(Valor Econômico – Finanças – 31/01/2019)
Sérgio Tauhata
Os financiamentos imobiliários fecharam o ano passado com o primeiro crescimento desde 2014. O volume financeiro subiu 15% em 2018, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip). E, para o presidente da organização, Gilberto Duarte de Abreu Filho, o ano de 2019 será ainda melhor.
O dirigente destaca a perspectiva de ocorrer um aumento de velocidade da retomada do mercado imobiliário no ano diante de um cenário econômico mais favorável. "A macroeconomia claramente vive um momento de inflexão. Não podemos falar de economia acelerada, mas podemos falar que o PIB vai voltar a crescer e temos uma perspectiva para 2019 muito melhor."
No ano passado, os sinais de retomada do crédito foram visíveis. O volume de financiamento imobiliário, quando considerados tanto os empréstimos com recursos das cadernetas do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) quanto os provenientes do FGTS, atingiu R$ 117 bilhões em 2018, um crescimento anual de 15%.
Mas, se for considerado apenas o SBPE, houve alta de 33% ante 2017, de R$ 43 bilhões para R$ 57 bilhões. A média é puxada para baixo porque o crédito com "funding" do FGTS ficou praticamente estável com avanço de apenas 2% no período, de R$ 59 bilhões para R$ 60 bilhões.
Só em dezembro de 2018, os financiamentos pelo SBPE somaram R$ 6,05 bilhões, melhor resultado em 44 meses.
A expansão dos financiamentos ganhou impulso com a ação, principalmente, dos grandes bancos privados. Os dados da Abecip apontam que o Bradesco, por exemplo, apresentou um crescimento de 91% no volume financeiro de originação de crédito para aquisição e construção em 2018 frente a 2017. Com o resultado, assumiu a ponta do mercado em termos de concessões.
A antiga líder, a Caixa, manteve-se em segundo após registrar queda de quase 20% no volume financeiro de novas concessões. As outras instituições privadas - Itaú Unibanco e Santander - mostraram apetite no segmento e cresceram, respectivamente, 42% e 64% em originações.
O Banco do Brasil também teve atuação agressiva e apresentou um salto de 84% no volume de novos empréstimos. Apesar disso, o BB permaneceu em quinto em originações com metade do volume do quarto colocado, o Santander.
O crescimento da poupança ajudou a impulsionar os resultados. O saldo da aplicação subiu 10% em 2018 para R$ 618 bilhões. Foi o primeiro crescimento de dois dígitos do estoque da caderneta desde 2014. Para este ano, o cenário será ainda mais favorável. "Esperamos crescimento de 11% do saldo da poupança em 2019 para R$ 684 bilhões", afirma o presidente da Abecip.
Em termos de captação líquida, a diferença entre depósitos e saques da poupança em 2018 atingiu R$ 27,8 bilhões, quase o dobro de 2017. Segundo Abreu Filho, a tendência para 2019 é a poupança até acelerar o ritmo de captação líquida positiva diante de um cenário no qual a taxa Selic deve permanecer na mínima de 6,5% até o fim do ano.
Além da expectativa de expansão da poupança, em meio aos juros baixos e recuperação do emprego e renda, o "funding" para o mercado deve ganhar impulso nos próximos anos com a consolidação das Letras Imobiliárias Garantidas (LIG).
De acordo com o presidente da Abecip, o mercado de LIG vai se consolidar nos próximos três a cinco anos, "quando o título terá potencial para atingir centenas de bilhões de reais de saldo das operações". Segundo o dirigente, ainda neste ano, a LIG pode alcançar um patamar da dezena de bilhões de reais. A LIG começou a ser emitida em novembro de 2018. Nos dois últimos meses do ano passado foram feitas 36 emissões e o saldo em dezembro atingiu R$ 2 bilhões.
Conforme o presidente da Abecip, "o mercado de letras de crédito imobiliário [LCI] vai praticamente desaparecer nos próximos três anos e será ocupado pela LIG". Para Abreu Filho, as novas regras definidas pelo Banco Central na metade do ano passado para o SBPE vão desidratar o mercado de LCI e "proporcionalmente a letra garantida vai crescer".