O presidente da Caixa, Gilberto Occhi, admitiu que o banco tem um problema crítico de capital, mas que tem muita liquidez para enfrentar qualquer nível de estresse que o mercado possa passar. Com um socorro financeiro do Tesouro descartado, a Caixa ajusta a liberação de empréstimos para que a carteira de crédito não cresça tanto. “A Caixa está trabalhando para melhorar a carteira de crédito, para que ela não cresça tanto quanto no passado”, afirmou.
A estratégia do banco é também agregar negócios que gerem outras receitas, como a criação, até meados do ano que vem, de uma empresa de cartões, inclusive um específico para o setor público. A seguir, os principais trechos da entrevista.
Por que a Caixa está com problema de capital? - Nosso problema não é de funding, é de capital. Temos muita liquidez para enfrentar qualquer nível de estresse de mercado. A necessidade é de capital porque passamos uns 10 anos seguidos, nos últimos governos, em que o lucro da Caixa foi distribuído a seus acionistas. Você concede cada vez mais (crédito) e, para conceder, precisa ter uma reserva de capital. A forma de fazer isso é reverter o lucro para o capital. Essa é a situação de hoje: uma empresa boa, que está procurando melhorar seus indicadores, mas tem um problema crítico de capital, para que possa sustentar o crescimento da carteira de crédito. O que estamos fazendo: qualificação cada vez melhor da concessão de crédito.
De quanto é a necessidade de capital da Caixa? – A necessidade de capital é na projeção da concessão do crédito. Todo o mercado diminuiu o crédito. A Caixa é o único banco que estava crescendo. O mercado continua diminuindo o crédito em função da crise, da amortização, da falta de demanda dos investidores. Todos esperam um pouco a estabilidade econômica para que possam retomar os investimentos. A Caixa ainda cresce alguns porcentuais, 2%, 3%, na carteira de crédito, mas o mercado está caindo 4%. O que estamos fazendo, nesse momento, é não crescer tanto como crescíamos no passado. O aporte de capital está descartado tanto pela necessidade do banco quanto pela impossibilidade do governo de aportar.
É botar pé no freio do crédito? – Não é colocar um pé no freio. Quando você não tem a demanda, não faz o crédito pelo crédito. Onde tem a maior demanda de crédito hoje? O imobiliário, que não parou.
E para gerar receita? – Um negócio que estamos construindo com o BC e órgãos de controle é o de cartão, meio de pagamento, que só a Caixa não tem. Uma empresa voltada para a exploração de cartão de débito, pré-pago, de crédito, da gerenciadora, das maquininhas e de uma modalidade de cartão que dá de presente. Estamos também desenvolvendo um cartão para o setor público. Para pequenas despesas de prefeituras e Estados. Até meados do ano que vem, teremos. Imagina o universo de negócios que poderemos fazer. O resultado deste ano vai projetar o maior lucro de todos os tempos. A nossa projeção é de R$ 8 bilhões.
Como está o processo de abertura de capital da Caixa? – Ah, nem discutimos isso. Não está em nenhum horizonte. Surgiu aí essa história de dar uma característica de S/A… para transformar em S/A precisa de lei específica no Congresso. Não acredito que isso vá acontecer em nenhum governo. Porque a Caixa é o único banco federal 100% público que cumpre políticas públicas.
Mas a presidente do Conselho de Administração da Caixa, Ana Paula Vescovi, defende isso. – Ela não pode fazer isso. O que eu entendo que a Ana Paula defende é dar uma característica de S/A. Colocar no estatuto que a Caixa pode ter uma característica de S/A, fazendo com que seu patrimônio possa ser dividido em ações. E o governo vai ser dono de 100% dessas ações. Mas não ficar submetida à Lei das S/As porque não será uma S/A. Não faz sentido isso.
E qual a vantagem de ter característica de S/A? – Também não entendi. A iniciativa não foi daqui.
O sr. é contra? – Não é ser contra, é entender qual o motivo. Se a questão é governança, vamos estabelecer outros critérios de governança, como já estamos fazendo. A questão é: por que transformar em S/A? Qual é o próximo passo? Para se fazer isso precisa haver uma discussão mais ampla com o governo, o dono do banco.
A Caixa já teve grandes problemas por interferência política, algumas por causa da Lava Jato. – Não concordo. A Caixa tem um conselho diretor formado por um presidente e dez vice-presidentes. São pessoas totalmente diferentes umas das outras. Toda operação proposta, por mim, pelos presidentes anteriores, vice-presidentes, funcionários da Caixa, de fora da Caixa, tivemos aqui o ex-ministro Geddel (Vieira Lima), o ministro Moreira (Franco), o Fábio Cleto, várias pessoas de fora da Caixa. Mas nenhum deles consegue aprovar uma proposta sem um parecer favorável jurídico, da área de risco, do financeiro, citando só três, porque muitas vezes são necessários cinco, seis, sete pareceres. Ninguém consegue aprovar ou negar uma operação sem embasamento técnico e jurídico. Então o que estamos falando aqui não é de interferência política, é o uso pessoal de informações para serem vendidas fora da Caixa. Informações que podem dizer “Olha, a operação vai ser aprovada”.