Depois de ver reduzido em um quarto o consumo de cimento no mercado nacional, em quatro anos de quedas consecutivas, os fabricantes instalados no país apostam num início de retomada em 2019. A expectativa se baseia em conversas realizadas em encontros entre representantes do setor e os candidatos que disputavam a Presidência da República. Para eles, em consenso, "o melhor caminho para aumentar a atividade econômica do país passa pela reativação da indústria da construção, que é uma grande geradora de empregos".
Por isso, conforme Paulo Camillo Penna, presidente do Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC), já se vislumbra um aumento nas vendas, e no consumo, de cimento entre 3% e 3,5%. A mensagem deixada ao setor foi de prioridade na retomada das obras de infraestrutura paralisadas, licitar mais concessões em vários segmentos, manter o programa habitacional popular Minha Casa, Minha Vida e ampliar condições de renda e crédito para compra e reforma de imóveis. "A indústria da construção já vai para cinco anos de retração, uma a mais que nós", comentou Penna.
"Não é um número extraordinário [3% a 3,5% de crescimento da demanda], mas já marca um início de inflexão da curva declinante do consumo de cimento no país, que vem desde 2015", diz. A reversão estava prevista para este ano, mas foi atropelada pela greve dos caminhoneiros, em maio, e pela desaceleração da atividade econômica do país a partir de junho, com incertezas políticas, lembrou o executivo ao Valor.
No início do ano, o setor cimenteiro projetou, conforme desempenho verificado a partir de dezembro de 2017, que as vendas de cimento poderiam crescer de 1% a 1,5% neste ano, comparado com o desempenho de 2017, que foi de 53,3 milhões de toneladas. "Apenas com a greve dos caminhoneiros a indústria teve uma perda de 900 mil", afirmou.
Nas contas da entidade, o que se verá é um decréscimo da ordem de 2% ante o desempenho de 2017. E a capacidade ociosa do parque fabril cimenteiro deverá terminar o ano em 48% - o parque cimenteiro tem condições de fabricar 100 milhões de toneladas ao ano. Em quatro anos, a retração acumulada nas vendas da cimenteiras chega a 26%
Penna observa que metade da retração deste ano ficou na conta da greve e outro tanto é fruto da desaceleração da atividade econômica. Estimava-se vender 54 milhões de toneladas em 2018. Agora, nos cálculos do SNIC, com números revisados, após os dados de setembro, estima-se vendas de 52,1 milhões de toneladas.
Os anos dourados da indústria cimenteira - de 2005 a 2014 - ficaram apenas na lembrança das fabricantes locais. No período, o consumo no país mais que dobrou, para 72 milhões de toneladas. Hoje, de 100 fábricas instaladas, cerca de 20 estão com atividades paralisadas e das 80 que operam muitas estão com um ou até dois fornos desativados.
Os números compravam essa realidade. Ontem, o SNIC divulgou que as vendas internas caíram 2,2% na soma de janeiro a setembro, na mesma base de comparação, para 39,52 milhões de toneladas. Em setembro, frente ao mesmo mês de 2017, o recuo foi de 5,6%, em 4,6 milhões de toneladas. Em 12 meses, de outubro do ano passado a setembro, as vendas caíram 2,9%, ficando em 52,4 milhões de toneladas.
Penna aponta ainda duas questões que afligem o setor: o aumento do custo do frete, item crucial nesse negócio, e do coque. Gastos com transporte de cimento correspondiam a 28% da receita líquida das empresas. Com o reajuste de 114%, essa fatia elevou-se para cerca de 50%. "É um grande baque na conta das empresas", disse. O coque, que representa 35% do custo de fabricação do cimento e é trazido dos EUA, subiu quase 200% em dois anos e meio, disse o executivo. (Colaborou Chiara Quintão)