(Valor Econômico – Empresas – 07/11/2018)
Bruno Villas Bôas
Símbolo na paisagem carioca da derrocada do império de Eike Batista, o Edifício Hilton Santos, localizado no Morro da Viúva, na zona sul do Rio, vai receber investimentos de R$ 115 milhões da construtora RJZ Cyrela para ser transformado em um condomínio de luxo, com 148 apartamentos.
Localizado na avenida Rui Barbosa, ponto considerado "aristocrático" no Rio por sediar consulados e ter sido residência de embaixadores, o empreendimento foi batizado Rio by Yoo e começará a ser comercializado hoje com um valor geral de vendas (VGV) de R$ 440 milhões, o maior da cidade nos últimos anos.
Segundo a Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi-RJ), o lançamento, ao lado de outros realizados em diferentes regiões da cidade neste segundo semestre, poder marcar o início de recuperação do mercado carioca.
Inaugurado em 1954 como sede social do Clube de Regatas do Flamengo, de frente para o Aterro do Flamengo e o Pão de Açúcar, o prédio foi arrendado pelo grupo EBX, de Eike Batista, em 2012, com objetivo de transformá-lo em um hotel cinco estrelas, de 454 quartos, o que exigiria investimentos estimados em mais de R$ 100 milhões.
Com a derrocada do império X, o projeto acabou abandonado - movimento semelhante ao ocorrido com o Hotel Glória. Em abril de 2015, o edifício chegou a ser invadido por famílias sem-teto, que ocuparam os dois primeiros andares. A reintegração de posse foi marcada por confrontos entre a PM e os invasores.
Em 2016, Eike e o clube fecharam um "distrato amigável", como foi classificado naquela época, sobre o arrendamento do edifício. O clube ficou com as luvas pagas pelo empresário - que seria na faixa de R$ 15 milhões, valores não confirmados pelas partes - e reassumiu o prédio.
Em leilão realizado pelo clube em dezembro do ano passado, a RJZ Cyrela - braço carioca do grupo Cyrela - arrematou a "sede do Morro da Viúva". O contrato e a escritura foram assinados em junho. O clube recebeu R$ 26 milhões e ainda permaneceu proprietário de 30% do empreendimento.
De acordo com Marcelo Parreira, gerente-geral de incorporação da RJZ Cyrela, as obras começaram há duas semanas e serão concluídas em maio de 2021. Na etapa atual, paredes estão sendo demolidas para transformar as unidades de três quartos e dois banheiros em unidades de três suítes.
A comercialização que começa hoje vai ofertar as unidades com valores de R$ 2,8 milhões a R$ 3 milhões, a depender do andar e da vista. As plantas terão de 152 a 183 metros quadrados.
"Não existe oferta de imóveis modernos com esse padrão na vizinhança. Existem imóveis grandes, mas feitos para outra época. Acreditamos que nossos clientes estão a um raio de um quilômetro e meio do prédio. Foram mais de 900 interessados nas últimas duas semanas", disse Parreira.
A fatia de 30% que permanece com o Flamengo corresponde a 45 apartamentos e não será vendida agora. Os recursos já estariam carimbados para as obras do Centro de Treinamento (CT) da equipe de futebol profissional do clube, no Ninho do Urubu, localizado em Vargem Grande, na zona oeste da cidade.
Claudio Hermolin, presidente da Ademi, diz que as empresas do setor já realizaram uma série de grandes promoções para escoar os estoques de imóveis. "A demanda nunca deixou de existir, mas estava represada com a queda do poder aquisitivo e da confiança, o nível de desemprego, escassez de crédito e incertezas da economia", afirmou o presidente da Ademi-RJ.
Segundo dados da Ademi-RJ, em 2018, até setembro, foram lançados 30 empreendimentos no Rio de Janeiro, sendo sete na zona sul, com total de 366 unidades e valor geral de lançamento (VGL) de R$ 464,3 milhões. Os números não incluem o lançamento do Rio by Yoo.