(IstoÉ Dinheiro – Economia – 13/09/2019)
A política de taxas de juros baixas e negativas que o Banco Central Europeu (BCE) adota há cinco anos já gerava preocupação nos bancos da zona do euro antes da nova queda do preço do dinheiro, decidida nesta quinta-feira (12).
Como impacta os bancos? - O BCE decide a política monetária dos 19 países-membros da zona do euro, ao fixar o nível das taxas de juros chamadas “oficiais”. Essas taxas influenciam o custo do crédito que os bancos oferecem e a rentabilidade da poupança.
Desde março de 2016, a instituição monetária sob sua principal taxa oficial a 0%, o que permite aos bancos pegar dinheiro emprestado gratuitamente por uma semana.
Além disso, desde o verão de 2014, os bancos têm que pagar ao depositar seu excesso de liquidez a curto prazo no BCE. A chamada “taxa de depósitos” sanciona os bancos, obrigando-os a pagar -0,40%.
Agora, este pagamento terá uma taxa anual de -0,50%. O BCE acaba de reduzir o pagamento pela quarta vez desde 2014 para impulsionar os empréstimos bancários e estimular a atividade.
A montanha de dinheiro parado alcançava, no início de setembro, cerca de 1,8 trilhão de euros, segundo o BCE. Ao aplicar uma taxa de -0,50%, a fatura anual será de 9 bilhões de euros para os bancos, calcula a AFP.
Por isso, o BCE fez um gesto favorável aos bancos nesta quinta, instaurando um sistema de juros negativos em dois níveis, que exonera um volume importante de liquidez dessa taxa negativa. Isso deve levar a uma redução “à metade” da fatura para os bancos, segundo Frederik Ducrozet, da Pictet Wealth Management.
Os bancos precisam depositar fundos no BCE para lidar com as retiradas de dinheiro de seus clientes. Contudo, costumam depositar muito mais que esse montante obrigatório.
Essas taxas de juros constituem assim uma ferramenta crucial: ao incentivar o baixo custo do crédito e obrigar os bancos a pagar quando armazenam o dinheiro, em vez de emprestá-lo, o Banco Central pretende estimular a atividade econômica.
Esta política afeta diretamente a rentabilidade dos bancos em sua atividade de empréstimo, ao reduzir cada vez mais a margem entre a taxa de juros que eles emprestam e a que pagam quando se refinanciam.
Até agora, bancos franceses e alemãs para o tributo mais alto.
Quais são perspectivas? - Os bancos devem convencer investidores de sua capacidade para enfrentar juros negativos duradouros, ao mesmo tempo em que devem respeitar a regulamentação que lhes obriga a adquirir capitais adicionais para enfrentar eventuais choques financeiros.
Agora o sistema bancário não está exposto de forma uniforme às taxas baixas: os grupos bancários com receitas muito dependentes dos empréstimos e dos depósitos, como os bancos regionais alemães, são os maiores prejudicados por este cenário e sofrem mais que os bancos diversificados em serviços financeiros, seguros e bancos de negócios e investimentos, que é o caso dos franceses.
Quais são as consequências para clientes e poupadores? - “As taxas negativas levam a uma situação absurda, porque os bancos não querem mais ter depósitos de clientes”, disse Sergio Ermotti, diretor do banco suíço UBS, no início de setembro.
Até agora, os bancos só cobravam de seus clientes depósitos importantes quando se tratava de empresas, mas, de acordo com uma pesquisa realizada em julho na Alemanha, cerca de 30 bancos no país decidiram cobrar dos clientes mais ricos por seus depósitos, quando exceder 100.000 euros.
No entanto, essa prática não é comum na zona do euro, onde os bancos competem fortemente entre si para conquistar mais clientes e, assim, compensar sua perda de margem.
O empréstimo imobiliário a uma taxa competitiva tornou-se sua principal isca, em benefício de novos devedores, que estão emergindo como os grandes vencedores da estratégia do BCE.
Por outro lado, os poupadores que investem seu dinheiro em investimentos financeiros parecem ser os perdedores, uma vez que a lucratividade de muitos produtos de poupança caiu ao mesmo tempo em que os juros. Esta é uma questão particularmente sensível na Alemanha, onde muitos aposentados contam com suas economias.
Taxas negativas garantem que os investimentos financeiros deixem de ser atraentes e “induzem a riscos excessivos, tanto para pessoas físicas, quanto para fundos de investimento, que buscam rentabilidade a todo custo e que se voltam para produtos mais arriscados, o que é um perigo”, disse o economista Eric Dor, diretor de estudos econômicos da IESEG Management School.