(Folha de S. Paulo – Mercado – 03/01/2019)
Mariana Carneiro
O presidente da Caixa, Pedro Guimarães, afirmou nesta quarta-feira (2) que pretende focalizar a atuação do banco estatal no crédito imobiliário e no atendimento a correntistas de renda mais baixa, deixando de lado operações com grandes empresas.
Guimarães criticou atuação do banco nos governos do PT, que liberou empréstimos a empresas como a Petrobras no balcão da Caixa.
“Até que ponto a Caixa tem que ter mais de R$ 100 bilhões em empréstimos a grandes empresas, que podem tranquilamente tomar esses recursos no mercado interno e no mercado externo? Por que a Caixa, com 93 milhões de clientes, que não consegue financiar microcrédito e não tem operação relevante de consignado, tem que emprestar para uma empresa gigante? Não vejo nenhum sentido”, afirmou.
Guimarães, que antes assumir a Caixa dirigia o banco de investimentos Brasil Plural, chegou ao governo pela indicação do ministro Paulo Guedes (Economia).
Ele se disse afinado com o ministro, que em seu discurso de posse afirmou que pretende desestatizar o mercado de crédito. A cerimônia de transmissão de cargo ocorreu nesta quarta-feira (2), em Brasília.
Guedes mencionou explicitamente o BNDES. Disse que quer de volta os recursos que a União injetou no banco nos governos Lula e Dilma Rousseff. Na época, o governo esperava ampliar o crédito e recuperar o crescimento econômico, que desacelerava.
“Queremos o dinheiro da União de volta, queremos despedalar. Queremos de volta os R$ 500 e poucos bilhões que foram dados”, afirmou.
Segundo ele, o crescimento dos empréstimos dos bancos estatais criou dois mercados paralelos de crédito, um de recursos livres e outro de “amigos, com juros lá embaixo”.
“O BNDE (sic) devolve esse dinheiro, encolhe seu balanço um pouco. Retiramos dívida em circulação, irrigamos esse mercado que estava apertado e a vida fica um pouco mais difícil para quem vive à sombra do Estado”, afirmou. “Vamos desestatizar o mercado de crédito”.
Na Caixa, Pedro Guimarães tem planos de vender ações de empresas subsidiárias do banco, nos mesmos moldes do que o Banco do Brasil fez com sua área de seguros, o BB Seguridade.
A ideia, segundo o executivo, é fazer duas ofertas públicas de ações ainda neste ano. Os ramos que podem ser alvo desse fatiamento são as áreas de cartões, de seguros e de gestão de investimentos e de patrimônio.
O executivo disse ainda que pretende securitizar o crédito imobiliário da Caixa, ou seja, vender títulos no mercado lastreados em empréstimos. Isso aumentaria a disponibilidade de recursos para o banco emprestar.
Hoje, a Caixa está estrangulada pelas regras de reserva mínima de capital próprio para a concessão de empréstimos.