(O Estado de S. Paulo – Economia e Negócios – 31/01/2019)
Circe Bonatelli
Os bancos privados assumiram as rédeas do crédito imobiliário, considerando apenas as linhas de financiamentos com recursos originados nas cadernetas de poupança, de acordo com dados divulgados pela Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) nesta quarta-feira, 30.
Em 2018, o Bradesco liderou a concessão de financiamentos para a compra e a construção de moradias no Brasil, com empréstimos que totalizaram R$ 15,1 bilhões, Já em 2017, o banco fechou o ano na terceira posição, com R$ desembolsos de R$ 7,8 bilhões.
A Caixa Econômica Federal – conhecida por ser o banco da habitação – ficou em segundo lugar em 2018, atingindo R$ 13,2 bilhões em financiamentos. No ano anterior, a estatal liderou o ranking, com R$ 16,4 bilhões em empréstimos nessa categoria.
O Itaú Unibanco chegou em terceiro lugar em 2018, com R$ 12,1 bilhões. No ano anterior, ficou em segundo lugar, com R$ 8,5 bilhões. O Santander Brasil se manteve na quarta colocação, com R$ 10,2 bilhões, ante R$ 6,2 bilhões. E o Banco do Brasil também manteve sua quinta colocação no ranking, com R$ 5,1 bilhões, ante R$ 2,7 bilhões.
Para 2019, a dinâmica do mercado não deve passar por mudanças significativas, estimou o presidente da Abecip, Gilberto Duarte. Ele lembrou que nos últimos anos, os bancos públicos, especialmente a Caixa, passaram a focar no mercado imobiliário destinado às pessoas de média e baixa renda. Este setor é enquadrado no Minha Casa, Minha Vida e conta com crédito subsidiado por recursos do FGTS, que não são operados pelos bancos privados. "O mercado deve continuar assim", previu.
Duarte ressaltou que, nas linhas com recursos da poupança, os bancos públicos já vêm operando dentro das condições de mercado, sem incentivos artificiais, há cerca de três a quatro anos. "Os bancos públicos não precisam de subsídio para competir. Eles têm capacidade e competência para isso", avaliou.
Nesse sentido, ele disse considerar "normal" e "nada estranho" o discurso recente do presidente da Caixa, Pedro Guimarães, de que a estatal vai praticar juros de mercado. "Na verdade, a prática já era essa. E ela tem condições de competir assim", acrescentou.
Crédito imobiliário - Os financiamentos para a compra e a construção de imóveis totalizaram R$ 117 bilhões em 2018, aumento de 15% em comparação com 2017, de acordo com dados também divulgados pela Abecip. O desempenho ficou em linha com as expectativas da associação, que previa um crescimento na ordem de 15% a 17% para os desembolsos no ano.
Os empréstimos com recursos da poupança (SBPE) alcançaram R$ 57,4 bilhões em 2018, alta de 33%, enquanto o crédito com recursos do FGTS bateu em R$ 60 bilhões em 2018, crescimento de 2%.
No caso da linha com recursos da poupança, foi registrado aumento de 35% nos empréstimos para compra de imóveis usados e alta de 26% para unidades novas. A pesquisa mostrou também que os desembolsos desta linha para financiar a construção de imóveis (crédito destinado à empresas) teve alta de 43% em 2018, e para compra de imóveis (pessoas físicas) teve expansão de 30%.
Taxas devem ficar estáveis - As taxas de juros do financiamento imobiliário tendem a permanecer estáveis ao longo do ano, com possibilidade de oscilações para cima ou para baixo de acordo com a evolução da economia brasileira, especialmente de acordo com o desfecho das reformas estruturais, como da Previdência, disse também o presidente da Abecip, Gilberto Duarte.
O executivo explicou que as taxas praticadas no financiamento imobiliário levam em consideração principalmente as expectativas econômicas de longo prazo, pois os empréstimos tem duração de até 35 anos. "A taxa de juros do longo prazo pode cair se reformas forem aprovadas. Aí, a tendência de todos os setores, inclusive dos bancos, é de maior confiança nos financiamentos, e os juros podem cair", disse. Duarte ressaltou ainda que os juros do crédito imobiliário já estão em níveis baixos e semelhantes ao do período anterior à crise.
Em relação à demanda, o presidente da Abecip disse ter a expectativa de que a indústria da construção residencial vá reagir mais fortemente neste ano. "Assim como viu em 2018, o mercado deve crescer, com mais lançamentos, e maior demanda por crédito", estimou. Já entre as pessoas físicas, também tem havido uma reação, porém gradual, de acordo com melhoria da economia e da redução do desemprego, disse.
Mudança de perfil - O mercado de crédito imobiliário deve passar por uma mudança em seu perfil de funding neste ano. Os financiamentos com recursos da caderneta de poupança devem superar os financiamentos das linhas com dinheiro proveniente do FGTS em 2019, uma situação que não ocorria desde 2015.
O crédito para a compra e a construção de imóveis no País deve atingir R$ 126 bilhões em 2019, de acordo com estimativa da Abecip.
As previsões apontam que os financiamentos com recursos originados nas cadernetas de poupança devem atingir R$ 69 bilhões, enquanto os empréstimos com dinheiro do FGTS devem somar R$ 57 bilhões, recuo de 5%.
O presidente da Abecip, Gilberto Duarte, destacou que a poupança voltou a apresentar um desempenho positivo, com mais depósitos do que saques, consolidando um cenário de captação positiva que tende a continuar ao longo dos próximos trimestres. O saldo das cadernetas chegou a R$ 618 bilhões em 2018, montante 10% maior do que em 2017.
"O ano de 2018 foi bastante forte para as cadernetas de poupança", disse Duarte. "E o cenário econômico está mais favorável, com avanço do PIB, queda do desemprego e taxa de juros baixa, o que faz a poupança ser uma aplicação mais interessante", pontuou.
Duarte afirmou que a disponibilidade de recursos para a compra e a construção de moradias é saudável e não preocupações em torno da falta de dinheiro para o setor no curto a médio prazo. "São recursos suficientes para financiar a construção".
O presidente da Abecip destacou também o início das emissões das Letras Imobiliárias Garantidas (LIGs) no último ano, formando um estoque de R$ 2 bilhões. Segundo o executivo, essa carteira pode vir a atingir "dezenas de bilhões de reais" no curto prazo, considerando a segurança do instrumento e o apetite dos bancos. "As LIGs vão crescer e ocupar uma parcela importante do mercado", estimou.
A Abecip também está conversando com o Banco Central para flexibilizar as aplicações em LIGs por estrangeiros. Hoje, investidores de fora do País precisam abrir uma conta no Brasil para a negociação das LIGs. O objetivo da Abecip é permitir que as aplicações possam ser feitas mesmo do exterior e em moeda estrangeira. Como as taxas de juros praticadas no Brasil são mais altas, a flexibilização das regras poderia abrir as portas para a entrada de um volume elevado de recursos, disse Duarte. Segundo ele, não há prazo para um desfecho dessas discussões, mas o Banco Central tem se mostrado cooperativo.