(Valor Econômico – Finanças – 08/08/2019)
Talita Moreira
No Brasil que vive longe dos grandes centros urbanos e das plataformas de investimentos, a boa e velha poupança ainda tem seu apelo. A expectativa de bancos e empresas do setor imobiliário é que os recursos da caderneta continuem crescendo, ainda que de forma "vegetativa".
"O grande poupador vai para rentabilidades maiores, mas o pequeno fica", afirma Basilio Jafet, presidente do Secovi-SP. "Nunca houve ameaça, nem nos tempos bicudos."
A Abecip, associação das instituições financeiras que fazem crédito imobiliário com funding da poupança, prevê crescimento de 11% no saldo das cadernetas neste ano, para R$ 686 bilhões. Até julho, entretanto, a poupança teve resgate líquido de R$ 16,1 bilhões.
"A captação negativa é mais resultado da economia fraca do que migração para outros investimentos. As plataformas ainda atingem um público restrito", afirma Luiz França, presidente da Abrainc, associação das incorporadoras.
Apesar disso, é consenso que a poupança será insuficiente para financiar o crescimento que se espera para o crédito imobiliário. "O estoque da poupança era maior do que o crédito imobiliário. Hoje, não mais é suficiente", diz Gilberto Abreu, presidente da Abecip.
No Banco Central (BC), a constatação é que o segmento não vai mudar de patamar apenas com esses recursos, daí a busca por alternativas de mercado, apurou o Valor. O presidente do órgão regulador, Roberto Campos Neto, tem ressaltado a importância do crédito imobiliário - linha de longo prazo, taxas de juros baixas e com garantia - para a economia. A visão do BC é que os imóveis têm um valor que hoje não é aproveitado para alavancar negócios, como se faz em outros países com o financiamento lastreado em ativos imobiliários ("home equity").
Para José Rocha Neto, diretor-executivo do Bradesco, a participação do crédito no PIB deve dobrar em dez anos, chegando a 20%. "Aí a poupança não vai ser suficiente. Isso é líquido e certo."