(Valor Econômico – Economia – 28/10/2020)
Chiara Quintão
A Gafisa está criando uma subsidiária de propriedades comerciais para renda por meio de aluguel e indicou seu atual diretor de novos negócios, Guilherme Pesenti, para comandar a nova empresa. Em entrevista ao Valor, o executivo não confirmou a negociação para compra dos shopping centers Fashion Mall e Guadalupe Shopping, no Rio de Janeiro, como primeiras aquisições da empresa. A Hemisfério Sul Investimentos (HSI) é majoritária nos dois ativos. Mas Pesenti afirmou que a subsidiária vai atuar em São Paulo e no Rio de Janeiro, nos segmentos de shopping, escritórios corporativos, salas comerciais e em residencial.
Segundo fonte, Gafisa e HSI assinaram contrato preliminar para a operação de compra e venda do Fashion Mall e do Guadalupe Shopping. A conclusão do negócio está sujeita a algumas condições precedentes, como “due dilligence” (auditoria de dados). Nenhuma das duas empresas comentou o assunto ao ser questionada. De acordo com fontes, o Fashion Mall tem potencial construtivo para comportar torre corporativa e residencial, além de um centro médico. A Cyrela teria participado da disputa pelo ativo de olho no potencial residencial. Procurada, Cyrela não comentou o assunto.
A nova empresa da Gafisa nasce com ativos de R$ 300 milhões a R$ 400 milhões se considerados os que serão transferidos da própria Gafisa e aqueles cujas compras estão no radar, segundo Pesenti. Em sua primeira entrevista à frente da nova empresa, que vem, por enquanto, sendo chamada de Gafisa Propriedades, ele disse ao Valor que o movimento faz parte do planejamento estratégico traçado quando a nova gestão assumiu a Gafisa há um ano e meio. O investidor Nelson Tanure participa da incorporadora por meio da Planner Asset Management, com 30%.
Além da intenção de diversificar seus negócios, a companhia já havia divulgado a retomada da presença no Rio de Janeiro, seu mercado de origem, com a aquisição de terreno, no Leblon, e de ativos da construtora Calçada.
O Valor apurou também que a Gafisa negocia a compra de edifícios corporativos com a própria HSI e com outras proprietárias. Questionado, Pesenti também não se pronunciou sobre isso. O executivo limitou-se a dizer que há ativos de escritórios sendo negociados, no mercado, por preços “abaixo do que valem” diante das incertezas em relação ao futuro do segmento. “Não acreditamos no fim dos escritórios”, ressalta.
Na avaliação de Pesenti, há muita sinergia entre o negócio de propriedades comerciais para renda e o de incorporação para a venda de imóveis. Outro motivo para a decisão da Gafisa de atuar também em locação, segundo ele, é a forte disputa por terrenos, em alguns bairros de São Paulo, para incorporação comercial. “A Gafisa continuará perseguindo oportunidades de incorporação, mas há casos em que esta não é a maneira mais eficiente de alocar capital”, diz o executivo.
Há intenção de atuar no segmento residencial para renda principalmente em São Paulo. Na capital paulista, as lojas que fazem parte da fachada ativa de empreendimentos também serão incluídas na nova empresa. “No Rio, temos dois ativos comerciais prontos - um de salas e outro que inclui salas e lajes corporativas - em que estamos estudando mudança de estratégia para uma gestão ativa de locação”, conta Pesenti.
Em dezembro, a Gafisa adquiriu a incorporadora Upcon. Em agosto deste ano, anunciou que pretendia realizar fusão com a Tecnisa, proposta que não avançou porque os acionistas da companhia fundada por Meyer Nigri se opuseram à continuidade dos estudos para a potencial integração entre as duas incorporadoras. De acordo com Pesenti, a criação da empresa de propriedades comerciais “não é excludente às conversas com a Tecnisa”. Ele não informou os próximos passos da Gafisa.