(A Tribuna – Cidades – 05/08/2019)
Matheus Müller
A queda de 6,5% para 6% da Selic, a taxa básica da economia do Brasil, na última quarta-feira (31), deve contribuir para o aumento dos financiamentos bancários de imóveis a clientes e para a construção civil, dizem especialistas.
Com a queda de rentabilidade das aplicações das instituições financeiras em títulos do Tesouro (balizada pela Selic - taxa anual), um leque de novos segmentos surge como opções atrativas para investimentos, como é o caso do mercado imobiliário.
Atualmente, as taxas de juros aplicadas pelos bancos para o financiamento de imóveis estão em torno de 9% e 10% e, agora, há expectativa de redução. O diretor regional do Sindicato da Habitação (Secovi), Carlos Cesar Meschini, acredita que os novos índices devem ficar entre 8% e 8,5%, o que, segundo ele, já é visto com bons olhos.
“Provavelmente os bancos devem baixar as taxas e devem investir mais no financiamento para o comprador final”. Para o diretor, o cenário dos sonhos teria juros de 5% ou 6%, o que ajudaria a recuperar as vendas.
“Os bancos sempre têm um pouco de cautela com o financiamento imobiliário. Mas, não tem jeito. Para o setor se recuperar precisa do dinheiro do banco, no mercado, mais crédito e confiança (dos compradores e das instituições financeiras na economia do País)”, explica.
A notícia da queda da Selic agradou também o presidente da Associação de Empresários da Construção Civil da Baixada Santista (Assecob). Ricardo Beschizza. Segundo ele, o dinheiro sairá das instituições financeiras para a “produção”. “Os bancos vão ter que reduzir suas taxas (de juros). Assim começa a andar mais a macroeconomia”.
Mercado em crescimento - O cenário de negócios do setor já tem apresentado um crescimento, o que deve ser impulsionado pelo fator Selic.
O aumento é percebido, por exemplo, nos índices de operações contratadas com recursos da caderneta. O levantamento foi divulgado pela Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip).
Entre janeiro e junho deste ano, foram financiadas 129.202 mil unidades para a aquisição de imóveis e construção de empreendimentos. No mesmo período no ano passado foram 98.344 unidades financiadas, um crescimento de 31,3%.
O professor Carlos Honorato, da escola de negócios Saint Paul, observa que o mercado imobiliário realmente tende a seguir com números positivos, mas sem grandes saltos.
De acordo com ele, o setor “tem muito a crescer”, mas ainda sofre com o fantasma da crise econômica, em que as pessoas têm receio de se comprometer com financiamentos e cair no endividamento. No mesmo passo, os bancos não dão crédito por ser um empréstimo de risco.
Honorato entende que essa relação vai melhorar com o tempo e com ações, como com a reforma da Previdência e a tributária. “Vai acontecer se a economia der sinais de confiança ao mercado”.
Esses sinais de melhora, segundo o professor, já podem ser observados nas ruas. “Em Santos, teve uma explosão imobiliária na época do pré-sal. Hoje tem muito imóvel disponível, mas, mesmo assim, você deve receber folders de imóveis novos. Isso é um termômetro. As obras que estavam paradas estão sendo retomadas”.