(O Globo – Economia – 08/12/2020)
Índice usado nos reajustes do setor imobiliário sobe 24,52% em um ano e leva start-up Quinto Andar a adotar o IPCA como referência
Ana Carolina Diniz e Rafaella Barros
Com o Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M) pressionando os reajustes dos contratos de aluguel, o mercado imobiliário vem tomando atitudes para tentar contornar a alta. Desde 26 de novembro, a start-up Quinto Andar vem adotando o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em seus novos contratos, além de facultar a mudança aos contratos vigentes.
Isso porque, enquanto o IPCA indica uma inflação de 3,92% entre de janeiro a outubro, o IGP-M registrou impressionantes 21,97% acumulados até o mês passado. Em 12 meses, o percentual chegou a 24,52%, diz a Fundação Getúlio Vargas, responsável pelo cálculo.
Bernardo Loureiro, analista de Dados do Quinto Andar, explica que a composição do IGP-M faz deste um índice naturalmente mais volátil, pois inclui a variação de produtos que são cotados em dólar, por exemplo.
— O IPCA, ao contrário, não sofre esse tipo de impacto e mede a inflação ao consumidor, o que o torna mais próximo da realidade das pessoas em geral, ou seja, inquilinos e proprietários.
O movimento da start-up é visto com cautela no setor.
— Não pretendemos mudar porque hoje o IGP-M está alto e amanhã ele poderá não estar. Vale lembrar que não faz muito tempo que o índice ficou negativo. Podemos achar que hoje estamos sendo justos com as partes. E amanhã? Teremos que trocar o índice de novo? — justifica Edison Parente, vice-presidente comercial da Administradora Renascença.
Solange Portela de Andrade, diretora da JB Andrade Imóveis, acrescenta:
— A negociação continua sendo a melhor solução, que deve se mostrar justa e razoável tanto para locatários quanto para os locadores.
As tentativas para se chegar a um acordo neste momento se mostram ainda mais relevantes quando se observam os índices de vacância, que podem ser uma grande arma de argumentação para os locatários.
Dados de um levantamento da APSA mostram que no Rio o percentual médio de imóveis residenciais vazios saiu de 14,4% em outubro de 2019 para 17,2% em outubro deste ano.
Jean Carvalho, gerente de imóveis APSA, diz que o momento pede flexibilidade de ambas as partes:
— Quem não está disposto a negociar o novo valor do aluguel pode até acabar perdendo o inquilino. O proprietário corre risco de ficar com o imóvel vazio, e tendo que custear o condomínio.