(Valor Econômico – Empresas – 10/07/2019)
Ivo Ribeiro
A indústria brasileira do cimento, que vem de quatro anos seguidos de retração no consumo, espera, ao menos, mudança de tendência neste ano. Após obter crescimento de 1,5% nas vendas do primeiro semestre, o setor ainda mantém sua projeção de 3% a 3,3% volume comercializado em 2019. Para isso, as entregas de julho a dezembro teria de ser 4,5% superior sobre igual semestre de 2018.
No ano passado, as cimenteiras entregaram ao mercado 52,7 milhões de toneladas. "Se confirmar os 3%, serão quase 1,6 milhão de toneladas a mais, volume menor que o de um forno paralisado. É insuficiente para uma recuperação do setor, mas já representará uma tendência positiva para quem enfrenta 47% de ociosidade em sua capacidade fabril instalada", afirma Paulo Camillo Penna, presidente do Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC).
De acordo com Penna, a indústria está com 21 unidades fabris de cimento paralisadas. O setor viveu o auge de consumo em 2014, com 71,7 milhões de toneladas. De lá para cá, sofreu perda de 27%, amargando "queima brutal" de capital das empresas fabricantes.
De janeiro a junho, o volume vendido atingiu 25,88 milhões de toneladas, conforme dados preliminares divulgados ontem pelo SNIC. Em junho, na comparação com mesmo mês do ano passado, houve retração de 15,7%, para 4,2 milhões de toneladas, refletindo distorção na base de comparação devido à greve dos caminhoneiros em maio de 2018, que afetou também o mês seguinte.
Os primeiros seis meses do ano vieram em linha com o projetado, afirma Penna. "O desempenho de junho acabou ajustando a alta expansão do mês de maio de 2019, que teve origem no baixíssimo desempenho do mesmo mês do ano anterior, fruto da greve dos caminhoneiros. Essa expansão de 1,5% no primeiro semestre era esperada pela nossa previsão. A expectativa para o segundo semestre é de um crescimento bem mais robusto".
O mercado imobiliário continua ditando o ritmo do desempenho do setor, diz. "O número de lançamentos imobiliários permanecem numa trajetória de alta. Já percebemos uma maior participação dos consumidores industriais, ou seja, da construção formal nas vendas de cimento. Nesse sentido, setores tais como de concreto e de artefatos à base de cimento voltaram a ganhar participação nas vendas".
A expectativa da aprovação da reforma da Previdência, como o esperado pelo governo, somada a medidas favoráveis ao mercado que estão na agenda econômica, tem potencial para reinjetar otimismo no setor, afirma o executivo. Para ele, o programa Minha Casa Minha Vida recebeu injeção de recursos e passará em breve por mudanças e o governo deve, além da reforma tributária, acelerar planos de privatização e de concessões de infraestrutura. Nos estados, como São Paulo, diz, há projetos que geram obras sendo destravados. "O setor da construção não aguenta mais um ano de crise".
Em agosto, o SNIC vai fazer uma avaliação profunda de todos os indicadores da economia e definir, de vez, se revisa suas projeção de demanda. A expectativa é que o empresariado ganhe um sopro de ânimo com a aprovação da reforma da Previdência e início de outras medidas.