 3,19%.
Em São Paulo e no Rio de Janeiro, as variações acumuladas em 12 meses mostram altas respectivas de 3,64% e 1,13% no preço médio de propriedades residenciais. “São Paulo teve um mercado mais dinâmico, com maior crescimento no valor das propriedades”, diz Constantino.
A intenção de compra também aumentou. Em relatório sobre o terceiro trimestre deste ano elaborado pelo FipeZap, a proporção de respondentes que declarou intenção de adquirir imóveis nos próximos três meses apresentou nova alta. A intenção passou de 43% no segundo trimestre para 48% entre os respondentes da amostra do terceiro trimestre de 2020. O resultado estabelece novo patamar recorde na série histórica da pesquisa, iniciada em 2014.
Movimentos em diversos planos explicam essa vontade de comprar propriedades mesmo durante uma pandemia. Especialistas anteriormente ouvidos pelo InfoMoney citaram uma demanda reprimida entre 2014 e 2018; a busca por moradias com mais espaço nesta pandemia, mesmo que em detrimento da localização, o que movimentou o mercado; e a forte queda da taxa básica de juros, a Selic. De agosto de 2019 a agosto de 2020, a Selic teve nove quedas seguidas, passando de 6,5% ao ano para os atuais 2% ao ano. O menor nível histórico da taxa básica de juros permitiu uma redução das taxas cobradas nos financiamentos imobiliários.
Segundo Constantino, as perspectivas são “bem positivas” para 2021. “Destaco a redução dos juros, que foi o motor através do qual o mercado imobiliário cresceu em 2020. A Selic deve permanecer em níveis atrativos, promovendo a incorporação de mais pessoas ao segmento de imóveis. Outro fator para o otimismo é a sinalização de que o mercado de trabalho caminhará com suas próprias pernas, após o fim do auxílio emergencial”, diz o economista.
Essas expectativas são condicionadas à efetividade do plano de imunização, com posterior retrocesso dos contágios pelo coronavírus, e a “bases sustentáveis de crescimento”. “O plano é que um novo isolamento não reapareça, o que afetaria toda a recuperação econômica. Consideramos que política fiscal, reformas administrativas, mercado de trabalho e controle de preços caminhem de acordo”, completa Constantino.