A Saint-Gobain projeta que o faturamento das suas vendas para o setor de construção civil, no Brasil, terá crescimento de 5% a 6%, neste ano, mesmo patamar estimado para a expansão da receita total do grupo no mercado brasileiro. Em 2017, as vendas para o setor aumentaram 1%, abaixo da alta de 6,4% do faturamento consolidado do grupo francês no Brasil, que atingiu R$ 10 bilhões.
A receita total foi impulsionada pelas vendas de produtos para a indústria automotiva, principalmente vidros planos. A demanda por vidros planos para a construção, principalmente em interiores, também tem crescido.
O lucro do grupo cresceu 50% no país em 2017. "Os volumes maiores absorveram melhor o custo fixo", diz o presidente do grupo Saint-Gobain para Brasil, Argentina e Chile, Thierry Fournier.
Na comparação com o faturamento consolidado da indústria de materiais - que apresentou queda de 4% no ano passado, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat) -, o desempenho das vendas da Saint-Gobain para a construção foi muito superior. Segundo Fournier, houve ganho de participação de mercado, melhora da produtividade e reforço da "linha de frente" de atendimento aos clientes, com treinamento nas áreas comercial e dos caminhoneiros que entregam produtos.
Para 2018, a Abramat projeta alta de 1% a 2% no faturamento do setor. Na avaliação do executivo, tanto o Produto Interno Bruto (PIB) do país quanto o de materiais de construção devem ter expansão de 2%. Segundo Fournier, a projeção leva em conta a média estimada quando a Saint-Gobain considera o que avalia como os cenários melhores e piores para o Brasil.
A definição de dois fatores é considerada fundamental pelo executivo francês para os rumos do país: o que acontecerá com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e como a centro-direita vai se posicionar para "convencer eleitores e investidores a respeito da retomada econômica". "Os investidores ainda não voltaram ao país. Nunca vi uma retomada econômica baseada só no consumo", diz Fournier. O executivo acrescenta que ainda há muitas incertezas em relação ao país.
O executivo diz estar "razoavelmente otimista" com o país e afirma já perceber desconexão entre a política e a economia. "Os brasileiros são otimistas demais diante de coisas boas e pessimistas demais com coisas ruins", afirma.
No seu entendimento, a retomada da construção civil no país vai ocorrer neste ano. "Os estoques de imóveis só voltaram a patamares adequados no fim de 2017", afirma Fournier.
No setor de construção, o grupo atua por meio da Brasilit (telhas de fibrocimento e caixas d'água), Weber (rejuntamentos e argamassas com a marca Quartzolit), Placo do Brasil (drywall), Pam (tubos, conexões e válvulas), Isover (soluções de isolação termoacústica e em lã de vidro) e Cebrace (vidro plano). No varejo de materiais, a atuação é pela Telhanorte.
No país, o comportamento das vendas dos negócios direcionados para a construção não foi homogênea. Na Weber, por exemplo, o faturamento cresceu, mas os volumes vendidos ficaram estáveis. Houve redução das vendas de itens com margens menores, como algumas linhas para fachadas, e aumento de outros mais rentáveis como adesivos e pisos.
Já a demanda por telhas de fibrocimento sem amianto da Brasilit cresceu 20%, segundo Fournier, em decorrência da proibição da extração e do uso do amianto crisotila pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Com número total de empregados próximo a 14 mil, a Saint-Gobain vai reforçar os funcionários da Brasilit e reforçar turnos neste ano.
No ano passado, a Saint-Gobain fechou, no Brasil, aquisições da Tekbond (fabricante e importadora de produtos adesivos, colas instantâneas, selantes, travas químicas e silicones para a construção civil, para a indústria e os setores de artesanato, moveleiro, automotivo e de consumo), da Adespec (de abrasivos e selantes) e da rede varejista Tumeleiro.
"A janela de oportunidades para aquisições se fechou. Os preços estão aumentando. Agora, é tempo de integração e de acelerar o crescimento", diz o executivo.
Sem considerar aquisições, a Saint-Gobain investiu, no ano passado, R$ 350 milhões em produtividade, segurança do trabalho, processos e capacidade instalada no Brasil. A previsão é elevar investimentos em 20% neste ano. Os aportes em aquisição ficaram próximos de R$ 550 milhões no país. Se incluída uma compra feita na Argentina, chegam a quase R$ 750 milhões.
No ano passado, o faturamento consolidado de todas as empresas do grupo no Brasil, na Argentina e no Chile cresceu 14%, e o lucro teve aumento de 40% em relação a 2016. "Isso resultou de um trabalho de transformação cultural e de aproximação com o cliente", conta Fournier. Segundo o executivo, a expectativa de alta do faturamento da Saint-Gobain na região é de 12% em 2018.