(Estado de S.Paulo – Economia – 11/02/2021)
Verena Balas
Nas últimas décadas, o mercado imobiliário passou a compreender a relevância do segmento econômico, que até pouco tempo atrás, se limitava a um negócio com foco predominantemente no custo por metro quadrado.
O ambiente de estabilidade econômica e a facilidade de acesso ao crédito, impulsionada por taxas de juros historicamente baixas para financiamentos imobiliários, proporcionaram a milhões de brasileiros a possibilidade de sair do aluguel e realizar o sonho da casa própria.
Ainda que essa ascensão social tenha causado efeitos socioeconômicos positivos, há muito o que se fazer pela política habitacional do país. Uma pesquisa da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) feita em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV) aponta a necessidade de construir novas 7,8 milhões de moradias para suprir o déficit habitacional no Brasil.
A facilidade de acesso ao crédito bem como a criação de programas habitacionais, como o ‘Minha Casa, Minha Vida’ e o recém lançado ‘Casa Verde Amarela’, promoveram uma transformação no mercado imobiliário nacional, viabilizando a aquisição de imóveis econômicos com prazos estendidos e juros menores, transformando um negócio que sempre foi visto pela perspectiva da construção em um negócio de incorporação, com olhar atento e voltado para a qualidade do produto ofertado.
Muitas conquistas importantes foram acumuladas neste período, mas ainda é necessário avançarmos. Mais do que viabilizar a aquisição de imóveis é preciso entender e perceber o que é valor para este consumidor, que está cada vez mais exigente com a qualidade do imóvel. Localização, acesso, planta e qualidade nos acabamentos já são pré-requisitos necessários para quem quer ser competitivo neste segmento. O mercado imobiliário tem que se adaptar às novas aspirações de um segmento que ganha espaço na fatia do seu faturamento. Segundo dados da Câmara Brasileira da Indústria da Construção feito em 132 municípios, mais da metade (56%) dos empreendimentos lançados no segundo trimestre do ano passado se enquadra no ‘Minha Casa Minha Vida’.
Além do foco na qualidade, as moradias do segmento econômico também devem estimular o desenvolvimento local. Empreendimentos que nascem nas chamadas ‘franjas’ das cidades representam uma grande oportunidade para a criação de planos urbanos integrados entre a iniciativa privada e o poder público, incluindo a atração de comércio, serviços e criação de postos de trabalho.
O conceito de bairros planejados acelera o desenvolvimento de regiões. São empreendimentos que além de cumprirem a função social, deixam um legado urbanístico permanente para as cidades, impactando a atual e as futuras gerações.
Com muitas cidades sofrendo com trânsito sobrecarregado e sistemas de transporte operando acima da capacidade, é importante que os empreendimentos imobiliários promovam soluções completas, sustentáveis, que estimulem deslocamentos menores para realizar as atividades de rotina. A proximidade entre moradia, trabalho, educação, saúde e lazer resultam em um aumento significativo de qualidade de vida, além de contribuírem para a criação de bairros inteligentes e sustentáveis.
Historicamente, as grandes cidades brasileiras sofrem com o crescimento urbano desordenado. O mercado imobiliário precisa fazer a sua parte e desenvolver empreendimentos de qualidade e urbanisticamente responsáveis.