(Correio Braziliense – Economia – 04/01/2021)
Especialistas apontam que, como já aconteceu em 2020, o ano de 2021 será bom para investir no mercado imobiliário. Seja para realizar o sonho da casa própria, seja para comprar imóveis como investimento, analistas e representantes do setor afirmam que, com baixas taxas de juros e boas opções de financiamento, o cenário deve continuar positivo para empresas e consumidores.
Estudo da Associação de Empresas do Mercado Imobiliário do Distrito Federal (Ademi-DF) aponta que o mercado imobiliário apresentou, em 2020, “a combinação virtuosa do ambiente econômico, com a taxa de juro básico da economia (Selic) no seu menor patamar histórico, com estímulos adotados por instituições financeiras que reduziram os juros e aumentaram o limite para financiamento imobiliário em meio à pandemia”.
O documento mostra que, em outubro de 2020, o Índice de Velocidade de Vendas (IVV), que mede a rapidez com que os imóveis são comercializados, cresceu 46% em relação ao mesmo mês de 2019. Entre janeiro e outubro de 2020, foram acumulados 31 lançamentos, cujo valor superou o de todo o ano de 2019, alcançando R$ 2,3 bilhões. No mesmo período, o valor total das vendas chegou a R$ 1,7 bilhão, mais que em todo o ano de 2019. Os dados de novembro e dezembro serão conhecidos ainda neste mês de janeiro.
De acordo com representantes do setor, o aquecimento do mercado é resultado da diminuição da taxa básica de juros, a Selic, atualmente em 2% ao ano, o menor nível da história. “Com isso, estamos tendo um crescimento muito grande nos financiamentos ao setor”, observa o presidente do Sindicato de Habitação do Distrito Federal (Secovi-DF), Ovídio Maia.
Para o presidente da Ademi-DF, Eduardo Aroeira, as condições favoráveis para compra de imóvel devem permanecer em 2021. Segundo ele, em 2019, os juros dos financiamentos estavam em cerca de 12% ao ano, mas, atualmente, é possível encontrar taxas de 6,12% anuais, uma diferença significativa, que permite reduzir as prestações para níveis que cabem no bolso de um número maior de consumidores. Além disso, os prazos de pagamento das prestações se alongaram, chegando a 35 anos.
Responsável por realizar pesquisas imobiliárias em mais de 500 cidades do país, Fábio Tadeu Araújo, economista e sócio-diretor da Brain Inteligência Estratégica, acredita que 2021 será “o melhor ano de vendas para o mercado imobiliário, tanto de imóveis novos, quanto de usados”. “O ano de 2019 foi o melhor desde 2014, em termos de vendas, e, em 2020, o crescimento deve ter ultrapassado a casa dos dois dígitos. Isso também é esperado para 2021, com alta acima de 10% nas vendas de imóveis no Brasil”, avalia.
Fábio afirma que, em 2020, houve crescimento de vendas tanto de imóveis novos quanto usados. “Não existem dados nacionais de vendas de imóveis usados. Mas, para os novos, o aumento de unidades vendidas até setembro foi de 8,4% e, em valor, de 12,5%. Isso significa que mais imóveis de alto padrão foram comercializados nesse período. As estimativas já apontavam para um crescimento acumulado de janeiro a outubro na ordem de 10% em unidades e de 16,5%, em valores”, afirma.
Mudança
A servidora pública Andrea Teixeira, 48 anos, conta que está decidida a comprar um imóvel neste ano — e que as baixas taxas de juros serviram como impulso para a decisão. Andrea se mudou para a capital federal há seis anos, vinda do Pará, e, desde então, mora de aluguel. Segundo ela, as taxas de juros elevadas, vigentes na época em que chegou a Brasília, foram o principal obstáculo para encarar um financiamento imobiliário. “Eu achava que não dava conta da prestação. Então, nós moramos de aluguel e acabou se mudando quatro vezes nesses seis anos. Estou muito cansada de mudança”, diz.
“Eu tenho uma casa alugada em Belém, e meu inquilino quer comprá-la. Antes, eu achava muito difícil iniciar esse processo. Não tenho dinheiro na mão, então preciso vender lá para comprar aqui. Mas, depois de quatro mudanças, e com as taxas de juros menores, senti ânimo para começar esse processo. Em março, pretendo ir a Belém para resolver a questão e, até julho, comprar um imóvel financiado aqui”, planeja.
Pandemia afetou mercado
A pandemia da covid-19 também exerceu influência no mercado em 2020, segundo os especialistas. “A partir do momento em que as pessoas precisaram ficar em afastamento social, elas passaram a ficar muito mais tempo em casa. Isso fez com que elas tomassem consciência do quanto uma boa residência é importante para a qualidade de vida. Então, acreditamos que uma parte do crescimento do mercado imobiliário também se dá por esse motivo”, afirma Eduardo Aroeira, da Ademi-DF.
O advogado Bruno Toledo, 35, conta que ele e a companheira tiveram a ideia de comprar uma casa durante a pandemia. Bruno diz que eles sempre preferiram morar de aluguel e investir em Bolsa de Valores e outras aplicações financeiras, mas a queda do mercado de ações, no início da crise sanitária, fez ambos mudarem de ideia.
“Nunca pensamos muito em imobilizar nosso patrimônio. Mas tivemos um susto com a queda da bolsa. Em maio, quando o mercado despencou de 30% a 40%, perdemos muito dos nossos investimentos. Então, nossa ideia foi ‘vamos imobilizar, porque, se essa situação continuar, vamos perder uma parte muito grande do nosso patrimônio.”
Em meados de julho, o casal comprou um terreno. Bruno conta que, com o distanciamento social e o aumento do número de horas passadas em casa, sentiu vontade de morar em uma casa com terreno aberto. “Hoje, vivemos em apartamento. Em maio, estávamos indo muito para a casa dos meus pais, que tem piscina, terreno aberto e tudo. Isso também fez a gente pensar na possibilidade de ter uma moradia semelhante”, conta.
A servidora pública Andrea também se sentiu influenciada pela pandemia para comprar um imóvel. “Durante a pandemia, senti falta de estar em um apartamento meu. Passei mais tempo em casa, aí eu ficava pensando, ‘puxa, se isso aqui fosse desse jeito, se fizesse uma reformazinha aqui, eu ficaria muito melhor em casa’. Só que o apartamento não era meu, não cabia a mim reformá-lo. Aí juntou com a questão do aumento do aluguel e eu falei, ‘quer saber, preciso passar para um apartamento meu”, afirmou.
O economista Hugo Passos, 26, diz que a compra de seu imóvel foi uma questão de oportunidade. “Eu e minha namorada estávamos pesquisando alguns apartamentos na planta, quando surgiu um lançamento a três minutos do metrô, em um bairro muito bom. Foi nossa cara. Calculamos se iríamos conseguir honrar com os pagamentos da entrada para a construtora. Fez sentido e fechamos o negócio”, explica.
Devido à boa localização, diz Hugo, o preço ficou pouco acima da média. “Por ser uma região próxima ao metrô e bairro bom, o custo foi um pouco maior comparado a alguns outros lugares mais distantes”, afirma.
Dicas para uma boa compra
Para quem pretende comprar um imóvel em 2021, a dica de Ovídio Maia, do Secovi-DF, é ter um bom planejamento financeiro para não correr risco de comprometer o investimento. “Planejamento é a palavra-chave. As pessoas têm que investir dentro da sua capacidade de pagamento. Se não pode comprar à vista, faça um financiamento que comprometa, no máximo, 25% da sua renda líquida”, diz.
Segundo Eduardo Aroeira, também é importante verificar a documentação do imóvel, além de investigar o histórico da construtora. Eduardo lembra que, independentemente da situação do mercado, a compra de um imóvel é sempre uma decisão muito importante, que requer cuidados. “A gente recomenda que, primeiro, se verifique a documentação do imóvel. Todo empreendimento precisa estar registrado em cartório, o que a gente chama de memorial de incorporação. É a garantia que o cliente tem de que vai receber o que comprou. É muito importante também que as pessoas investiguem a história da empresa: há quanto tempo está no mercado, qual é a relação com os clientes etc.”
Pesquisar muito é a dica de Fábio Tadeu Araújo, da Brain Inteligência Estratégica. Segundo ele, a pesquisa traz segurança para realizar a compra e é possível fazer tours virtuais para colher mais informações do imóvel e da região. Além disso, o economista lembra que é importante definir as prioridades, como a localização, tamanho ou área de lazer. “Isso traz uma maior segurança na tomada de decisão, pois é pouco provável que o consumidor consiga reunir todas as vontades aliadas ao melhor preço”, afirma.
“Procure preço por metro quadrado barato e compre rápido”, é a recomendação de Bruno Sindona, CEO da Sindona Incorporadora. Ele explica que o indicador tem mais espaço de valorização. “E compre rápido, porque estamos sofrendo uma forte pressão inflacionária dos materiais de construção e dos serviços. Então quem encontrar um imóvel co todos os requisitos de segurança tem que comprar o quanto antes, para poder surfar junto com o mercado”, alerta.