Um ano após entrar com pedido de recuperação judicial, a PDG, que já foi a maior incorporadora do País, traça um plano para voltar a lançar empreendimentos. O projeto, porém, deverá esbarrar nos bancos, que detêm 80% da dívida total de R$ 7,9 bilhões. A intenção da PDG é, em dois anos, virar uma empresa de nicho, focada no consumidor de 26 a 45 anos, que tem renda média de R$ 10 mil e vive sozinho. Mas, para isso, vai precisar de novos financiamentos.
O Estado apurou que os três maiores bancos privados do País – Bradesco, Itaú e Santander – não pretendem liberar recursos para lançamentos. Financiamentos poderão ser concedidos apenas a empreendimentos em fase final de construção, que são 16 hoje. Os bancos querem evitar que a empresa, envolvida na maior recuperação judicial do setor imobiliário do País, se endivide mais e não consiga cumprir com os pagamentos aos credores do processo de proteção na Justiça, segundo pessoas a par do assunto.
“Evidentemente não estamos no momento de sentar com bancos e discutir novos lançamentos, mas não sei como os bancos vão reagir daqui a um ano. A empresa poderá estar muito bem ou com algum problema adicional. Mas estamos falando de um empreendimento novo. Vamos tentar isolá-lo o máximo possível do problema da PDG”, afirma Vladimir Ranevsky, presidente da incorporadora.
O plano de recuperação judicial da companhia, aprovado em dezembro, prevê a possibilidade de a empresa usar antigos terrenos – que hoje são dos credores – para voltar a construir. “Vamos selecionar alguns terrenos onde pretendemos fazer lançamentos. Nosso foco, nesse primeiro ano, é atender às necessidades do plano de recuperação para que depois a marca possa girar normalmente”, diz Ranevsky, que estima poder fazer algum lançamento entre o fim de 2019 e o início de 2020.
Nicho. Ranevsky, que também comandou a empresa de construção naval OSX durante a recuperação judicial, conta que o projeto é transformar a PDG em uma empresa com atuação sobretudo em prédios de um quarto. O executivo afirma que uma pesquisa feita pela incorporadora apontou a existência de oportunidade nesse segmento.
Ele diz ainda que a marca será mantida. “Ninguém compra apartamento pelo nome da construtora. Compra-se apartamento por região, tamanho e facilidades. Se for uma construtora que você goste, tudo bem”, diz Ranevsky.
Questionado sobre a possibilidade de o consumidor fugir da PDG por causa do histórico da empresa, o executivo afirma que isso poderá ocorrer, mas diz que ainda há uma percepção de qualidade em relação aos empreendimentos da empresa.
Segundo o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusCon-SP), José Romeu Ferraz Neto, o segmento de prédios com apartamento de um quarto tem potencial, pois esse tipo de empreendimento costuma ter custos mais baixos. “Esses apartamentos têm bastante demanda. Se tiver financiamento (para o consumidor), é um bom produto.”
Ainda em seu novo projeto, a PDG também reduzirá as regiões geográficas de sua atuação – “até por uma questão financeira”. Ranevsky, porém, não revela as cidades onde a empresa pretende continuar. A PDG chegou a ter 300 obras concomitantemente espalhadas por todo o País e 14 mil funcionários. Hoje, são 280 empregados.
Procurados, Bradesco, Itaú e Santander não comentaram.