(O Estado de S. Paulo – Economia e Negócios – 06/01/2019)
Jéssica Díez Corrêa
O ano de 2018 foi de muita expectativa para o segmento imobiliário. Após um período de recessão, devido às crises política e econômica, que atingiram o ápice em 2016, representantes do mercado apostaram em 12 meses de recuperação e de lançamentos de tendências para os empreendimentos.
Em 2017, houve uma sutil melhora na atividade imobiliária. O setor cresceu 9,4%, segundo a Câmara Brasileira de Construção. Para 2018, a projeção foi um pouco mais otimista, de ao menos 10%. Mas o ano atingiu as expectativas do setor? E o que esperar para 2019? O Estado conversou com representantes de várias áreas para responder às questões.
Foram consultados Alexandre Frankel, CEO da Vitacon; Andrea Bellinazzi, diretora de Inteligência de Mercado da Tegra Incorporadora; Basílio Jafet, vice-presidente de Relações Institucionais do Sindicato da Habitação (Secovi-SP); David Bastos, arquiteto fundador da DB Arquitetos; João da Rocha Lima Jr., professor e coordenador do núcleo de Real Estate da USP; José Romeu Ferraz Neto, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil (SindusCon-SP); Lisandro Piloni, arquiteto fundador da Piloni Arquitetura & Interiores; Luiz Augusto Pereira de Almeida, diretor de marketing da Sobloco; Reinaldo Fincatti, diretor da Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio (Embraesp); Ricardo Pajero, gerente comercial da MAC Construtora e Incorporadora; e Roberta Banqueri, arquiteta fundadora da Roberta Banqueri Arquitetura.
O que deu certo em 2018
Apartamentos compactos - Aposta de construtoras, em geral são alocados em zonas de fácil acesso à rede de transporte público. Em 2018, a área média dos imóveis de um dormitório, segundo a Embraesp, foi de 32,9 m2. Há dez anos, era de 49,14 m2. O Plano Diretor é um dos responsáveis por isso, pois estimula o adensamento, além da crise econômica, que fez o poder de compra diminuir.
Minha Casa, Minha Vida - Houve avanço do mercado de imóveis econômicos: 77,22% das unidades lançadas em São Paulo de setembro de 2017 a setembro de 2018 estavam enquadradas no programa Minha Casa, Minha Vida. No comparativo entre o 3º trimestre de 2018 e o 3º de 2017, o aumento foi de 27,2%, segundo a Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias.
Mobilidade Urbana - Para promover o adensamento, o Plano Diretor de 2014 definiu que o potencial construtivo em terrenos próximos à oferta de transporte público seria maior, impulsionando empreendimentos perto de corredores de ônibus e estações de metrô. Além disso, a legislação desestimulou a oferta de vagas de garagem. Para suprir as demandas, os condomínios novos possuem bicicletários, área para recarga de bicicletas e patinetes elétricos e até serviço de aluguel de veículos.
Poderia ter sido melhor
Prédios comerciais - Para os especialistas consultados, esse mercado foi o mais atingido pela crise. Em São Paulo, os lançamentos recuaram do pico de 43 em 2013 para 13 em 2018, segundo informações da Coluna do Broadcast. Além da queda de lançamentos, aumentou a vacância e caiu o valor do aluguel.
Revitalização do centro - A renovação dos centros urbanos não aconteceu como o esperado, devido à combinação da falta de zeladoria urbana e de segurança, por parte da prefeitura, e da falta de projetos por parte das incorporadoras. Assim, famílias não se interessam em morar no Centro.
Retomada do setor - Houve recuperação econômica, porém mais lenta que o esperado. Foram 12,3 mil unidades lançadas em 2016, 14,8 mil em 2017 e 20,9 mil em 2018. Apesar do aumento, os números estão abaixo de anos áureos: em 2013, foram 27,8 mil lançamentos, diz o Secovi-SP.
O que esperar em 2019
Serviços e áreas comuns - Com a alta dos compactos, de pouca área privada, as construtoras apostam nas áreas comuns, com espaços de coworking e coliving, lavanderias coletivas e até compartilhamentos de veículos. As empresas ainda devem oferecer serviços como personal trainer e diarista.
Locações - O aluguel deve se consolidar, com preços atrativos. Segundo a pesquisa mensal do Secovi-SP de locação residencial na capital, no último ano o preço médio do aluguel teve variação negativa (- 0,01%).
Nova lei de zoneamento - Em 2019, quando haverá a revisão da lei de zoneamento, a perspectiva é que alguns pontos da legislação sejam repensados. Segundo o prefeito Bruno Covas afirmou em encontro com o Secovi-SP em julho de 2018, serão incorporadas propostas para incentivar o retrofit e as edificações sustentáveis.
Lei do distrato - Lei aprovada em dezembro pela Câmara prevê que o consumidor pague 50% do valor já pago pelo imóvel como multa à construtora caso desista da compra. Até então, era cerca de 20%.