(Exame - Economia - 16/12/2020)
Em entrevista à EXAME, o presidente da construtora fala sobre perspectivas de mercado, lançamentos e o balanço após o IPO
Juliana Estigarribia
As construtoras se viram diante de um cenário inédito em 2020: canteiros de obras completamente paralisados e inúmeras incertezas acerca da retomada da atividade. No entanto, o que as empresas não esperavam era a súbita volta da demanda, o que vem impulsionando novos lançamentos. Neste ambiente, a Moura Dubeux projeta para 2021 um dos melhores anos para a companhia e também para o setor.
“O ano de 2021 será um dos melhores para o mercado imobiliário”, afirma Diego Villar, presidente da construtora, em entrevista à EXAME.
O valor geral de vendas (VGV) da empresa, de janeiro a setembro, foi de 770 milhões de reais, mais do que o dobro do registrado em todo o ano passado. Os lançamentos da Moura, em 2020, só começaram de fato em meados de agosto e somam, no total, 10 novos empreendimentos — 7 deles com vendas esgotadas em apenas 24 horas.
“A pandemia teve um certo viés positivo para a construção civil porque as pessoas acabaram fazendo uma reflexão sobre a forma como estão morando e que é possível fazer um upgrade.”
O que também contribuiu para o desempenho da companhia neste ano foi a demanda reprimida. “O mercado imobiliário ficou muitos anos sem lançamentos.” Na visão do executivo, em um cenário de taxa básica de juros (Selic) em mínima histórica, o ambiente é propício para o investimento em imóveis. “No Nordeste, onde atuamos, a compra de um segundo imóvel como casa de veraneio, por exemplo, veio com força nessa pandemia.”
Para 2021, Villar espera que o governo federal retome o caminho do equilíbrio fiscal, em um horizonte de estabilização do dólar e continuidade das discussões acerca de reformas, especialmente a tributária. Na seara da inflação, ele não descarta movimentos isolados em alimentos e insumos básicos — incluindo a indústria de materiais de construção. Ainda assim, ele se mantém otimista, inclusive em relação ao câmbio.
“Os Estados Unidos devem passar a adotar uma política de desvalorização da moeda, o que pode contribuir para o controle da inflação no Brasil. Mesmo que a Selic aumente um pouco, ainda teremos um ambiente de juros negativos”, avalia o executivo.
Para ele, a queda acentuada da taxa básica de juros mais recentemente ainda não chegou aos financiamentos imobiliários em sua plenitude. “No ano que vem, vamos capturar ainda mais os benefícios dessa política.”
Em 2020, a Moura Dubeux realizou uma oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês). Na ocasião, a empresa levantou cerca de 1,2 bilhão de reais. “Reduzimos muito o endividamento e ficamos mais eficientes”, garante o executivo. “Durante a pandemia, houve até um momento de pânico na bolsa de valores, mas também percebemos um amadurecimento do mercado.”
Novo normal
Para Villar, a tendência no mercado imobiliário é que o consumidor passe a buscar apartamentos com mais espaço e integração com a família e isso não significa necessariamente estar próximo ao trabalho.
“A pandemia quebrou uma parte do conceito de que as pessoas buscam morar perto do trabalho. Se as empresas estão adotando home office, é possível morar mais longe, porém com mais espaço e qualidade.”
Conforme o executivo, o consumidor quer uma cozinha integrada à sala, uma varanda e mais conforto. “Esse foi um legado da pandemia. Trata-se de um caminho sem volta.”
Para 2021, Villar também reforça o foco da Moura Dubeux em rentabilidade. Segundo ele, nos segmentos de médio e alto padrão a companhia deve manter a liderança na região Nordeste, mas sem sacrifício de margens.
“Teremos um ano forte em lançamentos, provavelmente com o maior VGV da nossa história.”