(Valor Econômico – Finanças – 05/08/2019)
Fabio Graner e Luísa Martins
O movimento de redução de taxas de juros pela Caixa Econômica Federal foi feito de maneira autônoma e obedecendo uma lógica estratégica, sem interferência política, disse uma fonte graduada do banco federal.
Esse interlocutor argumentou que o movimento em curso não deve comprometer de forma relevante o lucro da instituição, que deve priorizar a composição de resultado por meio da ampliação da carteira de clientes, novos negócios (como a entrada no segmento de maquininhas de cartão) e redução de custos.
Na última sexta-feira, o presidente Jair Bolsonaro comemorou a redução das taxas de juros da Caixa, mas afirmou que os percentuais "ainda são altos". "Após a menor Selic da história, a Caixa Econômica reduz suas taxas de cheque especial, CDC e créditos a pequenas empresas. Sim, os percentuais ainda são altos, mas a CEF deu o primeiro passo", escreveu o presidente, em uma rede social. "Aguardamos a concorrência".
No ministério da Economia, um interlocutor salientou que isso não significa que os bancos públicos serão utilizados para pressionar os privados, como ocorreu no governo Dilma Rousseff.
A fonte da Caixa, por sua vez, ressaltou que os cortes nas taxas de juros foram feitos de forma "matemática" e a expectativa é que tenham como efeito, além do aumento na base de clientes, alguma redução na inadimplência, especialmente de linhas de crédito como o cheque especial, cujos níveis são recorrentemente elevados.
Outro argumento utilizado para descartar ingerência política é que o processo em curso estaria isolado na Caixa e não envolve outras instituições, em especial o Banco do Brasil, que tem capital aberto. A fonte acredita ainda que outras iniciativas devem reduzir o spread bancário sem colocar em risco a saúde da instituição. Seria o caso da medida que cria o financiamento imobiliário atrelado ao IPCA, em vez da TR. E, nesse sentido, se o mercado for nessa direção, a fonte acredita que haverá uma queda generalizada no spread dessa modalidade de crédito.
O banco espera também ampliar sua lucratividade a partir de operações como seguros atrelados a operações de crédito e entrando em segmentos que possam aproveitar a capilaridade da instituição, como no caso das maquininhas de cartão, que podem ser utilizadas em toda a rede lotérica.
Nesse sentido, a instituição federal pretende ser paga para operar com exclusividade com uma empresa do segmento de "maquininhas" de cartões. Após um período de consultas junto ao Tribunal de Contas da União (TCU), a instituição federal está colocando na rua o processo de disputa pelo contrato no chamado segmento de "adquirência". Na sexta, o banco publicou em sua página na internet que "promoverá processo competitivo para a realização de parceria societária em adquirência".