(Valor Econômico – Finanças – 22/01/2019)
Juliana Machado
As duas construtoras do Ibovespa - MRV e Cyrela - já ganharam 12% de valor de mercado neste ano e figuram entre os setores de destaque da bolsa de valores. Segundo analistas, os papéis dessas empresas vêm antecipando a expectativa de ganhos que o segmento tem a destravar, com a retomada da atividade econômica ao longo de 2019.
Juntas, MRV e Cyrela passaram a valer R$ 13 bilhões na B3, contra R$ 11,7 bilhões no último pregão de 2018. Trata-se de um movimento de recuperação em relação ao ano passado, quando o valor de mercado das duas companhias havia caído 2,4% ante 2017. A MRV vale hoje R$ 6,1 bilhões na bolsa, enquanto a Cyrela soma R$ 6,9 bilhões. No caso da MRV, o papel é cotado atualmente a R$ 13,85, maior preço em dez anos, enquanto a ação da Cyrela, em R$ 17,19, está na cotação máxima em nove anos.
As empresas ligadas ao setor de varejo e consumo também tiveram um ganho de valor de mercado neste ano com o ambiente macroeconômico positivo, mas a valorização ficou abaixo das construtoras. Na bolsa, essas empresas passaram a valer R$ 174 bilhões, contra R$ 171,6 bilhões no fim do ano passado, um avanço de 1,5%.
O setor de construção está na lista dos que devem se beneficiar da retomada da atividade brasileira esperada para o ano, como consequência do aumento da confiança dos empresários e dos consumidores. É um dos setores que mais depende de juro baixo, melhora na renda das famílias, queda no desemprego e aquecimento da atividade para voltar a se recuperar. Conforme analistas, empresas de varejo básico, como alimentos, e discricionário, como vestuário e eletrodomésticos, colhem ganhos parecidos, mas, diferentemente do setor de construção, têm um ciclo mais rápido de retomada.
Entre os setores expostos à economia doméstica, a recuperação das construtoras no começo deste ano também foi melhor do que o setor bancário. Em conjunto, o valor de mercado de Banco do Brasil, Itaú Unibanco, Bradesco e Santander cresceu 7,9% neste ano, para R$ 926 bilhões.
Segundo Carlos Herrera, estrategista-chefe da Condor Insider, as construtoras vêm oferecendo bom retorno, e a Trisul, por exemplo, passou a integrar uma das carteiras da casa, cuja rentabilidade já é de 72% de agosto até hoje. "O setor é bastante atraente porque tem ciclo longo e muitas empresas passaram ou estão passando por um processo de reversão de tendência", diz.
Construção e incorporação foram segmentos substancialmente afetados pela crise do Brasil após 2014 porque contam com fluxo de caixa bem mais sensível: essas empresas investem em estrutura pesada e ativos tangíveis - os empreendimentos - para depois comercializá-los. Mesmo com as vendas na planta, trata-se de um desembolso de capital grande da empresa logo de saída.
Nesse contexto, diversas companhias do setor passaram a enfrentar problemas financeiros com a alta dos juros no Brasil, estrangulamento da renda das famílias e endividamento, aumento do desemprego e a estagnação da atividade. Avolumaram-se os fechamentos de capital e pedidos de recuperação judicial, como se viu com a PDG Realty e com a Viver - primeira construtora listada na B3 a pedir proteção contra os credores.
"Antecipamos um momento operacional positivo para as construtoras de renda média e média-alta, com lançamentos e vendas se recuperando e com a maior acessibilidade a financiamentos", afirma o Itaú BBA, em relatório.
Segundo o banco, os cancelamentos de vendas de imóveis devem continuar caindo: o indicador, que é medido como um percentual das vendas brutas das empresas, alcançou 22% no setor no fim do terceiro trimestre de 2018, contra um pico de 38% atingido em 2016. "Isso não é mais um problema", afirma o banco, atribuindo a melhora à situação da própria economia e também à sanção da lei que regulamenta os distratos, em dezembro. O Itaú BBA tem como preferidas no setor a MRV e, fora do Ibovespa, Tenda e EZTec.