(Gazeta do Povo – Economia – 07/08/2019)
Sharon Abdalla
O cenário de estagnação do mercado imobiliário parece ter ficado para trás. Mais do que de um sentimento do setor, a sinalização vem das estatísticas, que apontam aumento no número de unidades lançadas e também de vendas efetivadas.
Nos primeiros cinco meses de 2019, as incorporadoras colocaram no mercado 28.787 novas unidades, 5% a mais do que no mesmo período do ano passado. Quando se olha para o recorte dos últimos doze meses, tendo maio como referência, a alta é ainda mais expressiva e chega aos 15%. Neste período, foram 101.544 os imóveis novos ofertados, contra os 88.620 dos meses imediatamente anteriores, segundo dados da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc).
Positivos, também, são os resultados referentes à comercialização destas unidades. Mesmo com a queda de 2% nos primeiros cinco meses do ano e de 1% no acumulado dos doze meses sobre as vendas brutas, o consolidado das vendas líquidas (subtração das unidades distratadas do total de comercializadas) reforça o argumento de que se trata de um novo momento. Elas cresceram 9,8% até maio, desempenho similar aos 9% acumulados nos doze meses anteriores tendo o mesmo mês como referência. O motivo: a queda significativa no volume de distratos, ou seja, de cancelamento de contratos de compra e venda, que chegou a 33,8% e 27,3% nestes períodos, respectivamente.
“No ano passado tivemos a publicação da lei que regulou o distrato e tornou claras as regras sobre ele tanto para o comprador quanto para o vendedor, fazendo com que ele não dependa de disputas judiciais [e esteja envolto à] insegurança jurídica. Com isso, os compradores se tornaram mais conscientes e passaram a ter mais segurança para efetuar a compra, as pessoas deixaram de comprar para especular”, destaca Luiz França, presidente da Abrainc, ao justificar a queda do percentual.
Crédito atinge mais alto patamar dos últimos cinco anos - Se as vendas crescem, é natural que levem consigo o aumento dos financiamentos imobiliários, uma vez que boa parte dos compradores tem nos empréstimos o meio para realizar o sonho da casa própria. Nos primeiros seis meses de 2019, a aquisição e a construção de 129,2 mil imóveis foram financiados com recursos do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimos (SBPE) somando R$ 33,7 bilhões em crédito, alta de 30,7% e 33,3%, respectivamente, em relação ao igual período do ano passado. No acumulado dos últimos doze meses, foram movimentados R$ 65,82 bilhões, quase 40% a mais no comparativo com o período anterior.
“Este é o melhor [resultado] desde 2015. Para este ano, estamos projetando que a combinação dos financiamentos via FGTS e poupança chegue a R$ 132 bilhões, o terceiro maior resultado da série histórica, [perdendo apenas] para os anos de 2013 e 2014”, sinaliza Gilberto Duarte de Abreu Filho, presidente Associação Brasileira de Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip).
Para ele, a combinação de dois fatores devem incentivar este cenário: a retomada do apetite dos bancos em voltar a emprestar, tendo como base o saneamento das carteiras durante a crise e a antecipação frente às expectativas de recuperação da economia, e o aumento da demanda por parte dos clientes.
“A retomada é impulsionada, basicamente, por três fatores que estão sendo, e irão continuar, claríssimos. São eles: o baixo nível dos estoques [em maio 123.160 mil imóveis novos eram ofertados no país]; a redução das taxas de juros, e a tendência de quedas mais acentuadas até o final deste ano; e o cenário de alguma recuperação do emprego”, acrescenta Marcos Kahtalian, vice-presidente de banco de dados do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado do Paraná (Sinduscon-PR).
O encaminhamento de questões estruturais para a economia do país, como a reforma da previdência, também contribui para elevar o otimismo do setor e o grau de confiança dos empresários e consumidores. “Desde 2013, 2014, não se tinha uma perspectiva de recuperação e de melhoria tão clara para o mercado imobiliário”, resume Kahtalian.
Balanço - Reformas econômicas e confiança do setor apontam para retomada do mercado de imóveis no país.