(Valor Econômico – Economia – 12/01/2021)
Chiara Quintão e Ivo Ribeiro
Em um ano difícil, marcado pela pandemia do coronavírus, as vendas de cimento no país tiveram desempenho inesperado. O volume comercializado cresceu 10,9%, em 2020, ante o ano anterior, para 60,8 milhões de toneladas, segundo o Sindicato Nacional da Indústria de Cimento (SNIC).
“Foi um desempenho absolutamente surpreendente", disse ao Valor o presidente do SNIC, Paulo Camillo Penna, ao divulgar os números do ano passado e apontar as perspectivas do setor para 2021.
No início do ano passado, a entidade que representa as fabricantes de cimento projetava alta de 3% nas vendas. Em abril, após forte queda da demanda, a estimativa passou a ser de retração de 7% a 9%. Com a retomada gradual a partir de maio e a forte expansão de quase 27% em junho, na comparação anual, a expectativa se inverteu completamente e voltou a ser de crescimento.
O total de 60,8 milhões de toneladas comercializadas possibilitou que o setor cimenteiro retomasse o patamar de vendas dos 12 meses encerrados em junho de 2016.
De acordo com Penna, a concessão do auxílio emergencial a uma parcela da população, a autoconstrução residencial e comercial e as obras imobiliárias explicam o desempenho alcançado pelo setor.
Em dezembro, as vendas aumentaram 16,6%, ante o mesmo mês de 2019, para 4,7 milhões de toneladas. Por dia útil, porém, houve redução de 13,2% da comercialização do insumo, para 208,4 mil toneladas, no mês em relação a novembro. Desde setembro, o auxílio emergencial foi reduzido pela metade e foi encerrado no fim do ano.
Para 2021, diante de incertezas em relação à pandemia de covid-19 e macroeconômicas, o SNIC projeta expansão de 1% do volume vendido de cimento. "A vacina é fundamental para a retomada da economia, seguida pelas reformas estruturantes, com destaque para a administrativa e a tributária", afirma Penna, acrescentando que há preocupação que a situação atual da pandemia se agrave devido às festas de fim de ano.
O representante setorial destaca também que as vendas de cimento serão afetadas, em 2021, também pelo desempenho do programa habitacional Casa Verde Amarela e pelas obras decorrentes do marco regulatório do saneamento.
“A indústria assegura a continuidade do abastecimento de cimento para todas as regiões do Brasil”, diz o presidente do SNIC. Segundo ele, fornos vê sendo religados pelo país conforme a demanda, bem como unidades de moagem.
Hoje, o setor conta com capacidade instalada de 94 milhões de toneladas de cimento. Encerrou 2020 com utilização de 65% dessa capacidade das cimenteiras (54 fábricas integradas e 39 moagens). “Toda a produção é direcionada para atender ao mercado interno”, afirmou.