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Cozinhas maiores e espaço para trabalhar: setor imobiliário encontra cliente com exigências diferentes na retomada

27/07/2020 / Categorias Mercado imobiliário , Economia

(O Globo – Economia – 27/07/2020)

 

Maíra Rubim

 

O ano de 2020 era de grande expectativa para o mercado imobiliário. Segundo o Sindicato da Habitação do Rio de Janeiro (Secovi-Rio), seria o melhor desde 2015. No entanto, a pandemia de Covid-19 mudou o panorama. O valor do metro quadrado residencial ofertado para venda, que vinha caindo desde setembro de 2019, quando valia R$ 8.880, bateu R$ 8.668 em março. Em abril, a queda foi ainda maior, para R$ 8.552. Mas, diferentemente do que aconteceu em outros segmentos, o cenário começou a apresentar uma recuperação já em maio, em plena quarentena, quando este valor voltou a subir (passou para R$ 8.667). Este mês, vem se mantendo estável. A oferta de imóveis para venda na cidade, que teve uma queda abrupta de março para abril, caindo de 94.112 para 77.467 unidades disponíveis, também voltou a melhorar em junho, quando chegou a 80.196.

 Desde o início da pandemia, foram 60 dias de dificuldades, com pouquíssimos contratos fechados, ninguém visitava os imóveis. Embora as ofertas pudessem ser feitas pela internet, as pessoas estavam isoladas, tentando entender o que estava acontecendo — diz Leonardo Scheneider, vice-presidente do Secovi-Rio analisa o cenário. — Em maio, a procura cresceu, e a grande retomada foi em junho, quando as construtoras voltaram a fazer lançamentos e os bancos facilitaram o crédito imobiliário.

Schneider acredita que o mercado vai se recuperar neste semestre. E salienta que a busca por imóveis grandes aumentou, principalmente pela tendência de se trabalhar em home office.

— As pessoas querem cozinhas maiores e uma boa área para trabalhar. Outra novidade foi o aumento da procura por casas e imóveis de veraneio. A flexibilidade no trabalho vai impactar a realidade do mercado imobiliário — prevê.

Lançamentos virtuais crescem: isolamento modificou percepção dos clientes

Nos primeiros meses da pandemia, a estratégia adotada por muitas construtoras foi a de vender seus estoques. A Calçada foi uma das que seguraram até junho lançamentos previstos para aquele período. Eram três: um na Barra, um no entorno do Parque Olímpico e outro em Botafogo.

— Nos primeiros meses, as pessoas estava receosas, sem saber se manteriam seus empregos e querendo evitar custos extras. Fizemos uma campanha on-line para vender os estoques e em maio observamos que todos já lidavam melhor com a situação — diz Bruno Oliveira, gerente de marketing e relacionamento da Calçada.

A construtora atualizou suas tabelas de preço e passou a oferecer benefícios como cobertura de seis meses de condomínio, IPTU grátis e armários planejados para a cozinha, além de facilidades como entrada com parcelamento, pagamento no cartão de crédito e aceitação de carro e FGTS como parte do pagamento. O tour pelos imóveis se tornou virtual.

— Este ano só vamos ter o lançamento na orla da Barra, que é um produto diferenciado. Nosso estoque baixou substancialmente de maio para cá — afirma Oliveira.

Desde 2014 sem lançar imóveis na Barra, a RJZ Cyrela anunciaria este ano três empreendimentos no bairro. Antes da pandemia, chegou a montar um estande de vendas num terreno próximo ao Rio Design Barra, que em três semanas somava 700 visitas. Com a pandemia, a estratégia foi recuar.

— Reabrimos o estande em 18 de junho e no dia 14 de julho fizemos o lançamento. Já vendemos 50% das unidades. A procura está muito alta, e achamos que vamos continuar vendendo bem. Caso consigamos a aprovação dos outros dois projetos, vamos manter a meta inicial de realizar três lançamentos no bairro. Junho foi o melhor mês do ano, vendemos muito do nosso estoque. Março e abril foram os piores meses — conta Carlos Bandeira, diretor de incorporação da RJZ Cyrela.

Bandeira observa que a quarentena fez com que as pessoas vivenciassem mais suas casas e passassem a sentir novas necessidades. Assim como Oliveira, avalia que a pandemia quebrou o paradigma de que as visitas aos futuros imóveis precisam ser presenciais:

— Alguns viram que precisam de um apartamento maior, outros querem um menor, ou morar num empreendimento mais novo. O fato é que as pessoas passaram a valorizar muito mais suas casas. A grande maioria está buscando apartamentos maiores, de três quartos, com cerca de 120 metros quadrados.

Sucesso de vendas leva a oferta de novos empreendimentos: profissionais revelam que casas passaram a ser mais valorizadas

Com planos de trabalhar as vendas de um prédio de 150 unidades na Taquara, a partir de abril, a Martinelli Construtora também teve de alterar sua estratégia. Optou por lançar virtualmente, no fim de junho, o Reference Life Resort, no Recreio, e aguardou a reação dos consumidores. Em uma semana, vendeu 15 apartamentos, e agora, com 70% das unidades compradas, não pensa mais em fazer um lançamento, somente um coquetel para celebrar.

— Resolvemos fazer o lançamento virtual porque começaram a nos perguntar sobre novidades. O mercado mudou de forma surpreendente. Os clientes, que antes costumavam buscar imóveis pequenos em prédios com infraestrutura, passaram a querer apartamentos maiores, até porque viram que na pandemia as áreas comuns dos condomínios foram fechadas. Agora estamos animados para lançar o empreendimento da Taquara agora — diz André Moreira, diretor da Martinelli Imóveis, braço do grupo ressponsável pelas vendas.

A JB Andrade Imóveis também optou pelo pré-lançamento virtual, em junho, de um residencial na Avenida Erico Verissimo, no Jardim Oceânico, no terreno onde funcionava a Bráz Pizzaria. Já foram vendidos 90% dos apartamentos, o que levou a empresa a decidir manter seu cronograma, com três lançamento na Barra e um no Recreio previstos para este ano.

— Seguramos os lançamentos para reduzir o que tínhamos no estoque. Na Praça do Ó, lançamos um prédio com 34 unidades e já vendemos 40% delas. Até o Recreio já voltou a ser procurado. A expectativa é que o mercado ganhe um fôlego ainda este ano — aposta João Batista de Andrade, diretor da JB.

A incorporadora Start Investimentos se prepara para lançar um condomínio na Praia do Pontal e um loteamento, também no Recreio. Neste último, quem fechar negócio ganhará o projeto da casa.

— O mercado de casas teve uma aquecida, e temos uma procura bem grande. Aproveitamos os primeiros meses da pandemia para cadastrar clientes. Os dois lançamentos serão em setembro ou outubro. É um bom momento para comprar imóveis, porque os preços devem subir em breve — diz Eric Labes, diretor da empresa.

Alexandre Szyfman, do Grupo Snaider, que se prepara para divulgar, em agosto, dois residenciais de alto luxo no Recreio (sendo um na Praia da Macumba) que tiveram os lançamentos adiados, está otimista:

— O ano começou quente, e a Covid-19 foi uma ducha de água fria. Agora a taxa de juros está boa para investidores, para quem vai financiar a longo prazo ou para quem quer viver de aluguel. 

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