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Jovens aproveitam o momento de crise para comprar imóveis

12/11/2018 / Categorias Mercado imobiliário

(O Estado de S. Paulo – Economia e Negócios – 10/11/2018)

Cris Olivette

Moradora de Aricanduva, Vanessa Freitas começou a procurar um imóvel para comprar em outubro de 2015. “Concentrei as buscas nos bairros Tatuapé, Mooca e Vila Prudente. Em novembro, vi um apartamento de 58m² na Vila Prudente. que gostei muito. Mas o preço e as condições não eram compatíveis com o que buscava.”

Enquanto procurava outras opções, a jovem de 26 anos fez algumas contrapropostas que não foram aceitas. “Para minha surpresa, em março a corretora me procurou com uma proposta melhor do que as que eu havia apresentado, inclusive com formas de parcelamento bem melhores”, comemora.

Segundo ela, o abatimento de 22% no preço do imóvel foi irrecusável. “Isso me ajudou a tomar a decisão de comprar mesmo durante a crise.”

Ela conta que a previsão de entrega é junho de 2017. “Como comprei na planta, agora vivo a ansiedade de acompanhar o andamento das obras”, afirma.

De acordo com um levantamento do portal Imovelweb que analisa variação dos preços de imóveis na cidade de São Paulo, por bairro e região, com base nos 450 mil anúncios mensais disponíveis no portal, em maio os preços médios de venda na capital paulista recuaram 0,6% frente a abril e agora em junho, apenas 0,1%.

“Esse pode ser um sinal para uma futura estabilidade do mercado imobiliário”, estima a gerente de marketing do portal, Fernanda Sequetto. No entanto, ela salienta que a queda acumulada no ano é de 0,5%, com o valor médio do metro quadrado atingindo R$ 5.965,00.

“O ano de 2015 já foi bastante desafiador, assim como está sendo 2016. Mas existem projeções positivas feitas por economistas, o que fará a economia do País ficar mais estável, levando o mercado imobiliário a retomar o seu crescimento”, avalia Fernanda.

Segundo ela, no ranking de maio, entre os bairros mas baratos, os destaques foram Cidade Tiradentes, com custo médio de R$ 2.751 o m², José Bonifácio com R$ 3.267,00 e Artur Alvin R$ 3.893,00, todos na zona leste. Enquanto o Jardim Europa, na zona sul, liderou como o bairro com m² mais caro (R$ 16.295,00), superando Vila Nova Conceição (R$ 16.124,00) e Itaim Bibi (R$ 12.532,00).

O levantamento aponta que a região que apresentou maior desvalorização em maio foi a leste, com queda de 1,5%. “Ao mesmo tempo, percebemos que há crescimento isolado de alguns bairros, como Tatuapé, cujo o preço médio acumula alta de 1,8% no ano. O mesmo ocorrendo com o Ipiranga, com alta de 2,0%”, diz.

Ipiranga, aliás, é onde Débora Kassidy e Allan Stolagli Scapin desejavam adquirir um imóvel. “Pesquisamos muito, mas os preços não estavam cabendo em nosso orçamento. Eles custavam cerca de R$ 550 mil na planta. Até que apareceu esse por R$ 288 mil, na região do Sacomã”, conta Débora.

Desde março, o casal vive a realização do sonho de morar na casa própria. “Antes, estávamos morando no Itaim Paulista, longe de tudo. Agora, estamos bem mais próximos do Centro e do trabalho. O metrô fica a 15 minutos de casa.”

Pelo levantamento do Imovelweb, entre os bairros que mais perderam valor este ano, o destaque foi a Liberdade, com desvalorização acumulada de 4,7%. Enquanto o Pacaembu, no acumulado desde janeiro, teve alta de 6,7% com o m² chegando a R$ 10.365,00.

Fernanda afirma que para quem tem dinheiro, esse é o melhor momento para comprar. “Sem dúvida, a pessoa conseguirá fazer excelentes negociações até mesmo em uma região mais valorizada. Além da queda registrada, é possível negociar com o corretor e com a incorporadora. Vemos casos de redução de 20% a 30%. Mesmo para quem tem de fazer financiamento, que ficou um pouco mais caro, caso obtenha abatimento no preço do imóvel, o saldo da balança ainda será positivo.”

Ela conta que na análise por região, a oeste é a mais cara da cidade, com valor do m² em R$ 8.224,00. Na sequência, aparecem centro-sul e centro, com valores médios de R$ 8.005,00 e R$ 7.487,00 o m². A região leste aparece como a mais barata, com R$ 4.679,00 o m², seguida pela zona sul, onde o preço do m² é de R$ 5.304,00.

No ano. Fernanda afirma que, no ano, a região sul é a que acumula maior queda porcentual no ano. “Os preços de venda caíram 0,9% no mês de maio, acumulando um recuo de 2,1% em 2016”, diz.

O estudo aponta que na zona central que inclui as zonas oeste, centro, centro-sul e sul, os preços ficaram estáveis em R$ 7.381,00 o m², com recuo de 0,1% em maio em relação a abril. Por outro lado, a região sudeste é que tem apresentado a maior recuperação de preços. Segundo o levantamento, em maio os preços subiram 0,1%, acumulando no ano variação positiva de 1,1%.

Secovi. O economista-chefe do Sindicato da Habitação (Secovi-SP), Celso Petrucci, conta que a entidade realiza levantamento periódico com base no preço médio de imóvel residencial novo. “No final de 2014 e começo de 2015, o mercado imobiliário chegou a ter uma perda anual real de preço de 14%. Hoje, essa perda está em 6% e o valor nominal já está crescendo. Acho que por mais algum tempo essa curva vai seguir crescendo vagarosamente, até atingir o preço real.”

Petrucci afirma que ainda existe perda de preço, mas bem menor do que era há um ano. “Ou seja, o mercado continua não tendo alta no preço do imóvel, mas a queda já diminuiu bem. A recuperação do mercado imobiliário vai depender da aprovação de medidas que estão pendentes no Congresso, do impeachment da presidente no mês de agosto, da retomada da confiança das pessoas, tudo isso está muito intricado.”

Segundo ele, como a possibilidade do impeachment é infinitamente maior do que a possibilidade de retorno da presidente, sua expectativa é de que nos próximos meses, provavelmente no quarto trimestre deste ano ou no primeiro trimestre de 2017, o mercado imobiliário tenha uma inflexão de crescimento. “Se isto acontecer, estas quedas também tendem a estar chegando a um final de período”, estima.

O economista ressalta que quem pode comprar deve aproveitar. “O momento está muito oportuno para o consumidor. Aproveitem porque com o Plano Diretor e com a Lei de Zoneamento que nós temos, alguns tipos de mercadoria subirão de preço até mais do que outros. Quem pode, deve aproveitar para comprar agora.”

Ele pondera, no entanto, que ninguém tem bola de cristal. “Trabalhamos com tendências, olhando o passado para tentar ter uma expectativa do que pode ser o futuro em curto ou médio prazo. Acho que a perda real do valor do imóvel mais forte já faz parte do passado. Já estamos indo mais para um momento de estabilidade e em questão de meses estaremos com crescimento de preço.”

Petrucci afirma que os níveis de lançamento e venda de imóveis são os mais baixos desde 2004. Esse, porém, não é um privilégio do mercado imobiliário. O mesmo ocorre com todos os segmentos, exceto com o agronegócio.”

Interessados pesquisam preço ideal durante vários meses

Há três meses, o analista de produtos, Ricardo Pieroni da Costa, procura um apartamento de até 70m² e que tenha um ou dois quartos. Além disso, ele busca um empreendimento que já tenha o valor do condomínio estabilizado, porque não quer ter de pagar um valor muito caro de taxa condominial.

“Os apartamentos novos estão saindo com muitas funções e procuro algo mais funcional porque sou solteiro. Sei que por conta desses extras a maior parte dos empreendimentos tem o preço do imóvel e do condomínio muito elevados.”

Costa tem preferência pelas regiões do centro e sul. “Quero algo próximo ao metrô.” Segundo ele, os preços de alguns apartamentos que já havia visto, hoje estão com o valor menor. “Mas ainda não encontrei nenhum desconto muito significativo que tenha me convencido a comprar. Tenho visto redução variando entre 5% e 10%.”

O jovem de 27 anos tem esperança de encontrar uma boa oportunidade. “Acho que tem tantas opções no mercado e por isso o poder está muito mais nas mãos do comprador do que de quem está querendo vender. Nesse momento, o consumidor tem muito mais poder de argumentação. Acredito que por conta da crise o mercado está mais favorável para quem quer comprar”, afirma.

Os namorados Cristina Melo e Rafael Nunes passaram todo o ano de 2015 procurando um imóvel. “Queríamos que fosse em São Paulo, mas chegamos a procurar até mesmo em Sorocaba e São Roque, por conta dos preços que não eram compatíveis com os nossos recursos”, afirma Cristina.

Em março, enfim, eles conseguiram concretizar a compra. “Estávamos negociando esse imóvel desde junho do ano passado. É um apartamento de 51 m² que fica no centro de Barueri. Vamos pegar as chaves em setembro de 2017.”

Cristina conta que a construção do empreendimento está perto de ser concluída, para então começar a fase de acabamento. “Valeu muito ter esperado porque obtivemos descontos e bonificações que resultaram em uma economia de R$ 20 mil em relação ao valor inicial.”

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