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Consumo e construção devem se destacar mais em cenário de retomada

31/10/2018 / Categorias Mercado imobiliário

SÃO PAULO  -  A melhora da confiança nos mercados deve favorecer um cenário de retomada econômica e, consequentemente, mais valorização da bolsa. Esse esperado movimento positivo tende a ser liderado por setores que estavam “represados”, caso de, segundo analistas, ações ligadas à economia doméstica, em especial consumo, construção e infraestrutura.

Nesta terça, papéis representantes desses segmentos já deram o tom que pode ditar as performances daqui para frente: ficaram entre os destaques do pregão e subiram em bloco. Tal movimento ajudou a dar impulso ao Ibovespa, que foi aos 86.886 pontos, em alta de 3,69%. Com a trégua no exterior para favorecer o movimento, o índice ficou a cerca de 800 pontos do recorde de fevereiro, de 87.653 pontos.

“Consumo está represado e o balanço dos bancos está bem conservador então, com a retomada da confiança, o consumo tem condições de se recuperar mais rapidamente”, diz Marcelo Faria, gestor de fundos de renda variável da Porto Seguro Investimentos.

A aposta em papéis atrelados à atividade doméstica já havia crescido conforme o presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), se fortalecia nas pesquisas de intenção de voto. Agora, à medida que as propostas do novo governo saiam do papel, o espaço que a bolsa ainda tem para subir deve se refletir sobretudo nesses ativos, dizem analistas.

No pregão na B3, B2W teve forte valorização, de 9,39%, seguida por Lojas Renner (8,49%), Via Varejo (6,69%), Iguatemi (6,54%), Multiplan (6,53%), Localiza (5,59%), Lojas Americanas (5,59%) e Cyrela (5,34%).

Para Faria, com sinalizações adequadas do novo governo em direção a um comprometimento real com as reformas, “dificilmente o desemprego piora”. No caso de construção civil, uma das apostas da Porto Seguro é na média e alta renda, caso de EZTec, e na baixa renda também, com nomes de “boa execução”, como MRV. No segmento de vestuário, Lojas Renner é a preferida.

“Na renda variável, o componente doméstico terá uma dominância maior e, se forem entregues as reformas esperadas, teremos uma injeção de confiança que vai se traduzir em expansão econômica”, diz José Pena, economista-chefe da Porto Seguro Investimentos.

Os profissionais da Porto Seguro afirmam ainda que, nos últimos anos de recessão, os lucros das companhias caíram bastante, mas as empresas que compõem o Ibovespa buscaram manter qualidade e eficiência. Isso renova a confiança na continuidade da expansão neste ano e também em 2019. “Pegando essa expectativa de resultado vis-à-vis o preço da bolsa, ela está historicamente na média, ou um pouco abaixo”, diz Faria. “Com a melhora do ambiente de negócios, a bolsa deveria estar negociando acima da média.”

O contexto brasileiro também será mais importante com a recente piora no ambiente internacional de risco, que pesou recentemente sobre os emergentes. “A agenda de responsabilidade fiscal é fundamental nesse contexto global mais adverso que estamos vendo”, diz Pena.

Em relatório, o Morgan Stanley recomendou que os investidores “comprem Brasil” e gradualmente alterem as carteiras para substituir estatais por ações ligadas ao ciclo doméstico. A preferência do banco é, no momento, por BB Seguridade, Ecorodovias, Estácio e Usiminas — ações que fecharam em alta forte ontem. “O Brasil pode ter uma narrativa positiva nos próximos cinco a seis meses, algo que outros emergentes grandes como China, Índia, Rússia e África do Sul não têm”, diz. “Com capital político e vontade de fazer reformas, o novo governo poderá trazer um reflexo positivo no curto e longo prazo no crescimento da economia.”

Entre os sinais que o banco espera estão a retirada do subsídio fiscal para o diesel e a priorização da reforma da Previdência — ontem Paulo Guedes, que deve ser o ministro da Economia do novo governo, voltou a declarar a prioridade da pauta. “Após março, com a volta do recesso parlamentar do Carnaval, os sonhos têm que virar realidade”, diz o Morgan.

“Nosso argumento é que, se estivermos certos na nossa tese, então o crescimento da atividade deve se fortalecer ao longo de 2019”, destaca o Morgan Stanley, ao justificar a recomendação para ações do ciclo doméstico e uma gradual redução a estatais.

Na XP Investimentos, a ordem do dia também é priorizar na bolsa o setor de varejo, além de aviação, bancos, siderúrgicas e locadoras. Com a retomada da economia, câmbio apreciado e juros baixos, são preferidas as ações de B2W, Lojas Americanas, Gol, Bradesco, Banco do Brasil, Usiminas e Localiza. A Petrobras entra nesta lista, e a corretora já recomenda a compra das ações — ambas subiram ontem, 5,53% (ON) e 5,98% a (PN).

Em relatório recente, o Citi destaca que mantém sua recomendação “acima do neutro” (“overweight”) em Brasil, de olho na eleição, mas que há uma perspectiva de ganhos das empresas da bolsa que já justifica apostas em setores de construção e incorporação, matérias-primas e instituições financeiras.

“O PIB [Produto Interno Bruto], vendas no varejo, produção industrial e capacidade utilizada da maioria das indústrias ainda está em níveis pré-crise”, diz. “Mas a alavancagem operacional tem sido um tema ao longo do ano e a capacidade ociosa sugere que ela pode continuar crescendo.”

Na Porto Seguro, algumas carteiras também têm alocações em estatais, embora o setor de infraestrutura e consumo tenham mais a ganhar. Faria conta que uma das carteiras administradas por ele tem 30% de posição em companhias controladas pelo governo, desde federais até estaduais. “Não temos restrições a estatais, mas a questão da qualidade tem aí outra dimensão, porque o controle estatal muda conforme o governo muda, então o prêmio de risco é sempre um pouco maior.”

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