A construção pesada fluminense vive seu pior momento em mais de uma década. Em maio, o nível de emprego com carteira assinada ficou em torno de 64 mil postos de trabalho, patamar mais baixo em pelo menos desde 2006. Além da pressão decorrente da crise fiscal do Estado e da desaceleração econômica, a cidade sofre também as consequências do esgotamento do ciclo de grandes eventos esportivos (Copa e Olimpíada) que resultou em pesados investimentos públicos em infraestrutura.
Na comparação entre maio de 2017 com o mesmo mês deste ano a queda no emprego formal do segmento foi de 15%, de acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho. O percentual é mais de cinco vezes superior à perda de vagas registrada em nível nacional pela construção pesada (-2,7%). "[O recuo] tem tudo a ver com a crise do Estado e do município do Rio de Janeiro", afirma Luiz Fernando Santos Reis, presidente executivo da Associação das Empresas de Engenharia do Rio de Janeiro (Aeerj).
Em 2015, ano anterior à última Olimpíada, o volume de investimentos empenhados (autorizados) pela Prefeitura somou R$ 5,18 bilhões, conforme indica o balanço orçamentário publicado em atendimento à Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). O total caiu para R$ 3,71 bilhões no ano seguinte e para R$ 760,55 milhões em 2017. "Passados os eventos esportivos, era natural que o investimento caísse", diz Rodrigo Orair, economista da Instituição Fiscal Independente (IFI).
"Inflado" pelas obras relacionadas aos eventos esportivos, o número de postos de trabalho na construção pesada do Rio chegou ao pico de 152 mil no biênio 2013/2014. "O número foi inflado por causa dos eventos, mas a perda [de vagas] iria ocorrer de qualquer maneira", analisa Cimar Azeredo, coordenador de trabalho e rendimento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), numa referência aos efeitos da recessão dos últimos anos. "A construção foi uma das atividades que mais sofreram."
Orair, do IFI, destaca que a diminuição do investimento público no país "é um fenômeno generalizado" nas esferas federal, estadual e municipal, atingindo inclusive as estatais. Entre 2014 e 2017, o investimento público do Estado do Rio recuou a uma taxa real de 52,7% ao ano, de acordo com relatório de acompanhamento fiscal da IFI. De maneira geral, explica Orair, os Estados ainda sofrem as consequências do período de 2011 a 2014 em que a flexibilização das regras para a tomada de crédito alavancou o endividamento da maior parte das unidades da federação.
A diminuição natural dos investimentos no período pós-Olimpíada está longe de ser compensada pela atividade econômica fluminense. Nos últimos três anos a retração acumulada pelo Produto Interno Bruto (PIB) do Rio de Janeiro foi de 7,05% e o Estado deve crescer abaixo da média nacional este ano, segundo indicam projeções da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan). A entidade estima que o PIB estadual deve crescer 1,6% este ano, abaixo portanto da projeção para o Brasil (2,2%).
Embora o mercado de construção civil também esteja retraído é a escassez de obras de infraestrutura que vem puxando para baixo o estoque de empregos do setor, argumenta Reis, da Aeerj. Entre maio de 2015 e o mesmo mês deste ano, o total de empregos com carteira assinada no segmento fluminense de construção civil encolheu 39%, contra 53,9% da pesada.
Os empregos na construção pesada são majoritariamente, postos com carteira assinada, tanto em nível nacional (86,7%) como no Rio de Janeiro (85,5%), conforme atestam dados de março da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Levando em consideração o emprego formal em todos os setores, e não apenas o da construção, o recuo do emprego formal no país foi de 0,4% em maio, na comparação anual, enquanto que no Estado do Rio o percentual foi três vezes maior (-1,2%).