A MRV Engenharia anunciou investimentos de R$ 50 bilhões em dez anos, período em que estima produzir 500 mil unidades. "Nossa visão é de longo prazo. Não podemos gerir o negócio olhando apenas 2018", diz o copresidente Rafael Menin. Se o que está previsto para a próxima década for concretizado, a companhia se tornará a segunda maior construtora do mundo com atuação no mercado imobiliário. Atualmente, a mineira ocupa a terceira colocação, atrás da China Vanke e da americana D. Horton.
A MRV projeta que, em dez anos, seus investimentos devem resultar em R$ 41 bilhões em Produto Interno Bruto (PIB) potencial - R$ 17,5 bilhões na construção e R$ 23,5 bilhões nos demais setores. Os tributos que podem ser gerados somam de R$ 6 bilhões - R$ 2,4 bilhões no setor e R$ 3,6 bilhões nos demais. A companhia diz que será responsável por 94,6 mil postos de trabalho no período.
Para 2018, a MRV estima lançamentos e vendas brutas de 50 mil unidades. Considerando-se o preço de R$ 150 mil por unidade, o Valor Geral de Vendas (VGV) lançado e vendido será de R$ 7,5 bilhões no próximo ano, mas a companhia deixa claro que não se trata de meta. A MRV tem 93% do total, que inclui a parcela dos sócios nos empreendimentos. A empresa tem apostado em grandes projetos, mas a maior parte dos empreendimentos continuará no patamar de 300 a 400 unidades.
As estratégias para o longo prazo abrangem o crescimento da atuação no programa habitacional Minha Casa, Minha Vida, a volta ao segmento de média renda (que a companhia chama de premium) a partir de 2018, o aumento da oferta de serviços aos clientes e investimentos em tecnologia.
A MRV avalia que não há risco de o programa habitacional deixar de existir. "Pode haver alguma mudança, mas o programa vai continuar. Saiu Dilma [Rousseff, presidente que sofreu impeachment em 2016] e entrou Temer [Michel Temer, presidente da República], e nem o nome do programa mudou", disse o copresidente Eduardo Fischer.
A MRV fará lançamentos para a média renda da mesma forma que tem produzido unidades para o programa. "Vamos trazer escala industrial para o segmento de média renda, usando tipologia única para o Brasil e oferecendo produto melhor e mais barato do que há no mercado", disse Menin. As unidades serão produzidas com forma de alumínio. "Escolhemos as cidades mais populosas, com maior renda", acrescentou o executivo.
A MRV voltará a lançar produtos para a média renda em 2018, quando o segmento vai representar menos de 5% do que será apresentado ao mercado. A intenção é que o médio padrão responda por fatia de 10% a 30% futuramente. Segundo Menin, o ritmo de expansão dos projetos para a média renda dependerá da taxa de juros e da captação positiva da poupança. Parte dos terrenos comprados nos últimos três anos se adaptam ao segmento.
As unidades da MRV para a média renda terão preço de R$ 200 mil a R$ 350 mil e serão destinadas à população com faixa de renda de R$ 5 mil a R$ 7,5 mil. "A demanda de imóveis por esse público foi muito represada nos últimos três anos", disse Fischer. Ele ressaltou que o produto "pode ter condições de atingir margens mais altas" do que as da baixa renda. "O custo por metro quadrado é muito similar, mas o preço por metro quadrado é um pouco mais alto", comparou.
A companhia pretende utilizar recursos da poupança, da linha pro-cotista do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e da Letra Imobiliária Garantida (LIG) no financiamento para a média renda e fazer repasse na planta. Na prática, isso significa repassar os recebíveis dos clientes para bancos durante as obras, como já ocorre na baixa renda. A MRV terá parceria com o Banco do Brasil e com a Caixa Econômica Federal no segmento e negocia financiamentos também com os bancos privados, segundo o diretor executivo de finanças, Leonardo Corrêa.
O principal risco para o negócio da MRV são as fontes de financiamento, segundo Fischer. "O risco operacional está mitigado", afirmou o copresidente.
A empresa tem investido também em tecnologia para elevar sua eficiência e produtividade, além de reduzir custos. Nos últimos cinco anos, a MRV destinou R$ 211 milhões para investimentos em tecnologia, e há estimativa de aportes de R$ 50 milhões por ano nos próximos dez anos.
A MRV avalia a possibilidade de monetizar serviços oferecidos a clientes, como seguros, garantia estendida, gestão condominial e decoração. A empresa deu início, há dois anos, à oferta de serviços por meio de parcerias.
Ontem, no MRV Day, a empresa reiterou expectativa de que o quarto trimestre será o melhor do ano em lançamentos e vendas e informou que há potencial para que dezembro seja o melhor mês de 2017. Em outubro e novembro, as vendas brutas somaram 8.318 unidades, com média mensal de 4.159 unidades, 46% superior à do quarto trimestre de 2016.