(Valor Econômico – Brasil – 06/03/2019)
Sergio Lamucci
A taxa de poupança doméstica subiu pelo segundo ano seguido, passando de 14,3% do PIB em 2017 para 14,5% do PIB em 2018. Em 2016, tinha ficado em 13,4% do PIB, o menor nível da série iniciada em 2000. Apesar da melhora nos dois últimos anos, a taxa continua bem abaixo dos 19,3% do PIB atingidos em 2007. A principal consequência da baixa poupança é a dificuldade para financiar o investimento, o que prejudica as perspectiva para o crescimento da economia. Os números constam do resultado do PIB do quarto trimestre de 2018.
Coordenador de economia aplicada do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV), Armando Castelar avalia que a pequena alta da taxa em 2018 se deveu à melhora da poupança das empresas e do setor público. A das famílias deve ter caído um pouco, segundo ele.
Na visão de Castelar, "a 'despoupança' do setor público ficou menor, pois o déficit nominal [que incluiu gastos com juros] caiu 0,7% do PIB em 2018 e a queda do investimento - se é que houve - foi pequena. Em ano eleitoral, os governos em geral investem mais", lembra ele. O rombo nominal passou de 7,8% do PIB em 2017 para 7,1% do PIB em 2018. "A queda nas despesas com juros [de 0,6% do PIB] explica quase toda essa melhora", diz Castelar, observando que a poupança do setor público é o resultado nominal das contas públicas mais o investimento.
"A poupança das empresas provavelmente cresceu, por causa do crescimento da economia, mas também, e talvez principalmente, porque a despesa com juros caiu, com a queda do CDI", afirma ele. Castelar ressalta que os dados do Centro de Estudos de Mercado de Capitais (Cemec) da Fipe mostram uma boa melhora dos resultados das empresas até o terceiro trimestre de 2018.
Já a poupança das famílias deve ter caído um pouco, avalia Castelar. Isso deve ter ocorrido apesar de o consumo das famílias, que cresceu 1,9% em 2018, ter registrado uma expansão um pouco menor que a da massa salarial real (descontada a inflação), de 2,2%. O ponto, segundo Castelar, é que as famílias "devem ter tido um menor rendimento com juros sobre créditos contra o Tesouro Nacional e as empresas" - ou seja, tiveram ganhos menores com títulos públicos e privados.
O nível de poupança brasileira é muito inferior ao de vários outros grandes países emergentes, ajudando a explicar a dificuldade de o Brasil crescer a taxas mais elevadas de modo sustentado. Enquanto a taxa brasileira ficou em 14,5% do PIB em 2018, a da China atingiu quase 45% do PIB, a da Índia foi de 28,5% do PIB e a da Rússia superou 27% do PIB, segundo estimativas do Fundo Monetário Internacional (FMI). Países latino-americanos também têm taxas superiores à brasileira - a do Chile fica na casa de 20,5% do PIB, a da Colômbia, em 19% do PIB, e a do México, em 21% do PIB.